No Istmo de Tehuantepec, uma estreita faixa do território mexicano na qual 300 quilómetros separam o Oceano Pacífico do Atlântico, está a ser construído um corredor interoceânico como alternativa ao Canal do Panamá, o que gera expectativas económicas, mas também preocupações ambientais.
O projeto, pensado para complementar o Canal do Panamá, ocorre num contexto de popularidade do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, cujo governo investiu US$ 2,5 mil milhões de euros em comboios de carga e turismo para ligar dois portos que foram recentemente renovados.
De acordo com o Executivo mexicano, o corredor poderia acrescentar entre três e cinco pontos percentuais ao PIB mexicano.
No entanto, o projeto é desenvolvido numa região com numerosos povos indígenas e uma vasta riqueza cultural. As opiniões estão divididas entre os que esperam que a obra atraia investimentos e aumente o consumo e os que acreditam que facilitará as atividades do crime organizado, além de gerar um enorme impacto social e ambiental.
"É um projeto magnífico!", afirma Angélica González, uma artesã de 42 anos de Ciudad Ixtepec (Oaxaca, sul), uma das paragens do comboio que liga os portos de Salina Cruz, no Pacífico, ao de Coatzacoalcos, na costa atlântica (Veracruz, leste).
O negócio
Embora o turismo gere expectativas, o projeto é sobretudo logístico e comercial.
O Corredor Interoceânico do Istmo de Tehuantepec (CIIT, na sigla em Espanhol) espera movimentar 300 mil contentores de carga em 2028, de acordo com dados oficiais, e aumentará para 1,4 milhões — uma média de cerca de 33 milhões de toneladas de carga, segundo estimativas da AFP — quando alcançar a total capacidade operacional em 2033.
Em 2022, o Canal do Panamá, que foi muito afetado por uma seca, registou o trânsito de 63,2 milhões de toneladas de carga em contentores, segundo a sua administração. Estima-se que isto represente quase 3% do comércio mundial, de acordo com a mesma fonte.
Para Adiel Estrada, coordenador de operações do CIIT — que será administrado pela Marinha mexicana —, a "espinha dorsal do corredor" é que "se complementa ao Canal do Panamá".
Com a licitação dos cinco primeiros parques industriais do corredor, o governo espera atrair 6,4 mil milhões de euros em investimentos.
Preocupação
As obras têm caráter monumental, como a de ampliação do porto da cidade de Salina Cruz, cujo novo quebra-mar já ganhou mil metros em direção ao mar e se estenderá até 1.600m, necessitando de 5,5 milhões de toneladas de pedra.
Os projetos também funcionarão como novas rotas migratórias, como em Ciudad Hidalgo, na fronteira com a Guatemala, por onde chegam migrantes sem documentos e onde se conectará ao CIIT com o comboio que chegará a Ixtepec. Outro ramal o ligará ao turístico Comboio Maia, também obra de López Obrador.
Mas para Juana Ramírez, ativista da organização indígena UCIZONI, o projeto é problemático. "Como vai ficar o istmo? Contaminado, com poucas espécies animais e vegetais e uma violência crescente", prevê esta indígena da etnia Mixe, do município de San Juan Guichicovi.
A UCIZONI afirma que a rota não cumpriu as normas internacionais sobre a consulta aos indígenas que vivem na região, além de ter apresentado estudos ambientais frágeis e deslocado comunidades nativas.
Em julho, a ONG Centro Mexicano de Direito Ambiental (CEMDA, na sigla em espanhol) relatou 21 casos de intimidação, 11 de violência física e três homicídios contra defensores do território entre outubro de 2022 e julho de 2023, todos ligados à CIIT. A maioria das vítimas eram indígenas.
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