The Royal Yacht Britannia, de seu nome, e de berço escocês, percorreu mais de um milhão de milhas náuticas desde o seu lançamento oficial em abril de 1953 até à sua merecida “reforma” em 1997. Desde então está atracado no porto de Leigh, em Edimburgo, e é das atrações turísticas mais visitadas da cidade.
Uma das mais célebres embarcações do mundo e embaixadora naval ao serviço de sua majestade e do Reino Unido, não só transportou a rainha e membros da família real em viagens oficiais a diversos países, dentro e fora da Commonwealth – no total foram 968 visitas de Estado -, como também foi utilizada em viagens de lazer, férias e de lua-de-mel, com destaque para a de Carlos e Diana e a de André e Sarah Ferguson, que levou os últimos a um cruzeiro nos Açores.
A bordo recebeu personalidades, empresários e altos dignitários de todo o planeta, entre eles nomes como Rajiv Gandhi, Dwight Eisenhower, Winston Churchill, Ronald Reagan ou Nelson Mandela. Mas também acolheu cidadãos comuns quando, na sua qualidade de navio da Royal Navy sem função de combate, foi solicitado a evacuar cidadãos britânicos e outros no deflagrar da guerra civil no Iémen do Sul em 1986 .
Foi também a bordo do Britannia, que a rainha Isabel e o príncipe Filipe chegaram a Lisboa, em fevereiro de 1957, para uma visita oficial que teve início no Cais das Colunas.
Uma tripulação de 20 oficiais e 220 marinheiros, “yotties” escolhidos a dedo pelos diferentes comandantes que ali serviram, mantinha o navio operacional e em todo seu esplendor.
Navio de luxo, mas de uma discreta elegância que desdenha da ostentação e transporta uma atmosfera de Velho Mundo.
Aqui a rainha cumpria uma agenda diária que normalmente tinha início às 7:30, ao despertar com uma chávena de chá e leite, servido pela sua camareira pessoal; seguido de um banho de imersão à temperatura certa, controlada por um termómetro, e pequeno-almoço. E terminava quando recolhia ao quarto pelas 23:00, salvo se algum assunto urgente requeresse a sua atenção noite dentro.
Pelo meio, as refeições em família e, acompanhada da secretária, o expediente de trabalho na documentação que diariamente lhe chegava dos vários departamentos governamentais bem como correspondência privada.
Mas além da rotina em dias de navegação, o navio tinha uma outra bem oleada: as magníficas receções e banquetes de Estado em que acolhia personalidades de diferentes geografias e com o apuro e protocolo de uma residência real e verdadeiro palácio flutuante. Apesar das condições precárias de alojamento para a tripulação, instalações bastante acanhadas, servir no Britannia constituía uma honra para aqueles que se candidatavam e eram selecionados.
Hoje, podemos visitar o Britannia e ver como era viver nesse palácio dos mares. Um Rolls-Royce usado pela rainha em terra ainda lá está. Exploramos os diferentes andares e imaginamos toda a organizada e meticulosa azáfama que ali decorria para proporcionar segurança e conforto à família real. Talvez por isso, surpreendemo-nos com a simplicidade dos aposentos privados, falamos dos quartos da rainha e do duque de Edimburgo, diferentes na sua decoração, mas ambos notáveis pela ausência de luxo supérfluo.
Muitas das delícias outrora servidas a bordo continuam a ser fabricadas na sua cozinha e podem ser compradas ou saboreadas no Royal Deck Tea Room (uma adição de 2009). Não resistimos ao aroma quente e convidativo dos doces que emanava da cozinha e levámos uns deliciosos fudges...
Mas quem tiver bolsos recheados, pode alugar esta magnífica embarcação (como Ursula Andress, a icónica “Bond girl”, que aqui festejou os seus 70 anos) e recriar um jantar de gala a preceito. O iate é dos locais históricos mais requisitados para eventos no país. E nem precisa de se preocupar se exagerar nos brindes. Para pernoitar, tem uma embarcação-irmã e vizinha, o hotel flutuante Fingal.
Só não se fie nos relógios de bordo, todos a marcarem as 3:01, hora em que a rainha desembarcou pela última vez antes da derradeira viagem oficial do Britannia pelo Reino Unido em 1997.
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