Kolmanskop está a 10 km de Luderitz e vê-se facilmente da estrada. Um casario velho, disperso, numa colina desértica e ainda com alguns postes e cabos de electricidade.
Talvez se perceba melhor o contexto se acrescentar um outro elemento que fica muito próximo. Tabuletas na berma da estrada aviam que o território a sul da via está concessionado, há fortes medidas de segurança e é proibido passar.
Este propósito intimidatório tem a ver com as minas de diamantes que ainda funcionam, muito mais a sul, e tudo fazem para evitar o roubo e o comércio ilegal.
Em Kolmanskop também se contam muitas destas histórias.
Do engenho humano para conseguir ultrapassar as rigorosas medidas de vigilância. São histórias que surpreendem. Umas pela simplicidade ou imbecilidade, outras pela imaginação muito fértil. Até ficámos com pena, em alguns casos, pelo mérito da imaginação não ter sido premiada.
As minas não eram exatamente ali. Apenas o controlo logístico e administrativo.
Kolmanskop teve a sua origem na descoberta de um diamante, em 1908, quando estava a ser construído o caminho de ferro até Luderitz. A febre deu origem a um aglomerado de aventureiros e, mais tarde, a uma cidade construída com o gosto e o luxo dos abastados. Em 1920, chegaram a estar 300 alemães.
No entanto, com a descoberta de filões mais ricos a sul, Kolmanskop acabou por ser abandonada a partir dos anos 50 do século passado.
Os edifícios estiveram ao abandono durante vários anos, apesar de ainda pertencerem à concessionária Diamond Área 1.
Nos últimos anos, foi desenvolvido um projeto para aproveitar esta herança e foram reabilitadas algumas instalações, para um museu e para visitas guiadas. Tem de se ter autorização para entrar na zona concessionada.
Os guias explicam a organização e a hierarquia, que era perceptível na ocupação dos espaços: salões, zonas de lazer e restauração para a elite, além da enfermaria e dos armazéns.
Em alguns edifícios havia objetos originais com quase um século de vida. Os da enfermaria não são simpáticos, outros foram restaurados e evidenciam o objectivo dos ocupantes em recriar o conforto e o luxo que tinham nos locais de origem. Não regatearam esforços para isso.
Zonas comuns de lazer, decoradas com materiais importados, um ginásio com um salão para concertos de música clássica, um dos primeiros aparelhos de raio-X na África Austral são alguns exemplos do luxo.
A visita guiada dura menos de uma hora e depois deixam-nos livres para percorrer o espaço, descobrir algumas casas e tirar fotografias.
Foi, aliás, bem interessante porque nunca tinha estado numa casa em que a sala e o quarto estivessem a ser engolidos pela areia do deserto.
Um corredor arenoso e um soalho de areia, inclinado e com alguma altura, foi uma novidade de decoração de interiores.
Sui generis foi também o cenário de olhar para fora, ver o recorte do que foi uma janela e o exterior é um longo deserto. Olha-se para o nada.
Ao percorrermos este espaço, os interiores, as casas elegantes, os caminhos de areia, tivemos uma percepção mais humana do que era viver aqui há mais de um século, no meio do deserto. A ambição (ou a necessidade) que levou muita gente para o nada.
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