Por Philippe Grelard e Eric Randolph

Três aviões, 270 toneladas de equipamento, 800 metros quadrados de palco: os números do enorme espetáculo gratuito da Madonna no Rio, em maio deste ano, parecem que vieram de outra época. Atualmente, os grandes artistas, no geral, estão menos interessados em grandes logísticas, vistas como mais poluentes.

Os Coldplay, que foram a atração principal do festival Glastonbury na Inglaterra, anunciaram recentemente que conseguiram uma redução de 59% nas emissões de carbono na sua turné mundial, em comparação com a turné de 2016 e 2017.

A banda tomou medidas inovadoras incluindo painéis solares e uma pista de dança especial que gera eletricidade através do movimento da audiência.

Mesmo assim, a banda foi alvo de críticas. O grupo ainda voa em aviões privados e, em 2022, anunciou uma parceria com a gigante petrolífera finlandesa Neste.

Ainda que Neste tenha prometido ajudá-los a implementar o uso de biocombustíveis sustentáveis, o grupo da campanha Transport and Environment afirmou que os Coldplay estavam a ser "usados" pela empresa petrolífera como "idiotas úteis para lavagem verde".

Embora o impacto geral seja difícil de medir, um estudo realizado pelo Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford, em 2010, estimou que só a indústria britânica gerava 540 mil toneladas de emissões de carbono anualmente.

O grupo climático Clean Scene fez as contas e calculou que os mil melhores DJs realizaram 51.000 voos em 2019, o equivalente a 35.000 toneladas de emissões de CO2.

Compromissos climáticos

Como resultado, todos os grandes festivais têm agora compromissos e iniciativas climáticas, desde programas de compostagem e partilha de automóveis em Coachella, na Califórnia, até o uso de energias renováveis em Glastonbury.

Um festival que tomou a liderança na iniciativa foi o "We Love Green", em Paris, "Nós Amamos o Verde", em tradução literal.

Cerca de 110 mil participantes do festival apareceram no evento do mês passado para ver artistas, incluindo Sza, que viajou "quase sem equipamento", segundo Marianne Hocquard, diretora de desenvolvimento sustentável do festival.

Hocquart diz que isso dependia do festival garantir que a banda tivesse grande parte do equipamento necessário para os seus artistas.

Outros tomaram medidas radicais: o festival Bon Air, em Marselha, cancelou o espetáculo do DJ I Hate Models este ano, depois de descobrir que este voaria num jato privado para o festival.

Muitos eventos agora encorajam o público a usar meios de transporte mais sustentáveis.

"We Love Green" lançou uma parceria com a Federação Francesa de Ciclistas para disponibilizar comboios de bicicletas para a edição deste ano, e disse que 14% do seu público viajou sobre duas rodas, apesar do tempo adverso, contra 8% no ano passado.

Ainda há, todavia, limites em relação ao que pode ser feito.

Quando Taylor Swift atuou em Paris, em maio deste ano, o gabinete do autarca da cidade disse que houve um aumento nas chegadas de jatos privados nos aeroportos locais.

Os operadores de jatos privados têm participado em eventos de entretenimento, como festivais ou o torneio de futebol Euro 2024, para impulsionar os seus negócios.

Um exemplo recente é a operadora de jatos privados KlasJet, que afirmou num comunicado de imprensa: “Quando está a viajar para um evento incrível como o Euro 2024, a última coisa que quer é que a sua experiência seja arruinada por um voo atrasado."