"É ridículo apanhar um avião para um deslocamento assim", reconhece Sabia Mokeddem, uma francesa que vive em Londres. Contudo, ela admite fazê-lo.

A mulher reclama dos "preços exorbitantes" do Eurostar, nome dos comboios de alta velocidade que conectam Londres e Paris em pouco mais de duas horas.

"Quando penso em todo o carbono emitido por um voo tão curto... Mas não posso dar-me ao luxo de pagar o comboio", acrescenta.

Sabia Mokkeden insiste que pagaria um pouco mais para apanhar o Eurostar, porque "é melhor para o planeta" e prefere o comboio, mas a diferença de preço é muito grande. A passageira explica que encontra voos a 40 euros sem dificuldade.

Lucy Kelly, uma irlandesa que vive em Paris, apanha o comboio para Londres quando consegue reservar com muita antecedência.

"Dessa forma, podemos encontrar viagens de ida e volta por 110 euros, o que é razoável, embora ainda seja mais caro do que o avião", afirma.

"Mas se você comprar o bilhete de comboio na última hora, os preços podem ser uma loucura", acrescenta Kelly.

Uma viagem de ida e volta de comboio entre Paris e Londres pode chegar a 350 euros, especialmente em horários de ponta, finais de semana, ou feriados.

Em novembro, a irlandesa apanhou o avião para Londres e "era quatro vezes mais barato". Está ciente dos problemas de transporte que enfrenta para chegar ao aeroporto, mas garante que provavelmente voltará a fazer o mesmo.

"O comboio deveria ser subsidiado, para incentivar as pessoas a usá-lo em vez do avião", defende.

Aumentar o volume de passageiros

A Eurostar não atendeu aos pedidos da AFP para divulgar o preço médio da passagem ou respondeu se houve aumento nos últimos anos, como afirmam muitos viajantes.

Segundo a empresa, não é possível comparar as tarifas de comboio e avião, pois nos voos é preciso adicionar os custos de deslocamento até o aeroporto e de bagagem, enquanto crianças até 4 anos viajam gratuitamente nos seus comboios.

No ano passado, 7 milhões de pessoas foram transportadas no trajeto ferroviário entre Londres e Paris, de acordo com a Eurostar, em comparação com quase 2 milhões que viajaram de avião nos 12 meses anteriores a outubro de 2023, segundo a empresa especializada Cirium.

Segundo o diretor comercial do Eurostar, François Le Doze, "as pessoas compram primeiro os bilhetes de comboio", então estes esgotam "antes dos aviões", o que pode explicar um aumento mais rápido dos preços.

O responsável reconhece que o poder de compra relativamente alto de parisienses e londrinos, faz "essas viagens serem taxadas ao preço que as pessoas estão dispostas a pagar".

A companhia afirmou que deseja aumentar o volume de passageiros, o que poderia contribuir para redução dos preços.

Le Doze explica que "é muito caro operar" esses comboios, devido aos "custos das estações, de infraestrutura, do uso das linhas ferroviárias, de energia, pessoais e (...) de financiamento".

Concorrência

A ONG Greenpeace tem chamado atenção sobre o tema dos custos.

"Os governos criaram condições regulatórias desiguais que beneficiam os transportes mais poluentes", denunciou a organização.

"Deveríamos tributar as viagens aéreas a um nível que reflita o dano que causam ao clima", acrescentou.

A Greenpeace destaca que as companhias aéreas não pagam impostos sobre o querosene, no entanto, segundo a ONG, os aviões emitem cinco vezes mais gases de efeito estufa do que os comboios.

A seu favor, a Eurostar estimou que há 90% menos emissões de CO2 com o comboio.

Usar esse meio de transporte entre Londres e Paris nas férias custa mais do que o dobro do avião, observou a Greenpeace.

No âmbito dos preços da Eurostar, os passageiros esperam pela criação de uma linha concorrente.

Desde a sua criação, em 1994, várias empresas anunciaram a intenção de competir com o comboio Eurostar, entretanto, até agora, nada foi concretizado.