No meio do aeroporto de Lisboa, pronto a voar para as Canárias, fui entrevistando e “ouvindo” um dos Grandes Viajantes Mundiais e que, para nosso orgulho, é português: Luís Filipe Gaspar (www.luisfilipegaspar.com). Já conhece, mesmo, todos os países do mundo. Pedi-lhe que me falasse sobre o que é ser "viajante COVID-19". Faz constantes viagens desde o início da pandemia (pois sempre viajou) e em modo “non-stop”.

Aviões plenos de máscaras é cenário comum, habituámo-nos já. Mas será que se vai habituar a outro cenário? Aeroportos vazios, corredores fantasma, restaurantes e lojas de aeroportos quase anuladas, tapetes de bagagens sem nada ou quase nada. Rodando sem parar, como se fosse um barulhinho arrepiante. Jamais visto ou ouvido. O Luís sentiu essa ‘pancada’ astronómica na primeira viagem quando se escancarou esta pandemia: no aeroporto de Frankfurt, um dos mais movimentados do mundo.

Aeroportos-fantasma e fintar imprevistos aéreos. Viajante português conta como é viajar em tempos de pandemia
créditos: Luís Filipe Gaspar
Aeroportos vazios
créditos: Luís Filipe Gaspar

Na chegada a Frankfurt alugou um carro e começou a sua viagem pelo país todo. Viajar por terra é a escolha viável. Mas, como o objetivo final era atingir as ilhas Hébridas, na Escócia, enfrentou um problema que tem sido comum nesta fase e a se que deve começar a habituar: céus fecham e aviões param. O espaço aéreo de Bruxelas fechou naquele momento e precisava de voar por lá antes de entrar na Escócia. Decidiu logo outra forma mais rápida e que deve incluir para opção segura de 2021: apanhar o comboio. Saiu na Gare Central de Bruxelas. Depois de dois dias na bonita cidade achocolatada e tendo feito o teste à COVID-19 (teste PCR) no hotel, então apanhou um avião privado para o Norte da Escócia. Daí embarcou e passou dois dias a viajar em pleno oceano. Viu de novo: ninguém. Nem por terra, nem por mar.

Noutra viagem recente, ao Chipre do Norte, precisou de atravessar fronteiras de forma diferente. Fora do espaço Schengen, pelo longo corredor com passadeira rolante, algo o chocou quando aterrou no aeroporto de Frankfurt antes de mais uma escala a cumprir: vazio. Para atravessar esta zona fronteiriça europeia, olhou para todos os lados e sentiu-se sozinho num túnel que outrora estaria atravancado de pessoas e malas em debandada. Salas de Raio-X vazias. Aeroporto só com agentes policiais e de controlo. Era o único viajante, sentiu. Atravessou a zona internacional e reparou que todos os terminais internacionais estavam sem aviões, sem pessoas, sem nada. Daqui voou para Istambul onde viu mais movimentação.

Chipre do Norte
créditos: Luís Filipe Gaspar

Entretanto, entrou no Chipre Norte. Mal chega, fique a saber que tem de apresentar o teste PCR negativo e vai ter de fazer outro no aeroporto de chegada. O resultado chega em poucas horas ao seu telemóvel. Neste período de tempo o nosso viajante foi levado para um hotel, mas não se apercebeu da situação ‘em trânsito’. Isto pode acontecer-lhe, portanto esteja atento antes de largar portas de aeroportos. Quando desceu o elevador do hotel para alugar um carro e começar a desbravar terra, não pode envergar a chave que acabara de receber para iniciar viagem. Percebeu que estava ‘preso’ como passageiro pois o porteiro do hotel não permitiu a saída até chegar o resultado negativo do teste. Tudo acabou bem pois o resultado chegou e negativo. Mas e se não fosse o seu caso? Pondere tudo para que viaje com os imprevistos em lista.

O que vai ver no Chipre do Norte? Ninguém usa máscara e não há casos COVID-19. Turistas não se veem. Dicas que tem de recordar sempre que reentrar no espaço Schengen: vai ter de voltar a fazer o teste (em princípio paga 25 euros no aeroporto). Aliás seja qual for o seu regresso, vai ter de repetir testes constantemente.

Outro aspeto a reter na lista de viagens 2021: nesta fase é normal que ande com um código QR que informa, no país de destino, sobre o seu estado de saúde (sem vírus!) mas é apenas válido por 72 horas. Luís andou com o seu QR como um cartão de identidade constante, “estes dias”, em Praga e nas Canárias, por exemplo. Recebe o código e o resultado, tudo no telemóvel. Só assim pode sair dos aeroportos e descortinar o Novo Mundo, com outra expressão: pouco movimento, máscara cerrada e a esperança em cada esquina.

O grande viajante alerta que fora da Europa tenham em atenção: um teste positivo não permitirá que regresse de imediato como sabe, um teste positivo obriga a que procure um hospital algures que desconhece, um teste positivo não garante que tenha os cuidados necessários nesse hospital (pense no destino). Um teste positivo pode trazer-lhe tudo de negativo na viagem. Explore a Europa, lembre-se que Luís Filipe Gaspar já viu o mundo todinho e está a explorar de novo… revisitando.