Reconhecida pelas penas brancas e pretas e um tufo amarelo, a espécie sobreviveu por pouco ao massacre cometido entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX por caçadores de focas no Arquipélago Crozet.

"No final", quando não existiam mais focas para caçar, "os caçadores passaram a usar as aves como combustível, queimando-as para derreter a gordura das focas. Depois de um certo tempo, passaram a produzir óleo de pinguim. Mas não era de boa qualidade", conta Robin Cristofari, especialista em pinguins da Universidade de Turku, na Finlândia.

"A espécie esteve à beira da extinção", lembra o cientista, enquanto observa a colónia de pinguins nesta ilha localizada nas Terras Austrais e Antárticas Francesas (TAAF).

A população de aves restabeleceu-se no século XX, "mas estagnou há 20 anos", explica Cristofari. Acrescenta que "após um primeiro obstáculo, a espécie enfrenta outro ainda maior: o aquecimento global".

Jornada reprodutiva

O pinguim-rei passa a vida no mar e só volta à terra para pôr os ovos.

Para isso, precisa de um local seco, mas a uma distância razoável da frente polar: área onde as águas quentes e frias do Oceano Índico se encontram. Lá eles vão alimentar-se de plâncton e peixes.

A frente polar está localizada 350 quilómetros ao sul do Arquipélago Crozet no inverno. No entanto, em anos muito quentes pode ir até 750 quilómetros de distância, longe demais para o animal alimentar-se e voltar a tempo de acasalar e alimentar o filhote.

Arquipélago Crozet
Colónia de pinguins-rei no Arquipélago Crozet créditos: AFP

"O sucesso da reprodução depende da distância da frente polar", resume Robin Cristofari.

Com o aquecimento global, a frente se desloca para o sul e, eventualmente, Crozet pode se tornar inabitável para esses pinguins, que precisarão mudar-se para outras ilhas mais a sul.

Dos quase um milhão de pares registados no mundo, a metade reproduz-se nas Ilhas Crozet e 300.000 nas Ilhas Kerguelen, 1.400 quilómetros mais a leste.

Embora os investigadores não acreditem que a espécie corra risco de desaparecer "nos próximos 50 anos", o seu modo de vida pode ser seriamente alterado, diz Cristofari.

Guarda alternativa

Um pinguim, que vive em média 25 anos, tem seu primeiro filhote aos 6 ou 7 anos. "Brincalhão e curioso", irá amontoar-se em gigantescas colónias com o ovo equilibrado nas patas e a barriga para cima.

Machos e fêmeas dividem o trabalho igualmente e trocam o ovo, que está para chocar, um com o outro. Este é um momento perigoso porque os predadores estão à espreita.

Em um ciclo clássico, machos e fêmeas chegam ao Arquipélago Crozet no início de novembro, encontram-se e acasalam. A fêmea botará um ovo, entregará ao macho e irá ao mar para se alimentar.

Arquipélago Crozet
Pinguim-rei no Arquipélago Crozet créditos: AFP

Durante os 50 dias de incubação e no primeiro mês de vida, eles cuidam alternadamente do filhote: podem ficar até um mês sem comer para cuidar do ovo.

Os filhotes são bem alimentados até maio e depois jejuam durante o inverno do sul, embora sejam alimentados pelos pais de vez em quando.

Os jovens pinguins deixam a terra, estimulados pela fome, doze meses após saírem do ovo.

Essa alternância entre alimentação e jejum é de particular interesse para os investigadores.

"É uma espécie que passa de obesa aguda a muito magra várias vezes ao ano", observa Robin Cristofari, algo que "para um organismo humano seria devastador".