A Praia Vermelha faz jus ao seu nome, ou não abundasse o tom vermelho na faixa de areia escura e nos rochedos vulcânicos, ficando ao alcance de uma breve caminhada. Mesmo com placas de aviso de que se trata de uma área restrita devido à eventual queda de pedras, a verdade é que as gentes a catam como se de uma caça ao ouro se tratasse.  Muito diferente na tonalidade e extensão, ainda que não na procura e beleza, se apresentou a Praia Kamari. Perto dali é imperdível a costa sudeste de Santorini, com a vila costeira de Perissa, conhecida principalmente pela sua praia de areia preta que se alonga por vários quilómetros, e que, juntamente com a praia de Perivolos e Agios Georgios constituem a maior extensão de areal da ilha. Ainda que sejam centros balneares de boa energia e notória exultação humana, talvez a última praia referida seja um pouco mais sossegada, ou não fosse remota o suficiente.

Contudo, nem só de água salgada nos nutrimos. Os afamados vinhos de Santorini foram grandes parceiros de conversas e silêncios, sempre devidamente acompanhados da absolutamente divinal cozinha mediterrânea. Repastos que exigiam algumas caminhadas, durante as quais o pequeno Viajante X sempre aproveitava para fazer as suas sestas.

Um dos lugares que me entusiasmou muito, além dos paraísos já narrados noutra crónica, localiza-se no ponto mais alto de Santorini, Pyrgos, a antiga capital da ilha. Construída em forma de anfiteatro na colina e com casas tradicionais construídas em torno do castelo veneziano, esta vila é adornada com vielas sinuosas que seguem o fluxo natural do espaço. A vila possui várias igrejas, mas a mais impressionante é certamente o Mosteiro de Profitis Ilias, localizado no topo da montanha com o mesmo nome. À medida que se sobe a praça até ao castelo de Pyrgos, as casas de pedra tornam-se mais densas e as ruas num labirinto claramente construído para nos perdermos, distraídos pela falta de fôlego da subida e pelas vistas arrebatadoras. Neste local senti-me mais próxima da realidade grega, ou não fosse a confusão por estas bandas substancialmente menor, comparativamente à de outras vilas da ilha.

Outro passeio que me encantou foi ao farol de Akrotiri, que marca o extremo da ponta sudoeste de Santorini. Com construção do século XIX, proporciona um passeio calmo e esquecido da multidão, além de oferecer do muro de pedra em torno do pátio principal um dos mais bonitos entardeceres da ilha, com vistas deslumbrantes sobre a Caldeira e para o Mar Egeu.

Não houve um único dia que não tenhamos ficado arrebatados com os tons avermelhados que o céu ia ganhando morosamente, tamanha a preguiça que o sol parecia ter, impondo-se indubitavelmente o ritmo de quem ouve o fluxo do mundo, num encontro entre a poesia e o sagrado.

Exagerada confesso, assumo que cheguei a dizer ao Viajante Ilustrador que, por instantes, os ocasos pareciam capazes de nos engolir junto com o infinito do horizonte, quase como que nos atirando para a curvatura do espaço e do tempo, para a geometria invisível do universo.

Nunca se desviando da sua lente e do futuro, o homem da fotografia reservou-se ao silêncio e adiantou, entre disparos, mais um copo de vinho.