Foi pelas serras da Arada, São Macário e da Freita que revisitámos a região entre Arouca e São Pedro do Sul, para mais um roteiro de viagem de mota por Portugal, no qual a passagem pela estrada do Portal do Inferno e Garra foi, sem dúvida, um dos momentos altos. Ali encontramos uma das estradas da nossa eleição de roteiros panorâmicos pelo Norte de Portugal.
Sobre a região
Estamos geograficamente, entre São Pedro do Sul e Arouca, no Maciço da Gralheira. O Maciço da Gralheira é o conjunto montanhoso que integra a Serra da Freita, a Serra da Arada, a Serra de São Macário e a Serra do Arestal. Guarda em si paisagens únicas, um património incontornável e muitas estradas de sonho para percorrer de mota. Está situado maioritariamente nos distritos de Aveiro e Viseu e este conjunto de elevações separa, e alimenta, as bacias hidrográficas dos rios Paiva, Douro e Vouga. Por ali a paisagem só poderia ser profundamente interessante.
Um sistema de cordilheiras de montanhas muito irregulares, onde o xisto e o granito modelam a paisagem, e as diversas falhas geológicas que o atravessam lhe conferem um estatuto especial, e caoticamente belo. Uma sucessão de vales profundos e alinhamentos montanhosos, cujo ponto mais alto de encontra na Serra da Arada, a 1119 metros de altitude.
Com uma extensa mancha natural, o Maciço da Gralheira possui zonas de forte densidade florestal que sofreram com os incêndios dos últimos anos. Agora, regeneram-se a cada dia entre planaltos e os numerosos vales de baixa altitude. Assistir ao seu esforço é uma viagem recompensadora e a nossa maneira de lhes prestar a merecida homenagem.
Seguimos pelas pequenas estradas
Entramos na Serra da Arada pela pequena R326. A estrada regional 326 que nos leva ao miradouro serrano, por entre um estreito percurso em altitude. De pavimento não nas melhores condições, mas sem dúvida com os melhores panoramas. A serra está linda. Para onde quer que se olhe tudo é um manto florido. Cheira a terra molhada. Nos últimos dias a chuva caiu com afinco. Cheira ao perfume das flores silvestres. Ouve-se o chilrear dos passarinhos e o zumbido das abelhas que sobrevoam agitadas na sua busca pelo pólen. Algures nas encostas mais abrigadas, distinguem-se as dezenas de colmeias que guardam o mel, o precioso tesouro de tão nobre animal. O sossego de tão encantada paisagem, deve-se ao facto de este ser um dos acessos menos comuns às montanhas. Deve justificar o facto de por lá não nos termos cruzado com vivalma.
Continuamos a subida da Serra da Arada com destino ao São Macário, que avistamos ao longe. Agora, em pleno na cumeada da montanha, avançamos pelas estradas cujo traçado se perde no horizonte infinito, e florido. A sua natureza bravia determina que ali só florescem matos rasteiros. Traços da personalidade bem vincada dos locais de altitude superior.
Portal do Inferno e Garra, a estrada num paraíso geologicamente infernal
Situado em pleno coração do Maciço da Gralheira, a cerca de 1000 metros de atitude, a estrada do Portal do Inferno e Garra atravessa um dos mais espectaculares locais de Portugal. E é um dos pontos altos da nossa viagem. A estrada segue pela linha de cumeada de um maciço rochoso metassedimentar, onde os agentes de geodinâmica externa incutem à paisagem um relevo profundamente escarpado.
Avistando este local ao longe, imaginamos uma estreita estrada que ondula fortemente pela estreita zona mais alta da montanha que atravessa. Um sítio de íngreme passagem que amedrontou, por muitas gerações, todos os que por ali passaram. O local é rodeado por duas ribeiras que drenam em sentidos opostos: ribeira de Covas do Monte e ribeira de Palhais. E é na Primavera que os panoramas se encontram no auge da sua avassaladora beleza. Tudo em redor fica pintado de amarelo e rosa, porque a carqueja, o tojo e a urze estão em flor.
A viagem da Patrícia e do João pelas serras da Arada, São Macário e da Freita continua no seu blog, Quilómetro infinito, onde encontram um relato e mapa do seu roteiro.
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