Foi-se o edifício antigo, obsoleto, mal protegido e periférico no leste da capital norueguesa. Esta sexta-feira, dia 22, o museu Munch muda-se para o centro da cidade, dentro de uma torre espaçosa e moderna, mas também criticada.
"Pode ser o maior museu dedicado a um único artista", disse o diretor do museu Stein Olav Henrichsen, mostrando as novas salas.
Com 13 andares e mais de 26.000 metros quadrados, o novo edifício apelidado de "Lambda" oferece cinco vezes mais espaço de exposição do que o edifício sombrio que até agora abrigava o tesouro nacional no popular bairro de Tøyen.
Solteiro e sem filhos, Munch (1863-1944) deixou a sua obra à cidade de Oslo, escolhida na sua velhice em detrimento do Estado norueguês. Herdeiro inicial, o país caiu nas mãos da Alemanha naz, que considerava este pioneiro do expressionismo um representante da "arte degenerada".
Às margens do fiorde, logo atrás da ópera, o novo museu repara uma injustiça histórica dando ao artista o embrulho que o seu trabalho merece.
A previsão é chegar a 500 mil visitantes - e a expectativa é ultrapassar um milhão - para o acervo permanente, que vai abrigar 200 obras em 4.500 m2.
Além das referências sombrias à angústia, ao desespero e à morte, algumas peças do pintor norueguês abordam questões menos deprimentes como o amor, autorretratos ou paisagens.
Diante da pele pálida de corpos nus, doentes ou sem vida, brilham as cores avermelhadas dos cabelos ou do céu.
Como não poderia ser diferente, a coleção contém "O Grito", emblema do museu apresentado em diferentes versões, e outras obras importantes como "Amor e Dor", "Madonna" ou "A menina doente".
Mas, junto às obras, inúmeras peças menos conhecidas, esculturas, fotografias, um filme ou enormes murais como "O Sol" que, na hora da construção, tiveram que entrar por uma fenda especial, posteriormente coberta.
"Munch queria ter um museu. Ele referia-se às obras como filhos e queria que todas estivessem juntas numa coleção", explica a curadora Trine Otte Bak Nielsen.
"Acho que ficaria muito feliz em ver o que fizemos."
"Destruição" em Oslo
O edifício não gera reação unânime. A parte superior oblíqua não convence e as prometidas janelas iluminadas estão agora escondidas por trilhos de alumínio que parecem "barreiras de segurança".
Em 2019, o historiador da arte Tommy Sørbø já denunciava a "destruição" de Oslo, uma "catástrofe anunciada".
A opinião de Tommy não mudou, "pelo menos para o exterior e a entrada".
"O lobby parece um aeroporto, um armazém, um hotel ou um prédio comercial", disse à AFP.
"Não há nada na escolha de cores e materiais que anuncie que o lugar abriga (a obra) de um dos grandes artistas do mundo", continua.
A direção resistiu à tempestade. O museu deve provocar como o trabalho de Munch fez em sua época, assegura.
"O edifício enquadra-se muito bem no acervo porque é um edifício monumental, um edifício brutal, situado no coração da cidade e que exige reflexão", estima Henrichsen.
E talvez as tão difamadas "barreiras de segurança" sirvam de dissuasão para pessoas mal-intencionadas que repetidamente tentaram roubar as obras de Munch ao longo dos anos.
Um dos casos mais notórios ocorreu em 2004, quando ladrões roubaram "O grito" e "Madonna" numa operação que pretendia distrair a polícia um dia após um sangrento assalto à mão armada num banco. A história teve um final feliz e as duas obras-primas foram recuperadas.
"É provavelmente o prédio mais seguro da Noruega, mas não vai perceber. A segurança é muito discreta porque queremos que o foco seja a arte", explica Henrichsen.
"Posso proclamar publicamente: não haverá assaltos aqui", garante.
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