Parques urbanos e espaços verdes ajudam a combater o calor, aumentar a biodiversidade e transmitir uma sensação de tranquilidade na selva urbana.
Eles também ajudam a retardar o envelhecimento biológico, segundo um novo estudo publicado nesta quarta-feira (28) na revista Science Advances. De acordo com a investigação, pessoas que têm acesso a espaços verdes são, em média, 2,5 anos mais jovens biologicamente do que aquelas que não têm.
"Viver próximo a áreas mais verdes pode fazer uma pessoa ser mais jovem do que a sua idade real", afirmou à AFP Kyeezu Kim, autor principal do estudo e investigador pós-doutorado na Feinberg School of Medicine da Northwestern University.
"Acreditamos que as nossas descobertas têm implicações significativas para o planeamento urbano, no sentido de expandir a infraestrutura verde para promover a saúde pública e reduzir as disparidades de saúde."
A exposição a espaços verdes já foi associada a uma melhor saúde cardiovascular e a menores taxas de mortalidade. Acredita-se que isso esteja relacionado com uma maior atividade física e interações sociais, mas não estava claro se os parques realmente retardavam o envelhecimento a nível celular.
Para investigar, a equipa por trás do estudo examinou modificações químicas do ADN conhecidas como "metilação".
Trabalhos anteriores mostraram que os chamados "relógios epigenéticos", baseados na metilação do ADN, podem ser bons indicadores de condições de saúde, como doenças cardiovasculares, cancro, função cognitiva, além de serem uma maneira mais precisa de medir a idade do que em anos de calendário.
Kim e os seus colegas acompanharam mais de 900 pessoas brancas e negras de quatro cidades americanas - Birmingham, Chicago, Minneapolis e Oakland - ao longo de um período de 20 anos, de 1986 a 2006.
Utilizando imagens de satélite, a equipa avaliou a proximidade das residências dos participantes em relação à vegetação e aos parques ao redor, e cruzou esses dados com amostras de sangue recolhidas nos anos 15 e 20 do estudo para determinar as suas idades biológicas.
A equipa construiu modelos estatísticos para avaliar os resultados e controlar outras variáveis, como educação, renda e fatores comportamentais como o tabagismo, que poderiam ter afetado os resultados.
Eles descobriram que as pessoas cujas casas estavam cercadas por 30% de cobertura verde num raio de cinco quilómetros eram, em média, 2,5 anos mais jovens biologicamente em comparação com aquelas cujas casas tinham 20% de cobertura verde.
Os benefícios não foram igualmente distribuídos. Pessoas negras com maior acesso a espaços verdes eram apenas um ano mais jovens biologicamente, enquanto pessoas brancas eram três anos mais jovens.
"Outros fatores, como o stress, a qualidade do espaço verde ao redor e o suporte social, podem afetar o grau de benefícios dos espaços verdes em termos de envelhecimento biológico", explicou Kim, prevenindo que as disparidades requerem estudos adicionais.
Por exemplo, parques em bairros carentes usados para atividades ilícitas podem ser menos frequentados, anulando os benefícios.
Os próximos passos podem envolver investigar a relação entre espaços verdes e resultados de saúde específicos, acrescentou Kim. Ainda não está claro como, exatamente, a vegetação reduz o envelhecimento, apenas que ela o faz, conclui Kim.
O epidemiologista Manuel Franco, da Universidade de Alcalá e Johns Hopkins, considerou a investigação um "estudo bem elaborado".
"Temos mais e melhores evidências científicas para aumentar e promover o uso de espaços verdes urbanos", acrescentou Franco, que não esteve envolvido no estudo.
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