Albert Fausel vasculha os rios de Placerville, na Califórnia, há décadas em busca de ouro. Mas a tarefa nunca foi tão fácil, nem tão grande, graças às recentes chuvas torrenciais. "Este ano, há muitos pontos novos" para encontrar ouro, diz Fausel, vestido com roupa de mergulho e snorkel.
Menos de 10 minutos depois de uma visita recente da AFP, Fausel - mergulhando com uma pequena pá para cavar uma fenda no fundo do leito do rio - ressurge com provas. Entre a mistura de argila e areia esvaziada numa bandeja de plástico, partículas brilhantes inconfundíveis brilham intensamente sob o forte sol do meio-dia.
"A mãe natureza tem feito um ótimo trabalho com toda essa enchente", disse. Embora a busca perto da costa tenha rendido "uma pequena quantidade de ouro", ele prevê que, mais perto do meio do rio, "provavelmente haverá pedaços muito maiores e mais pesados".
Fausel coleta a recompensa com uma ferramenta que se assemelha a uma bomba de sucção, antes de ajustar seu snorkel e desaparecer na água.
Ouro de inundação
A Califórnia está a sair de um inverno excecionalmente húmido, com chuvas quase recordes.
Uma série de rios atmosféricos - fitas de humidade de alta altitude - invadiram o oeste dos Estados Unidos, encharcando uma paisagem que havia sido seca por anos de chuvas abaixo da média.
No norte da Califórnia, essas chuvas desencadearam cenas que lembram - ainda que em escala bem menor - a Corrida do Ouro original, que transformou essa região no século XIX, quando milhares de mineiros chegaram em busca de El Dorado.
"Agora, estamos a falar de ouro de inundação", disse Barron Brandon, geólogo e capataz do Rancho do Rio Cosumnes.
As fortes chuvas criam intensas correntes no rio que "lavam" as margens, soltando partículas de lama e ouro, que são então levadas rio abaixo para serem recolhidas por garimpeiros sortudos.
O rio funciona "como uma grande caixa de extração... numa escala muito grande", disse Brandon, que também busca ouro no verão como hobby.
"O verdadeiro ouro é estar aqui fora", acrescentou, sorrindo, enquanto contempla a paisagem de tons azuis e verdes, marcada apenas pelo correr da água.
Febre do ouro
Placerville, a cerca de 70 quilómetros da capital do estado da Califórnia, Sacramento, depende fortemente do turismo, a maioria dos quais tem como tema a sua história dourada.
Pela pequena cidade corre uma estrada chamada "El Dorado Freeway". Lojas com nomes como Ancient Gold Jewelers, Gold Country Artists Gallery e Gold Insurance Solutions pontilham a rua.
Numa loja de brinquedos, capacetes de mineração de plástico e bandejas de garimpo em miniatura ocupam metade do espaço de exibição.
Um hotel na rua principal mantém a estética da Corrida do Ouro original, com móveis do século XIX e fotografias da época.
A loja de ferragens administrada por Fausel vende uma ampla gama de ferramentas de mineração e garimpo, como caixas de extração e detetores de metais, bem como "sementes de ouro", vendidas como souvenirs.
Mas Fausel não está preocupado com uma onda de forasteiros a invadir a região numa nova onda de febre do ouro. "Venha para a Califórnia. Dê a si mesmo a chance de encontrar um pouco de ouro", pediu. "Está aqui para todo mundo. Mas siga todas as regras."
"A Califórnia foi construída com ouro"
Mark Dayton, um caçador de tesouros local com milhões de visualizações no seu canal no YouTube, diz que muitos dos seus seguidores ouviram falar sobre as chuvas e estão a caminho. Ele atribui o fascínio generalizado do público pelo ouro devido aos contos e filmes de piratas e tesouros.
Uma das principais atrações de Placerville é o Gold Bug Park e o Mine, que atrai muitos grupos escolares. "As crianças estão sempre interessadas no ouro... a Califórnia foi construída com ouro", disse Pat Layne, um guia voluntário de 80 anos que trabalhou na mineração de ouro por décadas.
"O que tentamos passar para eles é a verdadeira história, não a versão hollywoodiana da Corrida do Ouro", acrescentou.
Ao lado de um afluente do rio ao lado da extinta mina, Layne descreve aos visitantes como já houve "centenas de mineiros aqui neste riacho, exatamente onde estamos, trabalhando, garimpando ouro".
"Aqui houve muita riqueza... o ouro foi entregue aos riachos pela mãe natureza ao longo de milhões de anos".
A enorme quantidade de chuva deste inverno ajudou a recriar essas condições, numa escala muito mais breve e acelerada. Quando "a água se move, o ouro se move", disse o guia.
Comentários