Trata-se do "Roteiro Literário Levantado do Chão", que interliga os concelhos de Lisboa, Montemor-o-Novo e Évora, através de três percursos temáticos subdivididos em percursos rodoviários e pedestres, e que abrangem 26 pontos de interesse interpretativo sobre a obra publicada há 40 anos, refere o guia do roteiro.
Segundo o guia, o roteiro, criado pela Câmara de Montemor-o-Novo, distrito de Évora, em parceria com outras entidades, propõe "dar a conhecer os lugares onde os episódios mais marcantes da obra se desenrolam, através de uma contextualização histórica e social" dos temas abordados e que inclui testemunhos sobre mulheres e homens que inspiraram as principais histórias e personagens do enredo.
O roteiro, com um total de 238 quilómetros rodoviários e oito pedestres, também "convida" a conhecer aspetos biográficos relacionados com a estadia de Saramago na localidade de Lavre, concelho de Montemor-o-Novo, em 1976, com o objetivo de se documentar para escrever a obra, que se tornou "o seu primeiro grande romance".
O primeiro percurso do roteiro, "Os levantados deste chão - A repressão da ditadura no Alentejo", foca-se entre 1933 e 1974, e "aborda os momentos mais violentos da obra, como as prisões, as torturas e os assassinatos do regime ditatorial [da época] sobre o povo alentejano".
Este percurso passa por vários sítios de Lisboa, como o Museu do Aljube - Resistência e Liberdade, e de Montemor-o-Novo, como o Posto da GNR, para onde a personagem Germano Vidigal foi levada e acaba por morrer em 1945, "vítima de um cruel e bárbaro assassinato levado a cabo por dois agentes da PIDE", a polícia política da ditadura.
O segundo percurso, "A resistência: João Mau-Tempo e a luta do proletariado agrícola alentejano", vai desde os primeiros anos até à década de 70 do século XX, e convida a acompanhar algumas fases daquela luta contada por Saramago a partir da personagem João Mau-Tempo.
Este percurso passa por vários sítios dos concelhos de Évora, como a Praça de Touros desta cidade, onde João Mau-Tempo assistiu a um comício anticomunistra em 1937, e de Montemor-o-Novo, como São Geraldo, referida na obra a propósito de um encontro clandestino de trabalhadores rurais e militantes do PCP que decorreu nas proximidades desta aldeia.
O terceiro percurso, "José Saramago em Monte Lavre", convida o viajante a refazer os principais caminhos do escritor durante a sua estadia em Lavre e outras visitas que fez pelo concelho de Montemor-o-Novo, em 1976.
Este percurso passa por sítios como a Cooperativa de Consumo Vento de Leste, onde Saramago dormiu, e a casa da família Besuga, onde comia.
Através dos três percursos, é possível "juntar os elementos necessários" para que o roteiro "cumpra a função de narrar a obra ao leitor-viajante", lê-se no guia.
Segundo a Câmara de Montemor-o-Novo, trata-se de um projeto "inovador no mercado de turismo literário em Portugal", e que visa valorizar "a identidade local enquanto fator diferenciador de modelos de visitação das regiões", e promover os agentes económicos locais.
A partir de "uma obra literária marcante para Montemor-o-Novo", o município criou o roteiro para valorizar "algumas das partes mais relevantes" da história e da vida e garantir uma "maior atratividade turística" do concelho, explica a presidente do município, Hortênsia Menino.
Segundo a autarca, o roteiro também visa "valorizar e difundir o património deixado" por Saramago na obra, e "dar expressão significativa à necessária preservação da memória da identidade do povo português e da sua história de resistência luta".
A apresentação do roteiro e o lançamento do respetivo guia, iniciativas que marcam o arranque das comemorações dos 40 anos da publicação de "Levantado do Chão" e do 6.º Encontro de Leitores de Saramago, vão decorrer na sexta-feira, a partir das 18:00, na Biblioteca Municipal de Montemor-o-Novo.
No sábado, dia em que se assinalam exatamente os 40 anos da publicação da obra, em 22 de fevereiro de 1980, será inaugurado o roteiro, com a realização de um dos percursos, em Montemor-o-Novo, a partir das 09:00.
Comentários