A banca improvisada de Palmira está na Praça da Juventude rigorosamente às 05:00 (04:00 em Lisboa), quando a azáfama de Maputo já ganhou forma e já há clientes que esperam pelo salgado que é base do pequeno-almoço - pão e ‘badjia’.
“Todos vêm aqui, desde estudantes até pessoas que trabalham na cidade. Todos passam por aqui nas manhãs”, conta à Lusa Palmira, 48 anos, enquanto retira o primeiro lote de pasteis de feijão da frigideira no seu pequeno fogareiro, quase sempre em brasa.
Num dos maiores quadros vivos da economia informal, a banca improvisada está mesmo à beira da estrada e, embora sujeita à poeira da rua, a higiene é uma garantia que a comerciante dá para ganhar a confiança dos clientes.
“Uma das coisas que me fazem apreciar as ‘badjias’ dela é a higiene. Quando passo por aqui e a vejo preparar as ‘badjias’, dá-me sempre vontade de comprar”, diz à Lusa Tamires Wolder, uma estudante entre os vários clientes fieis.
Num frenesim contagiante, Palmira frita algumas ‘badjias’, moendo, ao mesmo tempo, mais feijão, alho, cebola e tempero no alguidar, atenta, entretanto, à multidão.
São dois meticais (0,02 cêntimos de euros) por cada ‘badjia’, diz a comerciante ao motorista de um furgão de transporte de passageiros que quer tomar o pequeno-almoço, antes de começar a trabalhar.
“Esta é a única alternativa em que eu pensei para sustentar a minha família desde que o meu marido faleceu”, explica Palmira, mãe de três meninos.
Nas manhãs de Maputo, as bancas improvisadas de venda de pão e ‘badjias’ são comuns tanto nos subúrbios como na cidade, negócios de mulheres sem rendimentos que procuram sustento na economia informal, da qual vive a maior parte dos moçambicanos.
Isabel Fernando, 19 anos, é outra mulher que se atirou para o negócio e que tem a sua banca improvisada há quase dois anos estrategicamente colocada à porta de uma padaria no bairro Polana Caniço, nos subúrbios de Maputo.
“Os meus clientes são as pessoas que compram pão aqui na padaria. São várias pessoas e, sim, dá para sustentar os meus estudos”, explica a jovem, enquanto arruma a bacia ainda cheia de 'badjias' que hoje tem de vender.
Não muito longe da Polana Caniço, no bairro de Malhazine, a banca da “dona Hortência” é a referência para quem procura o salgado.
“Eu gosto bastante das `badjias´ daqui porque são baratas e, ao mesmo tempo, são boas. É a minha refeição de todas as manhãs”, conta à Lusa Mário João, um jovem pedreiro que acaba de rechear um pão inteiro de 200 gramas com as “badjias mais famosas” de Malhazine: a banca de Hortência Gabriel, 49 anos.
Dona Hortência, como é ali conhecida, vende os pastéis de feijão há mais de 20 anos e, apesar de admitir que a base da receita é de origem indiana, considera que já fazem parte do cardápio moçambicano.
“Nós [em Moçambique] demos o nosso toque à `badjia´. Há vários clientes estrangeiros que vêm aqui à minha banca para comprar e gostam. Até há jogadores de futebol que passam por aqui e que também compram. Hoje a `badjia´ é uma das nossas marcas, como moçambicanos”, conclui Hortência Gabriel.
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