A decisão foi tomada na 43ª reunião da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que acontece até quarta-feira, dia 10, em Baku, capital do Azerbaijão.

"A Representação da UNESCO no Brasil celebra a inscrição do novo sítio brasileiro na Lista do Património Mundial. Paraty já é integrante da Rede de Cidades Criativas da UNESCO na categoria gastronomia e, agora, mostra a riqueza da diversidade local se tornando património mundial misto, ou seja, tanto cultural quanto natural", comemora a diretora e representante da UNESCOA no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto.

"Formada pelo intercâmbio das culturas indígena, africana e caiçara que se expressam nos bens culturais da cidade, Paraty engloba uma fusão de caraterísticas próprias do património material e do imaterial. (...) Ao unir-se à Ilha Grande, o sítio torna-se ainda mais representativo com áreas de beleza natural excecional", acrescenta ela.

A presidente do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, comemorou a distinção.

"Nós, orgulhosamente, voltamos para casa com este título na bagagem. Em Paraty e Ilha Grande, uma área com diversas reservas ecológicas, vemos de maneira excecional e única uma conjunção de beleza natural, biodiversidade ímpar, manifestações culturais, um fabuloso conjunto histórico e importantes testemunhos arqueológicos para a compreensão da evolução da humanidade no planeta Terra", declarou.

Trata-se do primeiro lugar misto (património cultural e natural) do Brasil, que conta agora com 22 localidades na lista de sítios reconhecidos pela UNESCO.

Das 1.092 propriedades inscritas na Lista do Património Mundial, apenas 38 são mistas.

Riqueza natural e histórica

A área reconhecida abrange 149 mil hectares e inclui o centro histórico de colónias de Paraty (fundado em 1667 e declarado património histórico no Brasil em 1958) e quatro reservas naturais ao redor, incluindo a Serra de Bocaina - cujo pico máximo atinge 2.088 metros de altitude - e a ilha paradisíaca de praias da Ilha Grande, uma grande atração turística da chamada "Costa Verde" carioca.

O governo brasileiro concentrou a sua candidatura na coexistência de culturas locais - indígenas, quilombolas (descendentes de negros escravizados) e comunidades costeiras de pescadores e artesãos - com rica biodiversidade.

Segundo o Iphan, 85% da Mata Atlântica - um bioma que se estende por toda a costa brasileira - é preservada nessa área.

A candidatura listou 36 espécies de plantas consideradas raras, sendo 29 endémicas, ou seja, exclusivas daquela região.

Espécies ameaçadas, como a onça-pintada, a anta, ou o macaco muriqui, principal primata da América do Sul, vivem nesta região, que também concentra 45% das aves e 34% dos sapos que vivem nas florestas atlânticas do Brasil.

O ambiente da área reconhecida pela UNESCO também inclui uma imensa baía com 187 ilhas revestidas de vegetação nativa e uma rica diversidade marinha, que, apesar de não fazer parte do principal núcleo de proteção, terá regras para restringir a atividade humana e evitar o impacto no meio ambiente.

Entre os tesouros históricos de Paraty e da Ilha Grande está um trecho da Estrada do Ouro, construída por escravos entre os séculos XVII e XIX, por onde transportavam os metais preciosos extraídos no interior de Minas Gerais até o porto de Paraty, destinados a Portugal.

Antigas fazendas, fortificações, adegas de cachaça e sítios arqueológicos fazem parte do circuito histórico.

A cidade, de cerca de 37.000 habitantes, recebe anualmente a Feira Literária Internacional (Flip) e outros eventos culturais.

Segundo as autoridades locais, o reconhecimento servirá para melhorias estruturais na cidade, como o sistema de saneamento, que ainda é precário.

É a segunda vez que o Brasil indica Paraty como candidato ao Património Histórico da Humanidade.

A vez anterior, sem sucesso, foi em 2009.

Outros sítios

A UNESCO também inscreveu esta sexta no seu Património o conjunto mesopotâmico da Babilónia, no Iraque, um país devastado há 40 anos pela guerra e onde os extremistas destruíram vários tesouros da Antiguidade.

As autoridades arqueológicas iraquianas conseguiram convencer o júri a incluir na lista este conjunto de 10 quilómetros quadrados dos quais apenas 15% foram escavados - localizado a 100 quilómetros ao sul de Bagdade.

Segundo as autoridades iraquianas, Babilónia, com mais de 4.000 anos, "era a maior cidade habitada da história antiga (...) e os babilónios eram a civilização da escritura, administração e ciência".

Da mesma forma, o Parque Nacional Vatnajokull, na Islândia, o maior da Europa e com uma paisagem de "fogo e gelo", passou a fazer parte da lista do Património Mundial.

Formado por vulcões e rodeado por campos de lava, o parque também é o lar do maior glaciar da Europa.

A área protegida com cerca de 14.500 quilómetros quadrados - ou 14% de todo país - é "um exemplo excecional tanto da interação do gelo e do fogo quanto da separação das placas tectónicas terrestres na Terra", de acordo com a UNESCO.