Rapidamente se percebe que estamos a ter uma experiência única devido ao contato direto com a comunidade dos Padres Marianos da Imaculada Conceição.
Eles são de uma ternura enorme e estão sempre disponíveis para um diálogo. Fazem-no com toda a naturalidade.
Os visitantes encontram-se frequentemente com os membros da comunidade porque são partilhados alguns espaços, como por exemplo o restaurante, o café e a sala em cada piso que tem uma televisão. Os quartos não têm tv. O aparelho está na sala comum para promover o encontro e a conversa.
Nos rituais os religiosos também se cruzam com os visitantes. Todos são convidados a estarem presentes. Só vai quem quer. Para se visitar ou ficar alojado no Convento de Balsamão não há qualquer vínculo obrigação confessional.
O Padre Basileu Pires refere que este é um lugar especial. O espaço funciona essencialmente como um retiro, uma fuga ao stress, um passeio, ou um retiro espiritual.
Silêncio e paz é o lema que os visitantes apreendem de imediato. Há um ambiente de partilha, diálogo e descoberta de um valioso património histórico, religioso e natural. Tudo em liberdade e no recolhimento que cada um escolhe ao longo do dia.
A rotina da comunidade tem quatro rezas diárias. Às 7h, a Eucaristia ao meio dia, o Terço às 15h e as Vésperas às 19h. Foi a esta oração que assisti, na capela. É um templo pequeno, sóbrio e a madeira é o material que domina.
A igreja é muito diferente. A origem é do século XVII e foi recuperada em 2010. É deslumbrante.
Quando se desce o corredor e se olha para o interior da igreja os olhos fixam-se na beleza das pinturas do teto.
O retábulo é setecentista e ao lado está um conjunto de estátuas, com Santa Ana, que é único na Península Ibérica. Numa das paredes é visível um fresco original que foi descoberto quando do restauro.
O retábulo é setecentista e ao lado está um conjunto único de estátuas, com Santa Ana, que é único na Península Ibérica. Numa das paredes é visível um fresco original que foi descoberto quando do restauro.
É nesta igreja que se realiza a missa dominical. Qualquer pessoa pode assistir, como também durante a semana à Eucaristia do meio dia. Por solicitação o convento realiza outros serviços religiosos.
Os rituais são realizados de modo tradicional, em particular na Páscoa em que há muitos visitantes.
O convento tem disponíveis 35 quartos para os visitantes e em algumas épocas do ano juntam-se muitas pessoas. É também o caso do Natal e a passagem de ano que tem lugar na capela. Só quinze minutos depois do ano entrar é que é aberto o champanhe. Uma outra altura que reúne muitos visitantes é na Semana da Espiritualidade que se realiza anualmente na quarta semana a seguir à Páscoa.
Um ambiente único
Um outro motivo porque o ambiente do Convento propicia uma experiência única deve-se ao facto de não ter sido alterada a fisionomia da casa nem as rotinas da comunidade religiosa por causa dos visitantes.
Como o arquiteto que desenhou as instalações na recuperação das ruínas em meados do século passado gostou de adensar a descoberta, o resultado é um espaço labiríntico. Corredores, escadas, salas... que se cruzam e desdobram. Nos dois pisos.
Há uma ala reservada para a comunidade religiosa e o acesso está assinalado.
É no claustro que temos uma noção mais próxima da dimensão da casa do Convento de Balsamão. O claustro tem muitas laranjeiras e aves que aproveitam o sossego e fazem também um retiro.
Em termos patrimoniais o Convento tem ainda um museu com muitos objetos de arte sacra desde o século XVIII, pinturas e fotografias de vários membros da comunidade.
Um outro espaço “museológico” que se pode visitar é o quarto o Padre Frei Casimiro. José Wyszinski, de origem polaca, foi o fundador da Congregação dos Marianos de Balsamão. Chegou aqui em 1754 e morreu um ano depois. Os populares chamaram-no de “Santo Polaco” devido à estima que recolheu. O quarto tem alguns objetos pessoais e pretende reproduzir o modo simples e austero como vivia.
Um dos cinco "umbigos da Terra"
O exterior do convento é o terceiro motivo que transforma a passagem por Balsamão numa experiência singular.
O convento está no topo do Monte do Carrascal e que hoje adoptou o nome do Convento, no concelho de Macedo de Cavaleiros. A 550 metros de altitude. A subida é íngreme e quando entramos na propriedade do convento passamos ao lado de sete capelas brancas, cada uma com o seu significado.
No topo, próximo da casa, está uma estátua de Frei Casimiro. Além das construções religiosas o mais relevante é a paisagem natural. Não muito longe está a Serra de Bornes, o “monte mel” e, em sentido oposto, está a aldeia e o Monte Morais que tem uma vegetação rasteira e é pouco fértil. Por isso é designado de “Monte Maldito”. Será um dos “cinco umbigos do Mundo” e faz parte do Geoparque Terras de Cavaleiros.
Um dos geossitios do Parque, o Poço dos Paus está dentro da propriedade do convento e revela rochas que se formaram no fundo do antigo oceano Rheic. As rochas são grandes, mais escuras e formam o leito de uma ribeira. É um lugar calmo, com muitas árvores e em anos chuvosos a ribeira pode funcionar como praia fluvial.
O Convento de Balsamão tem ainda um outro lugar muito aprazível: as Termas da Abelheira. Ficam no meio do monte e estão rodeadas de verde. Nesta altura o balneário está desativado.
Foram termas famosas e além das propriedades da água sulfurosa havia a associação à história da senhora com um bálsamo na mão (que está no origem da eremita e do santuário) que curou as feridas dos soldados cristãos e ajudou a vencer os mouros provocando uma chacina. Daí o nome de “Chacim” à terra vizinha do convento.
A comunidade pretende agora reativar as termas mas com o balneário junto ao convento.
Os visitantes podem ainda partilhar experiências como tratar dos animais, colher laranjas e figos da índia e ajudar na reflorestação com espécies autóctones.
Podem também ajudar nos cereais que vão ser produzidos para uma cerveja artesanal. Esta cerveja tem um contexto histórico interessante: um dos fundadores da comunidade, de origem checa, convenceu os restantes que durante a Páscoa cada um deles devia beber cinco litros de cerveja por dia. Trouxe uma receita que vai agora ser retomada (e não é apenas para o período pascal).
No convento são ainda produzidos doces de frutas que são servidos ao pequeno almoço e também podem ser adquiridos pelos visitantes.
O objetivo destes rendimentos é garantir a sustentabilidade económica da comunidade e a sua autonomia de modo a diminuir os riscos da extinção neste local.
Dormir no Convento de Balsamão em silêncio e paz faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
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