Ao longo da estrada N222, uma das mais bonitas de Portugal, percorremos mais de 20 quilómetros, desde a Régua até atravessarmos a ponte para o Pinhão. Com o rio Douro à esquerda e as encostas íngremes em socalcos à direita, respira-se a paz de uma das regiões mais bonitas do país. Atravessamos a ponte e estamos de volta ao distrito de Vila Real subindo a colina por uma estrada que serpenteia pela encosta.
Seria mais rápido entrar na A24 assim que saímos da Régua, mas atravessar a ponte em direção a Lamego e desfrutar da estrada junto ao rio, durante longos quilómetros, tem um encanto que a autoestrada não proporciona. Depois de alguns minutos de viagem, em que nos cruzamos com meia dúzia de carros, chegamos à pequena freguesia de Covas do Douro, no concelho de Sabrosa, onde rapidamente encontramos o portão da Quinta Nova. A quinta é uma verdadeira joia escondida no longo Vale do Douro, as paredes caiadas de branco e as vistas para o rio trazem uma tranquilidade inigualável e percebemos que, ali, encontramos o nosso refúgio.
Os funcionários são simpáticos e sorridentes e mostram-nos o espaço interior. Todos os cantos são acolhedores e nos fazem sentir em casa ou, no mínimo, fazem com que queiramos que ali seja a nossa casa, para que nunca tenhamos de ir embora. O jardim de inverno é o local perfeito para nos sentarmos no sofá, ler um dos livros disponíveis na estante e esquecermos completamente a correria do dia a dia.
Os quartos são elegantes e muito agradáveis. Ficamos num dos quartos do rés-do-chão com ligação ao exterior. Bastava abrir a porta e a paisagem que nos brindava era o "excesso de natureza" de que Miguel Torga tanto falava. As incríveis colinas do Douro, os socalcos marcados e as cores que, no outono, pintam as margens e fazem com que Douro seja mais do que o nome do rio, mas também o tom que pinta as colinas, são de cortar a respiração. A paisagem parece uma pintura, colina após colina em tons de dourado e vermelho, transmitindo uma paz e serenidade que não encontrámos em mais lugar nenhum. Os olhos perdem-se na paisagem até ao sol se pôr. Aqui não se ouvem carros, buzinas ou qualquer outro som desagradável.
Depois do jantar, tivemos oportunidade de passar algum tempo no jardim de inverno, a folhear os livros disponíveis e a trocar algumas palavras com os restantes hóspedes, antes de voltarmos ao quarto para uma noite tranquila.
Na manhã seguinte, é o momento de descobrir a propriedade, as vinhas e ficar a conhecer mais sobre a produção de vinho da Quinta Nova. Depois de um pequeno-almoço recheado de sabores regionais e produtos frescos, antes da visita guiada programada, caminhamos pela propriedade, descobrindo os recantos que tinham passado despercebidos no dia anterior, quando chegamos já ao fim da tarde. Encontramos a piscina de borda infinita com o Douro ao fundo, numa imagem esplêndida e muito fotogénica. Talvez, em pleno outono, seja demasiado arriscado tentar um mergulho, mas não uma foto.
Se procuram a foto perfeita para o Instagram, provavelmente uma caminhada pé ante pé pela borda da piscina seja tudo que precisam para a conseguir. Só não se desequilibrem, a água da piscina está mais fria do que consideraria agradável para uma manhã de outono. Tendo conseguido o registo fotográfico perfeito para as redes sociais, é o momento de descer até à loja de vinhos, para começar a visita guiada pela quinta.
A visita permitiu conhecer o ciclo do vinho, desde o momento em que as uvas são colhidas até ao engarrafamento. Tivemos a oportunidade de ver as máquinas que permitem que tudo aconteça e todos os processos foram explicados ao pormenor, desde a forma como é feito o vinho do Porto, ao qual se adiciona aguardente vínica durante a fermentação até à forma como a tosta dos barris influencia o sabor do vinho. Ao longo de menos de uma hora, foi possível aprender várias curiosidades sobre o vinho (sabiam que se pode fazer vinho branco com uvas tintas?) e sobre a região demarcada mais antiga do mundo.
Além da visita pelos locais de trabalho, visitamos o Wine Museum Centre Fernanda Ramos Amorim, nascido em 2017 e dedicado à história do vinho. Nele encontramos as formas tradicionais como era feita cada etapa da produção do vinho, com práticas que já não são utilizadas (na sua maioria), mas que fazem parte de um verdadeiro legado de uma região que está, intrinsecamente, ligada ao vinho.
Depois desta visita, onde visitamos a adega, datada de 1764, o Atelier do Vinho, a sala de barricas e a garrafeira subterrânea, onde envelhecem os melhores lotes selecionados pela família Amorim, estamos convictos de que entendemos muito mais de vinho do que quando cá chegamos, por isso, este é o momento perfeito para voltar a saborear os vinhos da Quinta Nova, com os olhos postos no rio.
"As pombinhas da Cat'rina andam já de mão em mão / Foram ter à Quinta Nova, ao pombal de S. João"
O verso é conhecido e faz parte um dos temas mais populares do cancioneiro infantil português. Mas provavelmente nunca ninguém parou para pensar sobre qual era a Quinta Nova onde as pombinhas foram ter. Pois bem, a quinta de que se fala é esta, a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. Nós não as encontrámos por lá, mas segundo a investigação desenvolvida por José Braga-Amaral para o livro "250 Anos de Histórias", o cenário de uma das mais famosas cantilenas infantis portuguesas é precisamente esta quinta no Douro. Não podemos discutir as razões que as levaram a escolher a Quinta Nova, pois nós também a escolheríamos para ser o nosso refúgio. Este é o local perfeito para nos escondermos do mundo.
A Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo está localizada em Covas do Douro, concelho de Sabrosa e é propriedade da família Amorim desde 1999.
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