O investigador Max Chavarría, da Universidade da Costa Rica, tenta responder a essa pergunta depois de descobrir um bioma único de insetos, fungos, algas e bactérias na pelagem desses peculiares mamíferos tropicais, num delicado equilíbrio que previne doenças.
"Se você vê o pelo de um bicho-preguiça, você vê movimento, você vê traças, diferentes tipos de insetos (...), nós temos um habitat muito amplo e, claramente, quando há coexistência de muitos tipos de organismos, deve haver também sistemas que os controlam", explicou Chavarría à AFP.
O investigador verificou que são "microrganismos capazes de produzir antibióticos que permitem regular a presença de agentes patogénicos na pelagem" das preguiças.
"São bactérias pertencentes à ordem dos micrococcales, principalmente dos géneros Rothia e Brevibacterium", especifica o investigador, cuja descoberta foi publicada na revista científica Environmetal Microbiology.
Depois de descobrir esses antibióticos nos animais, Chavarría questiona se a sua descoberta pode ter utilidades medicinais para ajudar a neutralizar a resistência aos antibióticos que os humanos desenvolvem.
Uma atração turística
A preguiça faz parte do imaginário coletivo na Costa Rica, um emblema nacional e uma atração natural para os turistas.
Existem duas espécies no país: Bradypus variegatus, ou preguiça de três dedos, e Choloepus hoffmanni, preguiça de dois dedos.
A população de ambas as espécies está em situação de "redução", segundo a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza.
Também existem preguiças nas florestas da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru e Venezuela.
Na área caribenha da Costa Rica, fica localizado o santuário de preguiças Cahuita, criado pela americana Judy Avey e o seu falecido marido costarriquenho, Luis Arroyo.
Feridas mas sem infeções
No santuário, as preguiças feridas por humanos ou outros animais são reabilitadas.
Chavarría recorreu a Avey para utilizar alguns animais nas suas pesquisas. Os animais do local estavam em reabilitação por terem sido eletrocutados por cabos de alta tensão, atropelados por veículos, atacados por cães ou separados das mães quando crias.
"Nunca recebemos uma preguiça doente (...). Algumas têm queimaduras de cabos de alta tensão e os seus braços são destruídos", diz Avey. Entretanto, "elas não têm infeção (...), isso nos diz que há algo no ecossistema do corpo deles", acrescenta.
Chavarría cortou o pelo do dorso de 15 animais da mesma espécie para examinar as amostras em laboratório, cultivá-las e confirmar a sua hipótese.
O investigador lançou o estudo em 2020 e, três anos depois, já possui "definido" 20 microrganismos "candidatos" a serem identificados. No entanto, antes mesmo de pensar na aplicação humana, ainda faltam muitas etapas.
"Antes de pensar em uma aplicação na saúde humana, é importante primeiro entender o sistema e quais são os tipos de moléculas que estão envolvidas", diz o estudioso, que acredita que a natureza é um laboratório natural.
"A busca de novas estratégias para combater a resistência aos antibióticos ficou nas mãos da academia", destaca Chavarría.
A Organização Mundial da Saúde estima que até 2050 a resistência a antibióticos poderá causar 10 milhões de mortes por ano.
"É por isso que projetos como o nosso podem contribuir para encontrar novas moléculas que possam, a médio ou longo prazo, ser usadas nessa batalha que estamos a travar de resistência aos antibióticos", acrescenta.
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