"Um quadro da Josefa de Óbidos vai integrar as coleções permanentes do Museu do Louvre", disse à agência Lusa o galerista Philippe Mendes, que doou a tela ao museu. "É um evento importante para a cultura portuguesa e, para a assinalar, festejar e dar eco a este evento, decidimos, aqui na galeria, preparar uma exposição sobre a cerâmica portuguesa do século XVII".

Afinal, esse é "o século de Josefa de Óbidos", prosseguiu Philippe Mendes, sublinhando que a pintura e a faiança portuguesa do século XVII "são completamente desconhecidos fora de Portugal".

A exposição, patente até 30 de janeiro, tem por nome "Un siècle en blanc et bleu - Les arts du feu dans le Portugal du XVIIe siècle" ("Um século a branco e azul - As artes do fogo em Portugal no século XVII") e é uma parceria entre Philippe Mendes, proprietário da Galeria Mendes, e Mário Roque, da galeria São Roque, em Lisboa, pretendendo mostrar um pouco da "alma portuguesa".

"Fazer esta exposição sobre a cerâmica portuguesa era mostrar uma produção muito interessante, cheia de qualidade artística, cheia de sol, cheia de espontaneidade. É uma cerâmica que dá muito prazer, feita para o prazer, para o luxo, para o aparato e, finalmente, isto traduz de uma certa maneira o que é a alma portuguesa também", descreveu Philippe Mendes.

A mostra tem também como objetivo fazer conhecer a faiança portuguesa da primeira metade do século XVII, quando o fascínio dos oleiros portugueses pelas porcelanas chinesas, que chegavam a Lisboa nas naus do Oriente, os levou a imitar a porcelana oriental e a criar as primeiras "chinoiseries" na Europa, rapidamente exportadas para o resto do continente.

"Vai ser uma exposição muito importante para tentar recolocar a faiança portuguesa, dar a importância à faiança portuguesa que ela teve no século XVII e que hoje está completamente desconhecida", explicou à Lusa o galerista Mário Roque.

Philipe Mendes sublinhou, também, que "esta produção portuguesa influenciou a cultura europeia do século XVII, e isso foi completamente esquecido, ainda mais pelos franceses".

A exposição reúne cerca de 60 obras, entre jarras, garrafas, taças, potes, mangas de farmácia, pratos de aparato e painéis de azulejos, essencialmente da primeira metade do século XVII, peças que "hoje é raríssimo aparecerem no mercado", continuou Mário Roque.

"Esta exposição tem um conjunto de cerca de 60 peças que pertencem à minha coleção, à coleção do Philippe Mendes, mas também a algumas coleções particulares, tanto portuguesas como francesas. É um núcleo bastante coeso em que estão ilustradas todas as diferentes fases do século XVII com peças de forma, nomeadamente jarras, potes, talhas e mangas de farmácia, mas também uma grande quantidade de pratos de aparato essencialmente", descreveu Mário Roque.

Esta quinta-feira, o quadro "Maria Madalena confortada pelos Anjos", de Josefa de Óbidos (1630-1684), vai ser afixado numa das salas do Louvre, ao lado de uma natureza morta do pai da artista, Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), depois de Philippe Mendes ter arrematado, no ano passado, a tela da pintora portuguesa num leilão da Sotheby's, em Nova Iorque, para a doar ao museu francês.