Já sabem como o João gosta de planear surpresas, e eu já sei como ele acaba quase sempre por deixar escapar alguma informaçãozinha, mas desta vez conseguiu mesmo aguentar o silêncio até ao último minuto. Ou seja, quando me levantei nessa sexta-feira, para mim comum, estava preparada para seguir a minha rotina habitual de trabalho. Nada disso! 10 minutos depois do despertador tocar estava a mandar mensagem à minha chefe (cúmplice!) e no minuto seguinte já estava aos pulinhos, a preparar uma mala para destino incógnito. Um “Volto Já” foi o que ficou na porta do meu gabinete por esses dias.

O início da viagem fez-se de carro, até ao aeroporto. A incógnita mantinha-se e aí, o suspense não parava de aumentar, tal era o número de possibilidades. Eu ia fazendo contas, suposições, lançando apostas, mas na verdade só descobri onde íamos no momento de entrar no avião: Estrasburgo, aí vamos nós!

Confesso que não sabia grande coisa sobre a cidade, mas não fazia mal, o meu raptor já tinha a lição bem estudada. Confesso até que, com frequência, me esqueço que Estrasburgo é francesa e penso nela como uma cidade alemã. O que não é difícil de compreender, uma vez que, além de estar próxima da fronteira entre os dois países, já foi, por diversos anos, em diversos períodos da história, uma cidade alemã, tal como a região onde está inserida, a Alsácia. Aliás, quem não se lembra de ouvir falar da disputa da Alsácia e Lorena nas aulas de História do ciclo? Estando lá, é ainda mais fácil confundi-la com uma cidade alemã, tal é a influência daquele país na arquitectura, gastronomia e costumes de Estrasburgo e de toda a Alsácia em geral.

O aeroporto de Estrasburgo é bastante próximo da cidade, o que torna o acesso entre estes dois pontos muito simples e rápido. Nós optámos por usar o comboio para este trajeto, uma vez que existe uma paragem mesmo junto ao aeroporto Entzheim e dali são 10 minutos, mais coisa menos coisa, até à estação principal de Estrasburgo. Esta é também muito próxima do centro da cidade, o que permite lá chegar facilmente, a pé ou de tram, mas preferimos caminhar para irmos já absorvendo a atmosfera da cidade. O nosso hotel ficava localizado na Praça Kléber, uma das principais praças da cidade, mas nesse dia, o bom tempo só nos deu mesmo tempo para nos abrigarmos no hotel antes de soltar uma bela chuvada. Como chegámos ao final da tarde, acabámos por sair só para jantar, esperando melhor tempo nos dias seguintes.

No dia seguinte, sábado, o dia começou solarengo e aproveitámos para fazer o reconhecimento da cidade. Uma cidade que não parecia mesmo nada a do dia anterior, cheia de sol, vida, gente e esplanadas. Começámos a nossa visita pela Catedral Notre Dame, com o seu relógio astronómico, ao estilo do de Praga, mas colocado no interior da igreja. Quase diariamente, com exceção em dias de missa, pelas 12h30 é possível assistir a um pequeno espectáculo com intervenção das diferentes figuras do relógio. Esse espetáculo tem o custo de 2€ e inclui ainda um breve filme explicativo sobre a construção do relógio com início às 12h. Devem entrar na catedral um pouco antes dessa hora, por um acesso lateral, uma vez que às 11h30 se encerram as portas principais, para evitar “penetras” no espetáculo do relógio.

Perto da Catedral, Estrasburgo
Perto da Catedral, Estrasburgo Perto da Catedral créditos: Volto JÁ

Além do relógio, a Catedral, merece por si só uma visita, tal é a imponência do edifício e dos belos vitrais que a decoram. Íamos aproveitar ainda para subir à sua torre, contudo, descobrimos que no dia seguinte, primeiro domingo de cada mês, a entrada em todos os museus da cidade é gratuita, o acesso à torre inclusive (custo de 5€), pelo que voltámos a guardar as carteiras e decidimos então deixar essas visitas para o dia seguinte. Existe um passe turístico da cidade que, por 18,90€ permite o acesso a várias atracões e descontos em muitas outras, pelo que se forem noutra altura do mês, compensa bastante.

Como o meu raptor já se tinha informado previamente, sabia que havia bem perto de Estrasburgo uma outra cidade digna de visita, Colmar, facilmente acessível de comboio. E foi para lá que seguimos nessa tarde, mas antes ainda houve tempo para provar um prato típico da Alsácia, numa das esplanadas em frente à catedral. Salsicha grelhada com salada de batata. Percebem porque é fácil dar por nós a achar que estamos na Alemanha?

Apanhámos comboio na estação principal de Estrasburgo, e, por ser fim de semana, conseguimos um preço promocional, o que foi ótimo, uma vez que dois bilhetes de ida e volta ficariam por 52€. Sendo assim, pelo bilhete família de fim de semana, um bilhete único que permite viagem até 5 pessoas durante 24horas em comboios e trams, pagámos 37€.

A meio da viagem, que dura cerca de 40 minutos, adivinhem quem regressou…a chuva, pois… felizmente não ficou por muito tempo, mas o suficiente para chegarmos a Colmar e nos meter imediatamente no mini trem que faz visita turística à cidade. No fim de contas, até gostamos bastante e, por 6,5€ ficámos a conhecer os principais pontos da cidade e com direito a audioguia em português.

Entretanto a chuva deu tréguas e deixamo-nos vaguear pela bela Colmar, de varandas floridas, demorando-nos sobretudo na “Petite Venise”, super romântica e charmosa. Ficámos para jantar e, mais uma vez, optámos por um restaurante tradicional para provar a gastronomia típica da região, Le Fer Rouge. Fica aqui a recomendação para visitar Colmar, uma cidade de fábulas, onde se preserva a essência da Alsácia.

Colmar
Colmar Colmar créditos: Volto JÁ

O dia seguinte foi então dedicado a visitar Estrasburgo. Voltámos à catedral Notre Dame, cujo tamanho e imponência não deixa de impressionar, para subir à torre e desfrutar da vista panorâmica sobre a cidade. Aqui, percebe-se claramente que Estrasburgo é uma cidade que parece duas, o centro histórico de arquitectura tipicamente germânica a abrir-se para uma periferia de arquitetura tipicamente francesa. Talvez por conciliar tão bem diferentes culturas e influências, tenha sido escolhida, a par de Bruxelas e Luxemburgo, para acolher a sede do Parlamento Europeu. Mas voltando ao assunto, e, neste caso, à base, ao descer da torre decidimos visitar o Palácio Rohan, que fica mesmo em frente à catedral. Este palácio abriga diferentes exposições e museus, nomeadamente o museu de Belas Artes, o museu Arqueológico e o museu de Artes Decorativas, sendo este último, de um ponto de vista pessoal, o mais interessante, por preservar a arquitetura original do palácio bem como algum do mobiliário da época.

Tempo de almoçar. Escolhemos uma entre muitas esplanadas nas ruazinhas do centro histórico e ficámos a admirar as casas típicas de Estrasburgo e os seus originais ornamentos enquanto nos deliciávamos com outra especialidade da zona, a tarte flambée, uma espécie de pizza à moda da Alsácia. A tarde foi bem relaxada e começou com um passeio de barco pelos canais da cidade, cerca de 1h10 de viagem, em barco panorâmico e com audioguia para aprender mais um pouco sobre Estrasburgo. Os bilhetes podem ser comprados na hora e custam 12,5€, isto se não comprarem o passe turístico, onde a viagem de barco está incluída.

Para terminar em beleza essa tarde solarenga, um passeio pela “Petite France”, o bairro mais charmoso e pitoresco de Estrasburgo, que mantém quase integralmente a arquitetura medieval. É atravessado por vários canais, formando recantos e pequenas praças, onde se encontra uma grande diversidade de restaurantes, cafés e pequenas lojinhas de comércio tradicional. Uma curiosidade: embora o nome soe como algo charmoso e requintado, a sua origem não tem charme nenhum. Segundo a História, na Idade Medieval, quando surgiram os primeiros casos de sífilis, os infetados eram levados para casa de um francês, situada nesse bairro, que cuidava desses doentes. Como a doença estava associada aos soldados franceses, aquela zona passou então a denominar-se de Petite France.

Centro histórico de Estrasburgo
Centro histórico de Estrasburgo Centro histórico de Estrasburgo créditos: Volto JÁ

A "Petite France" é encerrada por três torres alinhadas, hoje de pedra, anteriormente de madeira, e se seguirmos mais um pouco até à barragem Vauban conseguimos ter uma vista panorâmica sobre todos estes elementos, a partir do seu terraço. Jantámos por aqui, junto à Maison Tanneurs, autoproclamada a casa mais fotografada de Petite France, com estreia de mais duas iguarias típicas: queijo Munster (está em todo o lado, mesmo!) e chucrute (não fiquei fã).

E pronto, chegámos ao último dia da viagem, para o qual deixámos a visita às Caves Históricas do Hospital de Estrasburgo, que existem no sub-solo do hospital desde 1395, altura em que se acreditava que o vinho poderia ser parte do processo de cura. Quase tão antigo como as caves é o vinho mais antigo do mundo, datado de 1472, um dos objetos de destaque nesta visita.

Para terminar a viagem em beleza, nada melhor do que uma boa refeição. E o meu raptor sabe bem isso! Almoçámos na Brasserie Les Haras, um antigo estábulo recuperado irreprensivelmente, com uma decoração moderna e criativa e refeições a combinar.

Acaba aqui esta viagem, mas espero que não acabem aqui as surpresas. Sabes João, até gostei de ser raptada.

Informações da viagem

Mês escolhido: Junho de 2016;

Orçamento para estes quatro dias: Aproximadamente 400 euros por casal (para despesas de refeições, transportes e entradas nos monumentos);

Como chegámos lá: Avião Ryanair de Porto para Estrasburgo, partida na sexta e regresso na segunda-feira, com um custo de 60 euros por pessoa (ida e volta);

Preço médio da refeição: Se for em restaurante, com entrada, prato, copo de vinho e sobremesa, pagam aproximadamente 40 euros por pessoa;

Alojamento: Hôtel Kleber, na praça com o mesmo nome, 250€ por três noites, com pequeno almoço.