Sanmin Cheang, responsável pela empresa fornecedora de peixe Iau Ieng, viu-se obrigada a repensar o negócio quando Macau anunciou, em agosto, a proibição da importação de produtos de 11 províncias japonesas, na sequência da libertação das águas radioativas tratadas da central de Fukushima.

A abastecer duas dezenas de restaurantes no território, a Iau Ieng recorreu então a Dalian, cidade costeira no nordeste chinês, para substituir algum do peixe que chegava desses lugares riscados da lista pelas autoridades.

Mas "não foi possível substituir alguns produtos do Japão" e, em Dalian, “não havia variedade suficiente”, admite Sanmin, em declarações à Lusa durante o Festival de Gastronomia de Macau, a decorrer no território até 03 de dezembro.

A meio da tarde, já várias pessoas se encontram no recinto deste evento gastronómico, na praça do lago Sai Van, mas ninguém à frente do espaço do restaurante de Sanmin, o Woshaku.

Hou Au, parceiro nesta sociedade, contabiliza o impacto da proibição, anunciada pelas autoridades: “O negócio caiu cerca de 30%”, tendo entretanto "registado melhorias na ordem dos 10%".

Sanmin lana outro valor para cima da mesa: Antes da proibição, um cliente comprava à empresa 12 vezes mais peixe do que atualmente.

Também a participar no festival gastronómico, está o estabelecimento Emperor Ramen. A venda do ramen, sopa de massa de estilo japonês à base de carne, continuou a fazer-se sem problemas, explica o proprietário, Ho Wai Chong.

“Mas tenho amigos que relataram que o sashimi [peixe cru fatiado] e o sushi [peixe cru com arroz] tiveram quedas na ordem dos 60 a 70%”, refere, indicando ainda que "reservas de 15 mesas por dia" caíram "para três ou quatro".

Este cenário descendente é confirmado por números divulgados esta semana pela Direção dos Serviços de Estatística e Censos, que indicam um decréscimo de 27,9% do volume de negócios dos restaurantes japoneses e coreanos em setembro.

Hou Au admite concordar com as restrições impostas, embora questione o impacto da descarga na saúde marítima: “Proibir tantos produtos teve um impacto enorme nos restaurantes japoneses. Era necessário ir tão longe?”

“Os restaurantes japoneses pedem ajuda”, apela Sanmin, para quem resta “agora esperar que as pessoas esqueçam" o que se está passar.

Neste sentido, o dono do Emperor Ramen realça que a população continua a evitar a cozinha japonesa, num reflexo que "é psicológico".

Apesar de o Governo ter anunciado fazer inspeções às lojas de Macau, o receio da população continua a condicionar a recuperação do segmento, admite o presidente da União das Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas de Macau.

“As pessoas precisam de recuperar a confiança”, considera Chan Chak Mo, defendendo que, “a longo prazo, as coisas vão melhorar porque as pessoas tendem a esquecer".

Contactado pela Lusa, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) indicou que intensificou nas fronteiras os testes de radiação aos bens alimentares japoneses importados e reforçou a inspeção à venda deste tipo de produtos.

O departamento do Governo, que não respondeu se tem alguma estimativa sobre quando levantar a interdição, disse ainda que "recolhe diariamente amostras de alimentos" em estabelecimentos de venda e restaurantes e que não foram encontradas anomalias.

Em 22 de agosto último, horas após Tóquio anunciar que as águas de Fukushima iam começar a ser lançadas no oceano, Macau proibiu a importação de vários produtos, incluindo marinhos, de regiões do norte e centro da principal ilha do Japão.

O continente chinês e Hong Kong tomaram decisões semelhantes em resposta à descarga, aprovada pela Agência Internacional da Energia Atómica, e que poderá durar até 2050.