1. Como/quando começou o “bichinho” das viagens?

Esteve sempre presente. A partir do momento em que temos a sorte – porque se trata de sorte – de nascer/crescer numa família inclusiva, em que os pais fazem questão de nos levar sempre de férias com eles (seja qual for o destino), viajar torna-se parte do nosso crescimento, forma de estar e ver o mundo, para além de moldar a nossa personalidade e as nossas escolhas. Foi graças aos meus pais que conheci logo desde muito cedo grande parte da Europa, viajei até à China, estive em alguns países de África e do Médio Oriente e também em várias ilhas das Caraíbas.

Com a idade, e nomeadamente a partir do meu ano de Eramus em Paris (2007-2008), comecei a ganhar bastante autonomia e a organizar viagens com os amigos, tendo passado pela Birmânia, Tailândia, Cambodja, Estados Unidos e Colômbia, por exemplo. Quando estes começaram a organizar a sua vida, começou a ser mais difícil ter companhia. Experimentei ainda 2 viagens por agências de aventura (Madagáscar, Guatemala, El Salvador e Nicarágua), onde privei com pessoas que já tinham um pensamento um bocadinho “à frente” do meu - e foi aí que, após um longo processo de maturação, dei o passo seguinte - o de começar a viajar sozinha.

2. Além de viajar, gosta muito de…

Pergunta difícil… gosto muito de pensar na viagem seguinte quando não estou a viajar e, por isso, raramente estou sem nenhuma viagem marcada. Habitualmente, quando volto já estou em countdown para a seguinte.

Não posso responder que adoro estar na cozinha (não sei cozinhar de forma socialmente aceitável, eheh), que guardo sempre um “tempinho” ao final da tarde para ler (não tenho esse “tempinho“ habitualmente) ou que sou fanática do ginásio (sou uma preguiçosa, vou por necessidade/ obrigação!). Por isso, respondo que tenho a alegria de ter feito uma escolha profissional feliz e que apesar das dificuldades que todos vivemos atualmente, adoro ser médica em contexto de urgência e isso é algo que me dá muito prazer, fazendo-me trabalhar mais do que na verdade precisaria. Ter-me em simultâneo focado na Medicina de Viagens, conciliando a formação teórica na área e experiência prática adquirida, é algo que também me fascina pelo que adoro preparar grupos de viagem ou viajantes individuais no âmbito da Consulta do Viajante Online® (IG @consultadoviajanteonline). No fundo, sinto-me a viajar com cada um eles.

3. Quantos países já visitou?

Durante muito, muito tempo, abstrai-me de fazer qualquer tipo de contagem. A resposta era, invariavelmente, “muitos”. “Então e a quantos países já foste?” “xiii, tantos…”. E dessa resposta generalista afunilava-se a conversa rapidamente para este ou aquele país que, por algum motivo, me tinha apaixonado mais. Com o aparecimento de aplicações de telemóvel que permitem contar países, principados ou cidades, a curiosidade instalou-se. Contudo, não fiquei satisfeita com nenhuma delas, então, num dia mais calmo imprimi da internet, uma lista com todos os países do mundo… e foi aí que me apercebi que já ia nos 67, muito acima de qualquer expectativa. Uns mais surpreendentes, outros menos marcantes, como em tudo na vida, mas cada um deles com características únicas.

4. Viagens mais marcantes e porquê?

A minha viagem mais marcante será sempre a respeitante ao ano de 2018, no qual fiz sozinha um mochilão de 5 meses (2 dos quais no Hawaii e 3 na América do Sul), seguindo-se outros 3 meses em que fui trabalhar para um cruzeiro de luxo nas Caraíbas simplesmente pela experiência e aventura. Esta foi a viagem mais transformadora da minha vida, a que reorganizou prioridades e definiu o caminho para uma vida mais equilibrada e satisfatória. Ainda hoje, mantenho contacto regular com pessoas que conheci nessas ocasiões.

5. Destino que quer regressar e porquê?

Voltaria sem qualquer hesitação ao Chile e à Islândia, países que apesar de tão distantes (praticamente em pontas opostas do mundo) têm tanto em comum.

O Chile é um país maravilhoso que respira a essência da América do Sul, mas com um toque familiar trazido por vários emigrantes que nos últimos anos se têm fixado em algumas vilas e cidades, desenvolvendo aí o comércio e hotelaria. As paisagens são sublimes, desde as terras frias da Patagónia passando por parques naturais como o Queulat, a vida boémia de Valparaíso, o rebuliço de uma grande cidade sul-americana como Santiago ou o indescritível Atacama.

Aqui mais perto, a Islândia foi a minha grande surpresa de 2020 e apresenta igualmente paisagens difíceis de igualar, sendo os fatores menos encorajadores o custo de vida e o clima.

6. Próximos destinos e expectativas. Tendo em conta a atual conjuntura, como acha que vão ser as viagens durante e pós-Covid-19?

Tendo voltado recentemente do Egito, os próximos destinos são, se for possível, Jordânia (3ª tentativa) e alguns dos parques naturais dos Estados Unidos da América. Muitas destas viagens (e outras que se seguirão) já são remarcações. A vontade mantém-se, mas deixei de ter expectativas uma vez que as regras estão a mudar todos os dias e os cancelamentos são mais que frequentes.

Viajar nestes tempos é, sem dúvida, arriscado e para mim um conflito ético. Os viajantes continuam a ser das populações assintomáticas mais rastreadas com teste PCR, o que só por si permite despistar (mas nunca a 100%) possíveis casos de infeção. Contudo, a adoção das medidas de prevenção têm de ser cada um e, sobretudo em viagem, reforçadas uma vez que muitos países são (ainda mais) desrespeitadores das recomendações do que nós portugueses. Um dos grandes problemas continua a residir nos comportamentos individuais e na questão cultural, e não há teste que rastreie ou limite isso. Quem não cumpre dentro de fronteiras também não cumpre fora, e isso é verdadeiramente problemático, até porque as pessoas de férias tendem a estar mais “relaxadas”.

No meu caso particular, o grau de risco a que estou exposta diminui largamente quando estou em viagem - em que tenho apenas comigo o meu companheiro e evito socializar com outras pessoas – versus quando estou a trabalhar longas horas com doentes COVID-19.

7. Dica de viagem mais valiosa que pode dar

Vou parecer suspeita na minha resposta porque esta é a minha área de trabalho, mas acredito honestamente que a dica mais valiosa que posso oferecer é a de zelarmos pela nossa saúde antes da viagem começar, antecipando quaisquer ocorrências que possam surgir. Nada pode ser tão impeditivo de uma viagem bem sucedida como não nos sentirmos a 100% para desfrutar dela, ou pior, ficarmos doentes a meio.

Por esse motivo, recomendo sempre a Consulta do Viajante, assim como que se façam acompanhar de um Seguro de Saúde que cubra os objetivos da viagem. Concretizando: não faz sentido alguém gastar centenas (milhares?) de euros para ir com a família para um destino de sonho, se passar metade dos dias na cama ou na casa-de-banho. Ou viajar para um destino com incidência importante de casos de malária e pensarmos que só acontece aos outros, ou que os receios e mitos associados aos antimaláricos são mais importantes que uma proteção eficaz. Ou (pior, mas infelizmente real), continuarmos mundialmente a ter casos de turistas que morrem por terem contactos com animais com raiva, não sabendo que a mesma é uma doença mortal mas que seria facilmente evitável com aconselhamento prévio adequado. A minha dica mais valiosa, e sem dúvida nenhuma a que oferece maior retorno, é portanto no sentido de apostar na prevenção e educação deste tipo de situações.

8. Lugar preferido em Portugal

Passei muito da minha infância e adolescência no Algarve (que conheço relativamente bem), já explorei o norte e tive a oportunidade de voltar aos Açores por duas vezes este ano. Contudo, não posso deixar de enaltecer a Zona Centro como a minha zona favorita do país. A proximidade geográfica terá certamente um peso nisso (resido na área de Oeiras), mas é uma “escapadinha” acessível para uns dias perfeitos. Numa área relativamente próxima, toda a faixa que cobre Óbidos, Foz do Arelho, Nazaré, S. Pedro de Moel e depois passando para o interior, Batalha, Alcobaça, Tomar, Fátima, Serra de Aire, Ferreira do Zêzere ou Dornes é, na minha opinião, mágica, com uma oferta bastante completa em termos paisagísticos e culturais e por isso altamente recomendável.

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