Um pedacinho solitário de terra flutuante, no meio de um imenso oceano, Porto Santo é por si só um lugar encantado. Quando juntamos a isso uma mão cheia de lendas e crenças, tem tudo para se tornar um lugar digno de livro de fantasia.

Os Profetas

Os habitantes de Porto Santo são, muitas vezes, alcunhados de Profetas e isso tem uma explicação. Há vários séculos, habitava na ilha um eremita que dizia ter sido enviado pelo Espírito Santo. O povo acreditou e deixou-se levar pelo eremita, no entanto, três habitantes que não acreditavam nas palavras do “profeta” pediram ajuda às autoridades. O “profeta” e a sobrinha – que também estava envolvida – acabaram condenados a estarem à porta da Sé de Évora durante a missa com grandes letreiros onde estava escrito: “Profetas do Porto Santo”. O povo de Porto Santo é, ainda hoje, alcunhado de Profetas devido a essa situação.

Os Fantasmas

Portugal sempre foi palco de várias crenças e suposições, não é preciso recuar mais de um século para encontrar um país dominado pelas crendices, rezas e benzeduras. Porto Santo não é diferente do resto do país e, também aqui, existem relatos de acontecimentos não explicados pela ciência.

Reza a lenda que criaturas sobrenaturais e espíritos saem à noite para aterrorizar os humanos que se encontrem sobre a luz das estrelas. Estas criaturas habitam três lugares da ilha, considerados assombrados: a antiga vivenda de recreio do Bispo do Funchal, o Antigo Forte e a Casa Paroquial.

Tesouros enterrados

Acredita-se que, na ilha, existem diversos tesouros enterrados e quem quiser ficar com eles tem de sonhar três vezes com o seu paradeiro onde só deverá ir durante a noite. Claro que as entidades paranormais tudo farão para o impedir de se apoderar das riquezas.

O corajoso que conseguir deverá lançar uns pingos do seu sangue no local, pois caso contrário transformar-se-ão em cinza. Durante esta aventura, o nome de Jesus não deve ser nunca pronunciado, apenas o demónio deverá ser invocado.

Uma destas aventuras está documentada. Há quase um século, João dos Anjos estava a guardar uvas quando uma voz lhe disse para ir à fonte das Negras e, enquanto ouvia isto, viu surgir um cavalo flamejante. Num ato de coragem, dirigiu-se para o local designado onde teve de enfrentar várias provações de “outro mudo”.  Conseguiu, segundo consta, apanhar várias barras de ouro. Era conhecido na ilha por este feito e exibia uma cicatriz na cabeça que dizia ter sido provocada pela “besta”.

Rezas, Curandeiras e Simpatias

Pessoas que estivessem doentes ou animais que deixassem de comer  eram submetidos a rezas especiais para todos os mais variados males.

Se o animal estivesse doente, era chamada uma curandeira que fazia a reza nove vezes durante, no mínimo, três sessões. Enquanto rezava, a curandeira colocava sobre o animal nove pedaços de alecrim, em cruzes sobrepostas.

Se fosse uma jovem que “perdeu as cores e começava a definhar”, a culpa era, com toda a certeza, de um olhar de inveja que alguém lhe teria lançado.

A solução seria chamar uma curandeira - de preferência numa terça ou sexta-feira - para que esta limpasse a casa, usando água benta e alecrim enquanto fazia rezas. Se, depois disto, a jovem continuasse sem reagir, passavam à “Cerimónia de Perfumes”, feita com alecrim em brasas e incenso, usado para defumar o corpo da jovem.

As cinzas e brasas resultantes deveriam ser cuidadosamente embrulhadas e lançadas, de noite, sem ninguém ver, numa encruzilhada.

Se durante o processo um homem passasse na rua, era certo de que a invejosa foi uma mulher, se passasse uma mulher, é porque teria sido um homem.

A Imagem de São Pedro

Reza a lenda que um pastor, que andava com o gado nas proximidades do Ribeiro da Quebrada, quando encontrou uma imagem de São Pedro, foi imediatamente dar a notícia às autoridades e a imagem foi levada em procissão para a Igreja Matriz.

No entanto, a imagem  voltou a aparecer no mesmo Ribeiro tendo sido tomada a decisão de construir uma capela no local mais abaixo da aparição, onde se encontra ainda nos dias de hoje, ficando ali a imagem. A capela não foi construída no lugar exato da aparição, devido às chuvas e à erosão. Dizem que a imagem aparecia de costas para a porta e, noutras ocasiões, de costas para o altar.

Atualmente, as crenças mudaram e as novas gerações estão mais afastadas destas tradições do que antes. Ainda assim, nada disto foi esquecido e a ilha preserva o misticismo de outros tempos.

Publicado originalmente a 13 de junho de 2018.

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