O barco moliceiro e a arte da carpintaria naval de Aveiro foram inscritos no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, como registo de salvaguarda urgente, segundo anúncio publicado hoje em Diário da República.

A inscrição foi feita sob proposta do Departamento de Museus, Monumentos e Palácios da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).

Em comunicado, a DGPC indicou reconhecer "a necessidade de salvaguarda urgente a este saber-fazer, que atualmente é apenas praticado de forma regular por cinco mestres construtores e por um pintor de moliceiros, [sediados] nos concelhos de Estarreja e Murtosa, não se tendo conseguido atrair novos aprendizes nos anos mais recentes".

De acordo com o anúncio, a inscrição tem em conta “as atuais características do contexto de transmissão do saber-fazer, que acarreta riscos passíveis de comprometerem a sua continuidade”.

Foram também critérios para a medida “a importância da manifestação enquanto reflexo da identidade da comunidade, grupos e indivíduos que a praticam e se encontram associados”, bem como “a importância da sua dimensão histórica, social e cultural na área territorial em que se insere”.

A Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA) formalizou, em abril, junto da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês), a candidatura do barco moliceiro e a construção naval na Ria a Património Cultural Imaterial daquela entidade.

O processo foi lançado em 2019 e contou com o apoio técnico do Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo que sustenta o caráter “altamente diferenciador” da embarcação na cultura ribeirinha a nível internacional.

No entanto, para a formalização da candidatura junto da UNESCO, o primeiro passo teria de ser a inscrição no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial, um processo aberto em março deste ano, por pedido da CIRA.

Um dos aspetos singulares dos barcos moliceiros são as pinturas da popa e da ré: “a proa é a parte monumental do moliceiro, em que figuras, desenhos e legendas são exclusivos, sem igual em qualquer tipo de navegação conhecido”, escreveu Jaime Vilar, em livro dedicado àquela embarcação.

Nesse trabalho classifica as legendas da proa em “satíricas, humorísticas e eróticas”, “religiosas”, “românticas, brejeiras e pícaras”, “profissionais, morais e históricas”.

O mesmo autor, baseando-se em dados colhidos junto dos artífices, descreveu que um moliceiro mede, em média 15 metros de comprimento […], desloca cerca de cinco toneladas e tem o fundo plano e de pouco calado, pormenor que lhe permite navegar por onde barcos de quilha não passam”.

Na década de 70 do século XX estavam registados três mil barcos moliceiros a operar na Ria de Aveiro, sendo que subsistem apenas 50 embarcações, metade das quais afetas à exploração turística nos canais urbanos da ria.

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