Tínhamo-nos esquecido quão belo é o Douro na primavera, mas bastou termos as janelas do carro invadidas pelo verde das vinhas e pelo recorte das montanhas esculpidas por socalcos para nos voltarmos a lembrar. A memória das coisas belas é, por vezes, esbatida pelo cinzento da rotina e, por isso, é tão importante termos tempo para fugir deste mais do mesmo do quotidiano e encontrarmos a beleza em sítios tão singulares como a região demarcada de vinhos mais antiga do mundo e património mundial da Unesco.
O Douro nunca desilude e afirma-se cada vez mais como um destino para os que procuram luxo, bem-estar e contacto com a natureza, sem esquecer, claro está, os vinhos e a gastronomia. Assim que ao rumar ao Six Senses Douro Valley ansiávamos encontrar um pouco de todos estes ingredientes e, ao mesmo tempo, perceber o porquê deste resort cinco estrelas em pleno douro vinhateiro ter arrecadado tantos prémios nos últimos anos – o mais recente foi o de melhor spa da Europa.
Uma viagem sensorial
Podemos começar já com um spoiler: ficar hospedado no Six Senses Douro Valley é fazer uma verdadeira viagem sensorial e descobrir a sua própria versão de bem-estar. E, assim, nesta viagem, o primeiro sentido a ser alimentado foi, sem dúvida, a visão.
Localizada em cima de uma colina, perfeitamente encaixada numa curva do rio, a propriedade do resort eleva-se de forma graciosa e mostra-se ao longe, cinematográfica, enquanto percorremos a estrada de acesso a esta casa senhorial do século XIX que foi escolhida pelo Six Senses para acolher, desde 2015, o primeiro resort do grupo fora da Ásia.
A pouco minutos da cidade do Peso da Régua e a cerca de 1h30 do Porto, a verdade é que, quando cruzamos o portão da Quinta Vale de Abraão, parece que entramos numa outra realidade: somos envolvidos pelo verde das vinhas e das árvores que circundam o palacete de cor coral. Os olhos correm de um lado para o outro na tentativa de abarcar todos os pormenores da paisagem e do edifício, minuciosamente restaurado, onde nada foi deixado ao acaso e onde existem muitas histórias para descobrir.
Os sorrisos do staff são o primeiro sinal positivo de boas-vindas que seria reforçado quando, ao chegarmos à nossa suite, encontrarmos uma série de mimos que indicam a excelência do alojamento. Pequenos frascos de vidro com várias iguarias locais, como amêndoas ou azeitonas, trufas de chocolate, e vários snacks para momentos mais gulosos. Outra particularidade é a oferta de todas as bebidas disponíveis no minibar, bem como café e chá, durante a estadia.
O resort conta com 71 acomodações, cada uma com pormenores únicos, desde a desejada vista panorâmica para o rio até uma suite duplex, perfeitamente integrada na torre original da casa. E ainda duas villas privadas, quase secretas, já que se encontram separadas do edifício principal – ideais para quem procura discrição e uma estadia totalmente exclusiva.
Mais um sentido é provocado enquanto percorremos os espaços do resort, o olfato é desafiado a descobrir os diferentes aromas que pontuam o percurso. A primavera encarrega-se de perfumar o ar com o aroma das flores recém-abertas, mas dentro de portas há cheiros que nos envolvem: dos mais doces e florais nos quartos aos mais intensos nas zonas dedicadas à gastronomia. Afinal, há uma cozinha aberta onde estão sempre a acontecer coisas (deliciosas, diga-se já).
Esta Open Kitchen cria um ambiente informal num dos espaços de gastronomia do resort. Aqui podemos degustar menus diários elaborados pelos chefs que apostam na frescura dos ingredientes, a maioria colhida na horta biológica do Six Senses ou fornecida por agricultores locais. Durante o almoço, começamos a perceber que a sustentabilidade é levada a sério pelo grupo e que também ela entrará na equação do bem-estar.
Mas, voltando ao Open Kitchen, há tachos a fumegar, chefs concentrados e hóspedes a acompanhar o processo de perto. Há cestas com vegetais e legumes colhidos da horta, jarras de vidros com pickles e há uma parede com fotografias de família que contam um pouco da história dos Serpa Pimentel, a família que construiu e viveu ali naquela propriedade duriense.
Neste espaço cheio de luz são também servidos os pequenos-almoços – uma experiência à parte para se ter no resort, principalmente, se aprecia começar o dia com uma refeição cheia de saúde. De shots de imunidade, a iogurte, kefir ou kombucha caseiros, fruta da época, granola, ovos, pão de fermentação natural, mas onde há também espaço para a indulgência de uma fatia de bolo ou umas panquecas.
O paladar só ficará verdadeiramente saciado depois de experimentar uma refeição do restaurante Vale de Abraão, paredes meias com o Open Kitchen, mas que nos transporta para uma sala de jantar de outros tempos, com uma enorme lareira que se encarrega de imprimir o seu aroma ao espaço, azulejos do século XVIII a preencher paredes e chão de granito. A identidade do Douro está ali e é servida em pratos que se inspiram na gastronomia da região, sempre harmonizados com os melhores néctares que este vale produz.
E já que falamos de vinhos, a Wine Library é o lugar a ir para apreciar ou aprender mais sobre vinhos. É quase impossível não passar por ali, já que o espaço é um ponto de ligação entre as diferentes alas do edifício. Ponto de passagem e ponto de encontro, onde podemos ficar a conhecer parte da garrafeira de mais de 700 rótulos portugueses, onde decorrem as provas de vinho marcadas diariamente para as 18h, e onde existe até uma vending machine que nos permite comprar um copo de vinho e ir com ele para o terraço que convida à contemplação. Aconselhamos vivamente a fazê-lo ao pôr do sol.
Tal como as provas de vinho, todos os dias o resort oferece uma agenda de atividades aos hóspedes que pode ser consultada através do tablet disponível nos quartos ou numa lousa colocada junto à entrada para a sala de pequeno-almoço. Aulas de yoga e de outras modalidades fitness, caminhadas, passeio de kayak ou de barco, piquenique, pintura de azulejos, visita à horta são algumas das atividades que vão sendo alteradas e atualizadas consoante a época do ano.
“Personalização do wellness”
Uma das atividades que mais sucesso faz entre os hóspedes é o workshop de alquimia, onde podemos criar o nosso próprio perfume, bálsamo, esfoliante ou vela. O Alchemy Bar foi um conceito que surgiu no Six Senses Douro Valley e hoje existe em todos os 25 resorts do grupo. Num recanto do spa, encontramos prateleiras com vários frascos e uma mesa com os utensílios necessários para criarmos as nossas poções mágicas, quer dizer, os nossos produtos de bem-estar.
Colocamos o avental e começamos a misturar essências, enquanto vamos sendo guiados pelo alquimista de serviço Daniel Monteiro. Aqui são dadas as bases para quem quiser “criar os seus próprios produtos em casa”, refere, com ingredientes acessíveis, por exemplo, o açúcar pode ser base para criar esfoliantes e o óleo de amêndoas doces pode ser usado para elaborarmos perfumes. Uma forma de combater o desperdício de certos alimentos e também de ter consciência do que “estamos a colocar no nosso corpo”.
Pelo seu carácter inusitado, o Alchemy Bar pode ser uma bela porta de entrada para o spa do Six Senses Douro Valley. São 2.200 metros quadrados com 10 salas de tratamentos, onde experimentámos uma massagem personalizada e focada no relaxamento que nos deixou num estado zen como há muito não experienciávamos.
Mais do que um spa, o espaço afirma-se como um centro de bem-estar e, portanto, há muitas opções para experimentar. A começar pela piscina interior aquecida com terapia musical subaquática, cromoterapia e jatos de massagem ou a Vitality Suite que inclui uma sauna tradicional, sauna de infravermelhos, banho a vapor, laconium (sauna seca) e sauna de ervas. Um ginásio bem equipado e uma sala de aulas com grandes janelas onde a floresta da propriedade faz a moldura perfeita para a união entre mente sã e corpo são. Não estando integrada no spa, a piscina exterior, com borda infinita a ligar-se ao Douro, é também um dos lugares que nos ajudou a encontrar a nossa versão de bem-estar durante a estadia.
Há ainda uma série de tratamentos disponíveis que podem ser personalizados por cada hóspede. Do biohacking que alia a tecnologia à biologia para melhorar o nosso desempenho ou trazer mais bem-estar, a um rastreio de biomarcadores, uma consulta do sono ou um tratamento com base nos benefícios da uva, o objetivo passa pela “personalização do wellness”, sempre em busca da próxima tendência do setor, sublinha André Buldini, diretor geral do hotel. “Cada Six Senses é único”, afirma, e o do Douro tem esta particularidade de atrair não só quem procura um hotel voltado para o bem-estar, como também quem busca a experiência dos vinhos e da gastronomia.
Norte-americanos, brasileiros, portugueses e ingleses são as nacionalidades que mais procuram o resort que acumula prémios, entre eles o mais sustentável da Península Ibérica. Para o diretor de marketing e comunicação do hotel, Richard Bowden, os prémios são um “reconhecimento internacional de um produto que temos em Portugal” e reconhece que “os clientes gostam de ficar em hotéis que ganham prémios”, valorizando cada vez mais as “boas práticas de sustentabilidade”.
O luxo da sustentabilidade
É fim de tarde e o chilrear dos pássaros provoca-nos a audição. Guiados por este som tão característico digirimo-nos até à floresta da propriedade. Por largos minutos, caminhamos em silêncio, só acompanhados pelo canto dos pássaros e pelo som da brisa amena que faz balançar as folhas das árvores que nos envolvem com os seus troncos e copas centenárias.
Não estávamos à espera de encontrar uma floresta ao estilo de bosque encantado que nos arrebatou por completo. Com vista para o rio, esta é uma floresta de quatro hectares do século XIX, com várias espécies de árvores e plantas exóticas, importadas de outros países, bem ao gosto do que se fazia na época. Atualmente, proteger esta floresta e torná-la mais produtiva é um dos objetivos do resort e um dos projetos que podemos conhecer no Earth Lab, espaço dedicado à sustentabilidade, um dos pilares do grupo Six Senses. Porque o verdadeiro luxo é conseguirmos proteger o planeta e, se possível, deixá-lo melhor para as gerações vindouras.
Compostagem, desperdício zero, ausência de plásticos (não vimos um único plástico de uso único durante a nossa estadia), utilização de energias renováveis e produção de alimentos na horta biológica são algumas das ações realizadas e que os hóspedes podem conhecer durante a visita ao Earth Lab que, tal como o Alchemy Bar, também surgiu no Six Senses Douro Valley e hoje está presente em todas as unidades do grupo.
Mas a sustentabilidade não passa apenas por proteger o ambiente. Respeitar e apoiar as comunidades locais também é uma missão do grupo e, no Douro, são apoiados vários projetos de responsabilidade social. O mais carismático é o apoio aos burros de Miranda, contudo, existem outros que ajudam famílias desfavorecidas e animais abandonados através do Fundo de Sustentabilidade do resort que corresponde a uma percentagem da receita total e a cinquenta por cento da venda da água Six Senses.
Aliás, as mascotes do hotel, a Aqua e o Foxy, são dois cães que foram resgatados e hoje têm o papel de receber os hóspedes e fazê-los sentirem-se em casa. Naquela casa de campo dos nossos sonhos em que somos recebidos com simpatia, num ambiente acolhedor e em que podemos desligar do mundo enquanto contemplamos a natureza e bebemos um copo de vinho ao entardecer.
O nosso sexto sentido dizia-nos que a estadia no Six Senses Douro Valley iria ser sublime. E foi mesmo.
O SAPO Viagens foi conhecer o resort a convite do Six Senses Douro Valley
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