"As pessoas foram-se e a natureza voltou", resume Denis Vishnevski, engenheiro responsável pela "zona de exclusão", uma área de 30 km ao redor do local do acidente. Ao seu lado, alguns cavalos silvestres procuram comida sob uma espessa camada de neve intocada.

Uma imagem que poderia parecer surrealista para aqueles que guardam a recordação do drama de Chernobyl e das suas fatídicas consequências.

Em 26 de abril de 1986, explodiu o quarto reator da central de Chernobyl, no norte da república socialista soviética da Ucrânia, estendendo a contaminação a boa parte da Europa. Num raio de 10 km ao redor da central, o nível de radiação continua a alcançar 1.700 nano sieverts, um número entre 10 e 35 vezes superior à norma observada nos Estados Unidos.

Segundo Vishnevski, que também é zoólogo, a presença humana é muito mais nociva para os animais que as radiações.

A fauna da zona tem uma expectativa de vida menor e uma taxa de reprodução inferior devido aos efeitos da radiação. Contudo, o número e a variedade aumentaram a um ritmo inédito após a queda da União Soviética, em 1991.

"Aqui a radiação está por toda parte, e isso tem efeitos negativos", declara Vishnevski. "Mas é menos significativo que a ausência de intervenção humana", completa. Nos dias seguintes à explosão, mais de 130.000 pessoas foram evacuadas da região, deixando para trás instalações que parece que ficaram congeladas no tempo.

Um ambiente que renasceu

Logo após o desastre, cerca de 10 km² de pinhais que rodeavam a central foram destruídos devido a terem absorvido um alto nível de radiação, e os pássaros, roedores e insetos que viviam ali também desapareceram.

O local do "Bosque Vermelho", chamado assim pela cor das árvores danificadas, foi arrasado com escavadeiras e os pinheiros mortos enterrados como dejetos nucleares.

Contudo, desde então surgiu no mesmo local um novo bosque de pinheiros e videiras, mais resistentes à radiação. E a natureza experimentou transformações bastante curiosas.

Por uma lado, desapareceram as espécies dependentes dos dejetos produzidos por humanos, como as cegonhas, os pardais e os pombos. Ao mesmo tempo, ressurgiram espécies nativas que haviam prosperado muito antes da catástrofe, como lobos, ursos, linces e águias.

Em 1990, alguns cavalos de Przewalski, em vias de extinção, foram levados ao local para ver se poderiam reproduzir-se.

O experimento foi tão bom que hoje em dia mais de cem exemplares pastam tranquilamente nos campos vazios. "É o que chamamos de renascimento ambiental", comenta Vishnevski.

Marina Shkvyria, investigadora do Instituto de Zoologia Shmalhausen, que vigia a região de Chernobyl, adverte, contudo, que a grande quantidade de turistas que visitam a zona e os funcionários de manutenção da central estão a deteriorar a natureza.

"Não podemos dizer que seja um paraíso para os animais", destaca. "Muitas pessoas trabalham na central. E há turistas e caçadores ilegais", completa.

O foco agora passar por aprender a usar esta biosfera emergente sem causar danos, declara o engenheiro Vishnevski.

"O contraste entre a Chernobyl de antes da catástrofe e o que vemos trinta anos depois é surpreendente", declara. "Estes animais são talvez a única consequência positiva da terrível catástrofe".

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