Percorrer o seu feed de Instagram é como entrar num programa de vida selvagem. Natural de Almada, Artur Cabral ganhou o "bichinho" das viagens na tenra idade e, desde que começou a viajar por sua conta, nunca mais parou. O seu lugar preferido no mundo? A cratera do Ngorongoro. O destino de sonho que ainda almeja conhecer? Austrália. O maior susto que já apanhou em viagem foi na Zâmbia, mas para descobrirem esta história terão de continuar a ler a entrevista ao nosso Viajante do Mês de janeiro.

Como/quando começou o “bichinho” das viagens?

Tive a felicidade de sempre ter viajado muito com os meus pais, tendo começado ainda em bebé. Ou porque o meu pai trabalhava fora e passávamos alguns meses por ano onde ele estava, ou porque íamos de férias para aqui ou para ali. Ainda não tinha um ano de idade e já andava de avião de um lado para o outro.

As “minhas” viagens só começaram mais tarde, já aos 30, quando consegui ter capacidade financeira para me aventurar por minha conta para mais longe, e depois disso não parei mais! Há destinos de que gosto tanto, que a melhor forma de conseguir voltar foi começar a organizar grupos para os acompanhar.

De que forma tenta inspirar os seus seguidores no Instagram?

Principalmente, através das fotografias que vou fazendo pelos locais por onde passo. Não mostrando apenas o lado idílico das coisas, mas a realidade com que me vou deparando, as pessoas, os ambientes, os detalhes, a vida selvagem (sempre presente nos meus destinos de eleição). Depois, a forma como publico e organizo o meu mural, sempre com três imagens do mesmo tema, o tom e o alinhamento; acaba por criar uma mancha gráfica que procuro que seja mais apelativa e agradável para quem vê.

Além de viajar, gosta muito de…

Fotografar! Aliás, os destinos que escolho têm sempre a fotogenia como principal motivo de escolha. Sou arquiteto de formação e foi nessa área que trabalhei durante mais de 10 anos, até chegar a um ponto de saturação. Larguei tudo para me dedicar à fotografia, que apesar de não ter formação, sempre foi uma paixão. E, claro, juntar a fotografia às viagens é sempre altamente gratificante!

Viagens mais marcantes e porquê?

A Tanzânia é o país onde mais vezes vou (pelas viagens que organizo e acompanho) e não é por acaso. Tem tudo aquilo que eu adoro quando viajo. Foi um dos países onde o meu pai trabalhou, e que me fez visitar várias vezes enquanto bebé/criança, mas as memórias que tenho dessa altura são apenas de histórias que me contam ou fotos que vejo.

Tendo depois crescido a ver e a adorar tudo o que eram programas sobre vida selvagem, assim que consegui decidi viajar por lá. Tem a parte de safari que tanto adoro, as intermináveis savanas, as tribos indígenas, as paisagens deslumbrantes, as praias deliciosas em Zanzibar, e, acima de tudo, aquele que considero o meu local preferido no mundo (que conheço), a cratera do Ngorongoro. Uma gigantesca cratera de um vulcão extinto, que ao longo de milhares de anos foi criando naturalmente condições de excelência para que os animais selvagens se sintam tão bem durante todo o ano que nem sentem a necessidade de migrar.

Destino que quer regressar e porquê?

Madagáscar foi um país que só não me surpreendeu porque eu já ia com as expectativas bem lá em cima! É uma ilha muito própria, com muitas espécies de animais e plantas endémicos e que não vemos em mais lado nenhum. Paisagens de perder o fôlego, praias hipnotizantes de águas quentes e transparentes, pessoas com traços de mistura entre o asiático e o africano, muito bonitas e simpáticas. Tive 20 dias e só conheci um bocadinho da ilha, e fiquei cheio de vontade de regressar!

Madagáscar
Madagáscar créditos: Artur Cabral

O Botswana é outro país que gostei bastante, e claro, também associado ao safari que tanto gosto. Muito diferente da “minha” Tanzânia, porque em vez de vermos aquelas planícies intermináveis, aqui é tudo mais ao redor dos rios. Navegar ou sobrevoar o delta do Okawango que desagua em terra (e não no mar como é habitual) é uma aventura sem igual. Já estive duas vezes e quero ver se regresso para ver mais e melhor, sempre com a fotografia em mente!

Maior peripécia, susto ou experiência marcante que já passou em viagem?

Qualquer momento em que estamos a menos de cinco metros e cara a cara, olhos nos olhos com um animal selvagem como um brutal leopardo (o meu favorito), um majestoso leão ou um gigantesco elefante, dá sempre aquele misto de sensações onde rimos e choramos, estamos felizes e assustados, tudo ao mesmo tempo.

Susto valente e bem real apanhei na Zâmbia, quando uma tempestade acompanhada por um pequeno furacão que surgiu do nada ia levando pelos ares a tenda onde estávamos, que até era uma estrutura forte em ferro, sobre uma base de cimento. Estávamos lá dentro a descansar um pouco e a preparar mais uma saída para um safari, e, de repente, a parte da frente da tenda levantou voo e acabou toda partida, enquanto tentávamos salvar o nosso material, colocando-o na zona da casa de banho que era construída em tijolo, em teoria mais resistente.

Ou então, uma “aventura” em que me meti nem sei bem como, no Zimbabwe, quando resolvi testar as minhas vertigens, e inscrevi-me para fazer um pacote de três saltos sobre a falésia com cerca de 120m de altura junto às Cataratas Vitória. Pensei que teria de ser forte, mas, acima de tudo, o que queria mesmo era fazer umas boas imagens com a GoPro que levava presa na mão. Resultado, o meu ar de pânico é tal que nunca tive coragem para mostrar esses vídeos a ninguém!

O primeiro destino da “bucket list” das próximas viagens.

O destino de sonho é a Austrália, mas provavelmente não será a próxima viagem a acontecer.

Bem, as próximas viagens já sei que serão de regresso à Tanzânia com outros grupos. Assim como provavelmente, e também nas mesmas circunstâncias, estão no horizonte regressos a São Tomé e Príncipe e Pantanal.

Mas sim, destino novo que tenho mais vontade/curiosidade em desbravar é mesmo a Austrália. Mas sei que isso só com tempo e dinheiro, para ser minimamente bem feito. Depois, países como o Panamá, Etiópia, Senegal, Guiné-Bissau, Timor, Vanuatu, entre muitos outros, têm passeado muito pela minha mente nos últimos tempos.

Dica de viagem mais valiosa que pode dar.

Evitar comparações!

É terrível quando o pessoal está constantemente a querer comparar o que está a viver com o que tem em casa ou com o que viu noutra qualquer viagem. Não é por conhecermos determinada realidade de uma forma que, quando nos deparamos com outra que é diferente, faz dessa pior. Temos de perder aquela tendência do colonizador, que por onde passa quer tentar mudar tudo, porque “lá em casa fazemos assim e é melhor”. O que é melhor num sítio pode não ser fora desse contexto. Por exemplo, uma coisa por parecer mais simples, não quer dizer que seja pior, é apenas diferente. E pode ser o mais indicado para aquele sítio. É lógico que podemos ajudar no que for preciso, mas temos de perceber primeiro o que é de facto necessário, e não apenas tentar impor a nossa realidade.

Dica para quem tirar melhores fotografias em viagem.

Dar tempo para que as coisas aconteçam. Encontrar os melhores locais e demorarmo-nos por lá. Uma rua, um edifício, uma esquina, uma porta que nos chame à atenção, e ficar por ali um pouco. Se dermos tempo alguma coisa irá fazer com que a nossa foto passe de engraçada para fantástica. Uma pessoa que passa, a luz que melhora, a porta que abre, a criança que espreita…

Chegar mais perto, usar as nossas pernas como zoom (menos quando estamos a fotografar um leão, ehehe). Com as pessoas, a fotografia pode ser uma ótima forma de nos conectarmos com alguém que até pode não falar a nossa língua, mas que sorri como nós!

Mostrar sempre o resultado das nossas imagens às pessoas que nelas aparecem e, se possível, trocar contactos para depois enviar as fotos. Ou, se soubermos que vamos voltar ao mesmo sítio, tentar imprimir e levar as fotos para oferecer. Aquilo que nós damos como adquirido como ter uma foto, uma impressão, pode ser a primeira ou única foto que aquela pessoa pode vir a ter.

Príncipe
Príncipe créditos: Artur Cabral

Lugar preferido em Portugal.

Até fico meio envergonhado ao confessar isto, mas na verdade nem sou grande conhecedor do nosso Portugal.

Gosto imenso de Lisboa, da luz da cidade, da diferença de escalas com que nos vamos deparando ao andar pelas ruelas estreitas e, de repente, nos deparamos com os monumentos gigantescos, ou com quando desembocamos perto do rio e vemos uma parede gigantesca de um barco atracado, ou temos visão para o rio e nos aparece o pórtico da Lisnave. As colinas que nos vão criando miradouros, os muitos jardins que nos permitem aqueles momentos de relaxe, bons restaurantes por todo o lado…

Saindo da grande cidade, gosto muito do Alentejo. Quer da zona do litoral com as praias recortadas pelas falésias, como dos campos a perder de vista (se calhar porque me fazem lembrar das savanas africanas). Descobrir castelos ou povoações muralhadas, ruas cercadas e sombreadas por árvores centenárias, ou aqueles sobreiros isolados no meio do campo.