A sul do Equador, encontramos um país tão pequeno que quase não se vê nos mapas. Apesar das reduzidas dimensões, as suas paisagens enchem-nos o coração de tão únicas e impressionantes que são. Localizadas em pleno Oceano Índico, as Seychelles são 115 ilhas com uma beleza ímpar, muito à conta das rochas de granito que decoram praias de areia branca e uma vegetação exuberante com palmeiras, coqueiros e outras espécies exóticas. O mar que as toca calmamente tem cores entre o verde e o azul e a temperatura da água pode atingir, dependendo da época do ano, os 30 graus.
São motivos mais do que suficientes para partir à descoberta destas ilhas, que foram avistadas pela primeira vez pelo português Vasco da Gama, em 1502, quando ia a caminho da Índia. Não vendo interesse em explorar as ilhas, seriam os franceses, dois séculos depois, a iniciar o controlo do arquipélago. Mais tarde, os britânicos disputariam este território, que acabaria por se tornar independente apenas em 1976. As influências destes dois países são bem visíveis no território, onde inglês e francês são falados fluentemente, apesar dos habitantes preferirem o crioulo para comunicarem entre si. Da presença portuguesa, quase nada resta, a não ser uma canção popular: “Vasco da Gama, tinhas tudo aqui. Praias de sonho, lindas mulheres e, mesmo assim, não quiseste ficar”. Na época, Vasco da Gama estava mais interessado na riqueza das especiarias do que na beleza das praias. De facto, as Seychelles não são abundantes em recursos e quase tudo é importado. Daí que os preços sejam elevados, sobretudo, na hora das refeições.
Depois de ter estado quatro noites em La Digue, a ilha das boas energias, regressei a Mahé, a ilha principal, onde reside a maior parte da população e onde se encontra a capital Victoria, nome dado em homenagem à rainha de Inglaterra. O barco, cuja viagem demora cerca de 1.30 horas, faz uma pequena paragem em Praslin e, daí, segue para o porto de Mahé. A ilha foi assim batizada por Bertrand François Mahé de la Bourdonnais, antigo governador francês das Maurícias (durante muito tempo, as Seychelles pertenceram às ilhas Maurícias).
Com apenas cerca de 150 quilómetros quadrados, a ilha tem, ainda assim, 111 quilómetros de litoral e 65 praias que merecem uma visita. As mais conhecidas e onde se encontram os hotéis mais luxuosos situam-se na costa oeste. Mas a ilha é também bastante montanhosa. O pico mais alto é o Morne Seychellois com 905 metros de altura, que fica localizado no Parque Nacional com o mesmo nome, a noroeste da ilha. Para nos deslocarmos à capital que fica a nordeste, temos de a atravessar, pelo que não há como fugir ao trajeto sinuoso da montanha.
Para conhecer a ilha, a melhor opção é alugar um carro, tendo em conta que a condução é feita pela esquerda, uma das heranças dos ingleses. Outra alternativa é apanhar um autocarro, cujo bilhete custa sempre 7 rupias (50 cêntimos) independentemente da distância percorrida. Foi desta forma que conheci a capital, a única cidade da ilha e considerada a capital mais pequena do mundo. Apesar disso, é caótica e barulhenta o suficiente para nos lembrarmos que estamos numa cidade.
Vale a pena visitar o mercado, onde encontramos peixe fresco, frutas e legumes, que tem sido o coração do comércio de Victoria nos últimos 176 anos. Achei muito curioso encontrar à entrada sacos reutilizáveis de um material que não é plástico, à disposição de todos.
Não muito longe dali, encontramos a rotunda com um relógio de ferro feito em Londres, em 1903, para honrar a rainha Vitória, uma réplica do famoso Big Ben. E, dado que a grande maioria da população é católica, não é de estranhar encontrarmos a Catedral da Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Os poucos hindus que existem no país podem fazer as suas orações no templo hindu existente na capital, que também se pode visitar.
Percorridas algumas ruas de Victoria, é hora de apanhar de novo um autocarro até uma das praias mais conhecidas e procuradas: Beau Vallon. Situada a noroeste da ilha, é dos areais mais extensos, permitindo longos passeios à beira-mar e mergulhos demorados. Em direção a sul, encontramos Port Launay, uma baía muito tranquila e charmosa, e não muito longe dali, Port Glaud, uma paisagem deslumbrante com a estrada em cima do mar e dominada pelo pequeno ilhéu Anse L’Islette, muito perto da costa. Quando a maré está baixa, é possível caminhar pela água até lá. Quando a maré sobe, há pequenos barcos que ajudam a fazer esse percurso.
Para conhecer as praias do sul da ilha, é aconselhável ir de carro. Para esta zona, os horários dos autocarros são mais escassos e é interessante fazer várias paragens ao longo do percurso, já que as paisagens são realmente bonitas. Vale a pena conhecer Baie Lazare, uma baía muito calma, onde apenas há dois ou três hotéis, Anse Takamaka e Anse Intendance, areais mais selvagens, mas que não deixam de ter o seu encanto. Do lado este da costa, destaco Anse Royale, mais uma praia adorável.
Opções não faltam para descobrir, haja tempo. Mas é hora de fazer as malas e seguir para o aeroporto internacional para a viagem de regresso. Esperam-me 14 horas de viagem e uma escala até aterrar em Lisboa.
Por Helena Simão, blogger do Starting Today
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