Com o telemóvel na mão e uma mala de uma marca de luxo, Laia Falcó passeia pelas ruas da capital Andorra-a-Velha para alimentar a sua conta no Instagram, onde posta imagens de restaurantes e lojas de vestuário.
A espanhola de 39 anos e com 170 mil seguidores nesta rede social, instalou-se em Andorra no início de 2022, poucos anos depois de uma primeira estadia.
Falcó justifica a decisão por causa da "qualidade de vida e segurança" na capital situada a uma altitude de 1.023 metros acima do nível do mar.
Mas também reconhece as razões económicas: "Em termos fiscais é muito vantajoso. Há uma grande diferença em relação aos países que nos cercam".
Tributação atrativa
Em Andorra, o imposto sob o rendimento é de apenas 10%, a mesma percentagem que o das empresas, e o IVA é de apenas 4,5%. A tributação é muito menor e menos progressiva do que a dos países vizinhos.
"É uma política fiscal atrativa, mas não somos um paraíso fiscal", defende o secretário de Estado para a Economia, Eric Bartolomé, em declarações à AFP.
A União Europeia e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) retiraram Andorra da lista de paraísos fiscais em 2018, embora algumas ONG, como a Oxfam, considerem que continua a ser.
Segundo Bartolomé, "embora a tributação tenha um papel importante, o nível de vida e a proximidade com França e Espanha têm maior influência na chegada" destes profissionais ligados ao universo digital.
A imigração de jovens com rendimentos elevados acelerou durante a pandemia de COVID-19.
Foi durante este período que "El Rubius", um dos produtores de conteúdo mais conhecidos no YouTube e Twitch nos países de língua espanhola, e que conta com até 40 milhões de seguidores, decidiu mudar-se para o país.
"Depois disso, houve uma espécie de efeito bola de neve. Alguns descobriram Andorra como um país vizinho de Espanha e que tem condições de vida que consideram excelentes", afirma Bartolomé.
'Traders", "influencers" e empresários do comércio digital seguiram o exemplo de "El Rubius", cuja decisão gerou polémica em Espanha.
Também foram viver em Andorra estrelas do desporto, como o motociclista espanhol Joan Mir ou o francês Fabio Quartararo.
Com estes novos moradores, Andorra pretende "diversificar a sua economia altamente dependente do turismo, da neve e do comércio transfronteiriço".
De Dubai a Andorra
Várias agências foram criadas para ajudar os novos residentes a mudarem-se para Andorra.
"A tributação é atrativa, mas recebo muitos pedidos por questões de segurança ou qualidade de vida", diz a francesa Virginie Hergel, que mora no principado há 22 anos e que criou a agência Set up Andorra.
Um dos clientes de Hergel é Vincent Huet, 29 anos, um designer de videjogos que chegou ao pequeno país no início do ano.
"A tributação não teve influência direta na minha decisão de vir para Andorra", garante Huet, embora reconheça que, sem as condições fiscais do principado, a sua empresa "não poderia pagar um salário tão elevado".
Depois de ter atraído "influencers" e "gamers" profissionais espanhóis, Andorra seduz cada vez mais os franceses que se dedicam a estas atividades, e que até agora escolhiam o Dubai para morar.
"Muitos "youtubers" franceses procuram-se. Até agora estavam no Dubai, mas começaram a ficar cansados e a pensar vir para Andorra", destaca Hergel.
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