Frei Hermínio explica à agência Lusa que esta meditação não é feita tanto “ao nível da inteligência emocional racional, mas é sobretudo emocional e espiritual”.

“Quando eu digo contemplativa, é uma meditação não reflexiva”, diz o sacerdote, sublinhando “a importância do silêncio, da escuta, a ideia de vir para cá para o parque, para simplesmente andar a escutar”, afirma, exemplificando com o “perceber que há aqui este espaço e perceber que há também os motores e os aviões” e distingui-los mentalmente.

A necessidade de parar, face ao cansaço e ao stress do dia a dia, é uma das razões pelas quais este franciscano de 52 anos dinamiza grupos de meditação contemplativa.

Com muitas atividades a serem realizadas ‘online’, quando se encontram em grupo, em comunidade, “é para apreender, para experimentar alguns exercícios que não são propriamente técnicas, mas são alguns exercícios espirituais que depois podem ser replicados, podem ser repetidos diariamente”.

“Mesmo a questão espiritual e este cuidar da casa comum não é algo que só teoricamente vamos percebendo. Existe a importância de experimentar, a partir de uma experiência de auto cuidado, de cuidar de nós próprios, para depois percebermos que é importante estarmos atentos também aos outros e o cuidar da casa comum é cuidar daquelas pessoas que estão mais próximas, a começar pelo ser humano”, enfatiza.

E como são os exercícios? “Eu costumo explicar um modelo que fui construindo: há sete verbos e são sete verbos de ação. O primeiro, o que está na base, é o verbo respirar, depois é o verbo dizer. Os cinco verbos seguintes são sete e estão ligados aos cinco sentidos. Isto aqui é um exercício dos sentidos”, diz.

Quanto ao primeiro verbo, que destaca em toda a conversa - respirar -, frei Hermínio explica que é um convite a prestar atenção ao facto de se estar a respirar.

“Isso permite-nos este encontro connosco próprios. Por exemplo, estarmos aqui, eventualmente, durante algum tempo, até com os olhos fechados, para podermos entrar em nós próprios. Sobretudo, vamo-nos acompanhando a nós próprios, ao ritmo da respiração. Isto, para crentes e não crentes. Se eu colocar isto ao nível, por exemplo, dos crentes, inclusivamente, na linguagem bíblica, quer no Antigo, quer no Novo Testamento, o sopro, o Espírito Santo, está muito ligado a este dom da vida que chega até nós”, diz o franciscano.

Segundo frei Hermínio, “é curioso que o exercício da meditação contemplativa a partir da respiração é muito comum em muitas tradições, não apenas no judaísmo ou no cristianismo. Está em muitas outras correntes e religiões. É um exercício base que funciona para crentes, mesmo para não crentes, e é um exercício que está muito ligado a outras práticas, como o ioga e muitas outras”.

Nesta atividade, “cruzamos diferentes sensibilidades espirituais, religiosas, etc. É entender uma espiritualidade a partir da nossa realidade antropológica”, assinala.

E não esconde os aspetos positivos de uma atividade que tem cada vez mais adeptos “nestes tempos complicados, com muita agitação, muita correria, muita insegurança”.

“Não estamos apenas numa época de muitas mudanças, estamos mesmo numa mudança da época, como muitos analistas sociais dizem. E um deles é precisamente o Papa Francisco. O mundo agora corre muito, não é? O que vivemos agora não é como era no tempo dos nossos avós ou bisavós. Isto mudou muito (…). Mas, há uma coisa que é certa: é que quanto mais aprofundarmos a nossa experiência espiritual, mais conseguimos atravessar esta época para algo que não sabemos muito bem, mas mais solidificados, mais saudáveis”, confia.