Corria o ano de 1607 e o Império Mugal dominava a Índia. Em Agra, um jovem príncipe de 14 anos, de seu nome Kurran, conhecia uma jovem e bela indiana, de 15 anos, e de seu nome Arjumand Banu Begum. Um olhar apaixonado, uma troca de sorrisos cúmplices, ou simplesmente um casamento arranjado. Nunca saberemos. Os astros ditaram que o casamento não seria feito naquela altura, os apaixonados teriam que esperar cinco anos para se reunirem no leito matrimonial. Cinco anos em que não se viram e aguardaram o dia da união e do reencontro. Um reencontro que a estória gosta de enfatizar mas que perde algum encanto quando, entre estas duas datas, o jovem príncipe terá tido um primeiro casamento. A festa de casamento entre Kurran e Arjumand terá sido grandiosa, como se espera num conto de príncipes e princesas, mas também como era habitual no império Mugal. Contam as estórias que Kurran era completamente apaixonado pela sua segunda esposa, de tal maneira, que a rebaptizou com o nome de Mumtaz Mahal, “a escolhida do palácio”. A história ditaria que o príncipe, agora um homem, fosse coroado quinze anos depois e rebaptizado com o nome Xá Jahan, "O Rei do Mundo".
O imperador Xá Jahan, amado pelo seu povo, povoava a Índia de “pequenos indianos”, os seus filhos e filhas que iriam prolongar a linhagem ao longo dos tempos. Um esposo afectuoso e dedicado? Provavelmente não, mas a estória e o romance gostam de o recordar como tal. O Imperador Mugal tinha várias mulheres e esposas que compunham o seu harém, algo comum no mundo islâmico da época. Depois do casamento com Mumtaz Mahal, terá casado mais duas vezes. Mas, a sublime Mumtaz Mahal, alguém que a estória recorda como uma bela e jovem indiana que dedicou a vida ao marido e aos filhos, terá sempre povoado o seu coração. Conta a história que Muntaz Mahal foi mãe de 14 filhos do imperador, mas a vontade deste em criar um “verdadeiro clã”, não lhe deu paz. A história recorda-a como a mulher que faleceu ao dar à luz o último filho do imperador. Mumtaz Mahal tinha 39 anos. A estória recordá-la-á sempre como uma beleza jovem. A sua morte abalou tanto o imperador que as celebrações e música foram proibidas, e a corte Mugal terá chorado a morte de Mumtaz durante dois anos. Diz a estória, transmitida pela voz do povo, que o imperador era tão apaixonado por esta sua esposa que lhe foi sempre fiel em vida e que, após a sua morte, terá caído num desgosto inconsolável, desistindo de viver. Esta morte terá afectado tanto Xá Jahan que resolveu eternizar a memória da sua amada com a construção de um túmulo magistral onde esta pudesse descansar, o Taj Mahal. Diz a estória que todos os pormenores do túmulo demonstram os sentimentos que o imperador nutria pela sua esposa.
À medida que o túmulo ia sendo construído, as estórias em volta do túmulo espalhavam-se por Agra e pela Índia, e perduraram no tempo. A morte de Mumtaz Mahal terá lançado o imperador numa viagem sem regresso em direcção à loucura e alienação. Estórias descrevem detalhes horríveis e tenebrosos na construção do túmulo, acusando o imperador de mutilar os membros daqueles que participaram na sua construção e cegando os arquitectos e decoradores que o criaram.
Mas a História não termina aqui. Os filhos de Xá Jahan começavam a lutar pela criação de um império alargado, e não pretendiam dividi-lo com o pai. As lutas familiares eram autênticas lutas de clãs. Xá Xuja, um de seus filhos, declarou-se imperador de Bengala, enquanto Murad, outro dos filhos, fez o mesmo em Gujarate. Mas conta a história que o golpe mais profundo foi empreendido pelo seu filho Aurangzeb, que terá aproveitado a doença e desgosto em que o pai caiu, depois da morte de Mumtaz Mahal, e o terá prendido no forte de Agra, a poucos quilómetros do Taj Mahal. A estória conta que Xá Jahan passou o resto dos seus dias olhando por uma pequena janela do forte que dá para o Taj Mahal, o local onde a sua amada descansava eternamente. A história conta que aquando da sua morte, em 1666, o seu corpo foi sepultado ao lado da sua amada. A história e as estórias confundem-se cada vez mais com o passar dos tempos.
Histórias e estórias à parte, o Taj Mahal foi construído com as melhores matérias-primas do mundo, utilizando-se mármores indianos, ágatas do Iémen, lápis-lazulis do Afeganistão, jades da China, ametistas da Pérsia e safiras do reino do Ceilão. Quase quatro séculos passaram e durante este tempo, a história e estória de Mumtaz Mahal e Xá Jahan inspirou poetas, artistas, e músicos que contribuíram para eternizá-la. Hoje estas histórias, ou estórias, correm no recinto do Taj Mahal, pela voz das dezenas de guias turísticos que todos os dias enchem de romance e magia o imaginário dos viajantes que cruzaram países e continentes para admirar este, que é hoje, um dos maiores ícones ao Amor.
O Viajar entre Viagens esteve na Índia em 2007. Este ano, 10 anos depois, vai regressar ao país e espera contar-lhe muitas destas histórias e estórias no seu blogue pessoal.
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