Os pescadores indígenas da região colombiana de Guainía reúnem-se diariamente na fazenda de Ernesto Rojas para vender-lhe pequenos e coloridos tesouros vivos de uma selva banhada por rios.

Rojas é um dos principais comerciantes de peixes ornamentais da cidade de Inírida, capital do departamento de Guainía. Há 50 anos que ele se dedica a este negócio, que descreve como "muito bonito" e “arriscado”.

Rojas compra peixes dos abundantes rios dessa região - cujo nome na língua indígena significa terra de muitas águas - e que abrigam uma riqueza natural única na Colômbia, que recebe a COP16 sobre biodiversidade desde segunda-feira.

O comerciante mantém os peixes em tanques com grades para protegê-los de pássaros predadores. Em seguida, vende-os a exportadores localizados em Bogotá, de onde os peixes viajam para as principais cidades dos Estados Unidos, Ásia e Europa.

Rojas fala cercado por pequenos sacos plásticos cheios de peixes que nadam para lugar algum, apressados e em círculos. Os seus assistentes usam um cilindro para injetar oxigénio pressurizado em cada saco para manter os animais vivos durante o voo de uma hora até Bogotá.

"A joia da coroa"

Entre a antologia de peixes estão as sapoaras (Semaprochilodus laticeps), que são “bonitas, mas mal-humoradas”.

Também os minúsculos cardeais, que flutuam silenciosamente em grupos e parecem emitir uma luz fluorescente. E, é claro, o escalar (também conhecido como acará-bandeira), “a joia da coroa”, um bumerangue com barbatanas longas e finas presas a um corpo redondo, quase plano, pouco maior que um porta-copos.

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Guainía Um funcionário transporta peixes ornamentais em sacos antes de serem embalados para exportação em Inirida, na Colômbia, em 8 de agosto de 2024 créditos: AFP/Luis Acosta

A espécie Altum, que só ocorre nestas águas, tem veias pretas e vermelhas que as tornam procuradas por colecionadores. Rojas adquire-as pelo equivalente a dois dólares (1,85 euros na cotação atual). Depois de passar por vários intermediários, elas chegam ao mercado americano, onde valem até 150 dólares cada (cerca de 140 euros na cotação atual).

Sustentabilidade e sustento

A região de Guainía responde por 60% das 521 espécies autorizadas para venda, de acordo com a Autoridade Nacional de Aquicultura e Pesca (Aunap), que regulamenta o negócio na Colômbia. A entidade registou 526 toneladas de peixes exportados em 2023, representando uma receita de cerca de 6 milhões de dólares (cerca de 5,5 milhões de euros).

Numa cidade que está desconectada da rede rodoviária nacional e só pode ser alcançada de avião ou após uma viagem de vários dias pelos rios, a pesca ornamental é “um dos setores mais fortes da economia, do aparato produtivo local”, disse à AFP Oscar Javier Parra, diretor da autoridade ambiental local (CDA).

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Guainía Ernesto Rojas mostra peixes ornamentais num aquário antes de serem embalados para exportação em Inirida, na Colômbia, em 8 de agosto de 2024 créditos: AFP/Luis Acosta

Para garantir a “sustentabilidade” desta pescaria, as autoridades estabelecem um defeso de sete semanas em cada ano, geralmente entre o início de abril e junho. Para algumas espécies, como o escalar, o período de defeso começa várias semanas antes.

Pesca supervisionada

O Estado também garante que algumas espécies consideradas vulneráveis, como as piranhas e o enorme e colorido tucunaré, não sejam extraídas das águas escuras e ricas em minerais do rio Inírida e dos seus afluentes.

Esta carga química na água será parcialmente responsável pelas cores específicas do Escalar Altum e de outras espécies exclusivas da região.

“Ver um animal perder a sua liberdade para o gozo e o prazer de uma pessoa” é uma afronta aos ativistas dos direitos dos animais, reconhece Parra.

No entanto, o diretor da autoridade ambiental enfatiza que a pesca ornamental - que é feita de forma artesanal, com pequenas redes - é uma atividade de baixo impacto numa região em que o principal motor económico é a mineração ilegal de ouro, que liberta enormes quantidades de mercúrio nas águas todos os anos.

“Se esta mercadoria, que é o peixe ornamental, fosse proibida, seria pior” para o meio ambiente, diz Parra.