A pandemia cancelou quase todas as reservas que Teresa Martins tinha, mas nas últimas semanas “as pessoas já começaram” a procurar o alojamento local (O Casario) que a família tem nos Eixes, em Mirandela.
“Dizem mesmo que nos estão a procurar porque lhes parece que não é um local de turismo de massas, é mesmo isso que procuram neste momento, é algo que seja de pequena dimensão, que sabem que vão encontrar poucas pessoas”, contou à Lusa.
O investimento foi feito pela família porque as duas candidaturas que fez a programas nacionais foram-lhe recusadas com a alegação de que não havia procura turística nesta zona junto à cidade de Mirandela e em pleno Parque Natural Regional do Vale do Tua.
O parque chamou os jornalistas para “ajudar os empresários a recuperar do período traumático da COVID” e para mostrar que o vale “é um território seguro para famílias e grupos com infraestruturas que têm como principal qualidade o sossego, o convívio com a natureza”, como indicou o diretor, Artur Cascarejo.
É esta segurança, e não só, que leva José de Carvalho, natural do Porto, a esta região onde tem ligações familiares e que a Lusa encontrou em Carrazeda de Ansiães.
“Uma excelente gastronomia, excelente paisagem e uma vivência das pessoas extraordinária. Acho que não é fácil encontrar pessoas tão amáveis”, sustentou.
Prova disso foi na manhã seguinte à chegada à aldeia terem-lhe batido à porta a perguntar: “quer umas alfaces”.
O pai foi passando aos filhos José e Tiago este gosto pela terra onde se acorda “com o chilrear dos pássaros e não com as buzinas dos carros”.
O empresário João Menéres tem a expectativa de que o parque consiga finalmente fazer chegar os turistas até ao cimo do país.
“É a primeira vez que eu me apercebo de uma ação concertada tão atrativa como esta”, diz a quinta geração de uma família conhecida pela aposta agrícola e num dos restaurantes mais conhecidos da região (Maria Rita), no Romeu, em Mirandela.
As exportações de vinhos e azeites pararam e o restaurante reabriu “devagarinho, mas a pouco e pouco está a retomar”, e “mais de metade” dos clientes são de fora da região. Vão de propósito e evidenciam que ao começarem a sair de casa procuram o interior, segundo disse.
À espera da retoma está ainda Vítor Teixeira, produtor do Holminhos, uma marca de vinho com quase 30 anos de uma quinta de Vila Flor. As vendas pararam, assim como a organização dos grandes eventos na ‘Winehouse’, que está a pensar abrir como restaurante durante alguns dias da semana.
O Tua também é Douro e no outro lado, já no distrito de Vila Real, em Alijó, o empresário Luís Barros antevê que “o Tua vai ser de certeza absoluta muito importante para o Douro porque o Tua é novo”.
“Nós já estamos atentos ao futuro cliente que virá ao Tua”, diz o proprietário da Quinta da Avessada, no planalto vinhateiro de Favaios, no centro da zona demarcada do Douro.
Luis Barros alerta que o projeto turístico do Vale do Tua “é jovem e não se pode pensar que de um ano para o outro se cria um novo pacote turístico ou um novo destino, demora muitos anos”.
A oferta do Tua está elencada na página da Internet do parque e são os percursos pedestres os que têm maior visibilidade. A pandemia cancelou um verão lotado, como constatam Domingos Pires e João Neves, da Naturthoughts-Turismo de Natureza.
A empresa nasceu com o parque e garante que “cada vez mais há procura de mercado para este tipo de território e experiências”.
Com três postos de trabalho permanentes, há mais de um ano que tentam encontrar financiamento para contratar mais quatro pessoas.
“Estamos a aguardar que surjam incentivos destinados ao interior do país, que têm sido sucessivamente anunciados e que ainda não aconteceram”, disse Domingos Pires.
Liliana Oliveira, uma jovem de 30 anos do concelho de Carrazeda de Ansiães, fez-se empresária com um prémio de cinco mil euros que ganhou num dos programas de empreendedorismo do parque.
Tem a Tua Mercearia com tapas para os turistas na aldeia de Foz Tua, onde se cruzam o Douro e o Tua e se avistam os distritos de Bragança, Vila Real e Viseu.
Não sofreu com o confinamento porque habitualmente não trabalha nos meses de inverno.
Os comboios da linha do Douro são os que trazem mais pessoas à aldeia ribeirinha, que “precisa de árvores e sítios onde as pessoas possam sentar-se e desfrutar da paisagem, assim como um autocarro para mostrar o resto da região”.
Liliana trabalha em parceria com a família de José Assunção, outro jovem empresário de 28 anos, com o Hotel Casa do Tua.
O empreendimento tem vivido da linha do Douro, principalmente de “turistas estrangeiros que aterram no aeroporto do Porto, metem-se no comboio e vão até ao Tua ver as paisagens”. Ficam “dois dias, três no máximo. Fazem passeios de barco, voltam de comboio”.
Em relação ao projeto turístico do Tua, o impasse do plano de mobilidade leva-o a dizer que, como empresário, “para já não faria projetos a pensar no Tua”.
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