Foto: Rajesh Balouria@Pixabay

Há dois anos, dezenas de chefes de Estado e de Governo prometeram proteger a natureza até 2030, mas este compromisso político enfrenta muitos obstáculos para se traduzir em resultados concretos.

Reunidos na Suíça desde o dia 14 de março, os representantes dos vários países signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), entre os quais estão todos da América Latina, União Europeia, China e Rússia, mas não Estados Unidos, tentam completar a parte científica do pacto, bem como as deliberações políticas.

Este é o primeiro encontro presencial desde fevereiro de 2020 e a missão é complicada, já que a biodiversidade é afetada por muitas atividades humanas, incluindo agricultura intensiva, mineração, pesca excessiva, urbanização desenfreada, etc.

"A biodiversidade não se limita a uma área. Está em toda parte, é a vida", resume o ganense Alfred Oteng-Yeboah.

Após o fracasso dos membros da CDB ao não cumprirem com os seus compromissos na última década, a negociação atual "é nossa última hipótese", explica.

A COVID-19 representou um desafio adicional. A CBD "passou por um período sem precedentes na sua história com o impacto da pandemia", disse a secretária executiva, Elizabeth Maruma Mrema.

As negociações por videoconferência deram origem a um texto preparatório que é a base das discussões na cidade suíça. Dois outros órgãos, os conselhos científico e executivo, também se reuniram. O resultado tem sido uma agenda carregada, de acordo com um participante.

Dez dias de intenso trabalho permitiram que as delegações apresentassem as suas ideias, sem resumi-las, para traçar um consenso, estima Brian O'Donnell, diretor da ONG Campaign for Nature. O trabalho está "pela metade".

"Temos que passar às negociações", insistiu a representante da Nova Zelândia na sessão plenária de encerramento, enquanto outras delegações ressaltaram a importância dos trabalhos pendentes.

Mais tempo

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Os delegados concluíram que precisam de mais tempo para um texto a ser adotado na COP15 da ONU sobre a Convenção sobre Biodiversidade, a ser realizada este ano em Kunming, sul da China, possivelmente no final de agosto ou início de setembro, segundo várias fontes.

Para tal, os países sugeriram a realização de uma nova reunião na capital queniana de 21 a 26 de junho para "continuar as negociações" sobre o texto e outros assuntos, segundo documento no site da COP15.

O objetivo mais emblemático é a proteção de 30% das terras e oceanos do mundo até 2030. É apoiado por cada vez mais países, mais de 90 atualmente.

Segundo fontes próximas às negociações, África do Sul e China têm dúvidas, enquanto o Brasil defenderia a ideia de um objetivo nacional em vez de global.

Todos concordam que é preciso gastar mais dinheiro na proteção da biodiversidade, mas as opiniões variam quanto aos montantes e fontes deste financiamento.

Na plenária de encerramento, o grupo africano, representado por Gabão, Brasil, Índia, Paquistão, Argentina e outros países latino-americanos, pediu aos países desenvolvidos que suportem "pelo menos 100 mil milhões de dólares por ano numa primeira parte e mais adiante 700 mil milhões de dólares até 2030 e além" para os países em desenvolvimento.

Os países desenvolvidos defendem a ideia de mobilizar todos os recursos - nacionais, ajuda pública ao desenvolvimento, fundos privados -, enquanto os países em desenvolvimento esperam, sobretudo, fundos públicos adicionais dedicados exclusivamente à biodiversidade.

O Brasil e os países africanos exigem um novo fundo, pois julgam que o atual Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) é ineficiente. Mas os países do norte opõem-se.

De qualquer forma, será preciso ajudar as nações em desenvolvimento, que abrigam muito do que resta da biodiversidade, argumenta um delegado da América Latina.

"Para superar este obstáculo, é urgentemente necessário um processo de construção de confiança" entre agora e a COP15, comenta a organização civil global americana Avaaz, que se questiona como muitos sobre a posição da presidência chinesa.

Se Pequim não quiser tratar do assunto, "deveria confiar a tarefa a outro. Não podemos esperar mais", afirma a ONG.