O lançamento da primeira edição de “Histórias ao Quadrado” vai ser feito sobre rodas e de norte a sul do país. Pela N2 e com a gata Cookie Maria, Gil Ramos pretende dar a conhecer este projeto, encontrar novas histórias, partilhar as dele, fotografar e fazer o que mais gosta: andar de bicicleta.
Empreendedor e criativo, junta a fotografia, as viagens, a escrita e o documentário com projetos humanitários. Faz da paragem forçada pela pandemia uma nova rota de criação e do início do desconfinamento uma tournée.
“Gostava que este livro mostrasse que é possível fazer coisas nas piores crises”
O primeiro convidado é o fotógrafo Daniel Lima, com o volume intitulado “Terra de Elefantes”. “É um trabalho brutal, com uma textura, uma beleza...”, elogia Gil, encantado tanto pela força das imagens como pela singularidade das personagens principais das imagens, os elefantes.
Cada livro terá 200 exemplares, apresenta o trabalho de um fotógrafo convidado e é acompanhado com um texto de Gil, que se desafia em vários géneros literários, cunhando cada livro com uma narrativa própria.
Dulombi, uma aldeia na Guiné-Bissau é o palco e tema central de “Histórias ao Quadrado”. Foi lá, a cinco mil quilómetros de casa, que Gil criou a Missão Dulombi, um projeto humanitário que junta uma viagem pelo norte do continente africano com o apoio a esta pequena aldeia guineense.
O responsável explica que esta não é uma missão de voluntariado muito tradicional: “É uma experiência de vida, é viver no mato sem água, sem luz, e sem telefone nem internet. Não há qualquer sinal de modernidade.”
Ao longo dos últimos anos foram quase duas centenas as pessoas que participaram nestas viagens humanitárias. Levam jipes carregados de materiais e vontade para ajudar a desenvolver a aldeia. E os fotógrafos agora convidados para as “Histórias ao Quadrado” viajaram também nesta missão.
“A ideia é promover a aldeia pelo olhar daquelas pessoas que viajaram para lá. Eu lá sinto que estou em casa. Queria mostrar a visão imparcial e o olhar de quem chega pela primeira vez, há uma beleza e autenticidade muito forte nestas imagens”, conta.
A aldeia guineense que é casa, missão e inspiração
Em 2020, a pandemia forçou-nos a ficar dentro de portas e dentro do país, mas nos dez anos anteriores, Gil saía de Vila do Conde e descia ao fim da Península, entrava em Marrocos, contornava o Atlas, atravessava o Saara, a Mauritânia e o Senegal até chegar à Guiné. Depois de Bafatá, percorre ainda mais cinquenta quilómetros até Dulombi.
“Quando fui pela primeira vez foi tão incrível, aconteceu tanta coisa errada e tanta coisa certa, foi fascinante. Eu achei que isto valia a pena ser partilhado e replicar esta viagem com amigos, mostrando a maravilha que é viajar de carro por África.”
O destino foi escolhido pela curiosidade de conhecer o local onde o seu pai, Fernando Ramos, tinha estado muito anos antes a combater na Guerra Colonial. Entretanto, estabeleceu o projeto humanitário focado sobretudo na educação das crianças.
“Fizemos obras no hospital, reparámos telhas e tetos, algumas coisas que nem sabíamos muito bem fazer, mas com determinação e vontade fomos conseguindo recuperar muita coisa”, recorda com orgulho.
“As pessoas começaram a perceber a importância do nosso trabalho e fomos sonhando mais”, conta, ao mesmo tempo que explica o desafio de construir um jardim de infância naquela aldeia. “Parecia logisticamente impossível, é que precisávamos de fazer paredes e a aldeia nem sequer tinha água para fazer cimento, por exemplo...”
“No final de 2019, inaugurámos o jardim de infância que construímos com as nossas próprias mãos”, conta.
Elefantes, uma bicicleta e uma gata pela Nacional 2
Com as fronteiras fechadas e Dulombi ainda mais longe, Gil orgulha-se de continuar a poder apoiar a educação nesta aldeia. “Tinha armazenado material suficiente para ser entregue no início do ano letivo. Acredito que um país sem educação não é um país. É preciso acreditar que é possível melhorar, as pessoas têm alguma dificuldade em acreditar porque nunca viram a acontecer, mas há dez anos que 150 crianças são apoiadas pela missão Dulombi”, afirma ao SAPO Viagens.
Cada livro de “Histórias ao Quadrado” custa dez euros e metade do valor reverte a favor da Missão Dulombi. Quem encontrar o Gil e a gata Cookie Maria nesta viagem pela Nacional 2 pode comparar diretamente “Terra de Elefantes” ou até vir a ser chamado a ajudar a promover a coleção.
Além de Daniel Lima convidado para este primeiro volume, fazem também parte da coleção os artistas José Pinto, Marta Dias, Samuel Tettey, Luís Silva, Silvano Lopes, Jorge Buco, António Barros, Vera Lavrador e Antonin Stock.
Além da estrada, a tournée passa também pelas redes e pode ser acompanhada pelo Instagram.
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