A Europa é o continente que regista o ritmo de aquecimento mais acelerado devido às mudanças climáticas no mundo. A sua temperatura média já é 2,3ºC superior à da era pré-industrial.

"A Europa é a região do mundo que está a aquecer mais rapidamente", alertou o professor Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), citado num relatório publicado pela ONU e pelo programa europeu 'Copernicus' nesta segunda-feira.

O planeta inteiro registou um aquecimento de quase 1,2 graus devido às emissões de gases de efeito estufa, o que significa que, do Estreito de Gibraltar aos Urais, o ritmo de aquecimento é duas vezes mais rápido.

A OMM já havia anunciado em novembro que a Europa registava um aquecimento ao ritmo de +0,5ºC grau por década, ou seja, duas vezes mais rápido que a média do restante das cinco regiões meteorológicas mundiais.

Na maior parte da Europa, "as temperaturas elevadas exacerbaram as secas intensas e violentas, alimentadas por violentos incêndios florestais, responsáveis pela segunda maior superfície queimada já medida no continente até hoje", disse Taalas.

Segundo a base de dados da OMM, os fenómenos meteorológicos, hidrológicos e climáticos na Europa em 2022 afetaram diretamente 156 mil pessoas e causaram 16.365 mortes, quase exclusivamente devido a ondas de calor.

Quarto ano consecutivo de seca na Península Ibérica

Os prejuízos económicos, principalmente provocados por enchentes e tempestades, foram estimados em cerca de 2 mil milhões de dólares em 2022, longe dos 50 mil milhões de 2021 , que registou inundações excepcionais.

O termómetro foi subindo e as chuvas ficaram abaixo do normal em grande parte do continente.

"Este é o quarto ano consecutivo de seca na Península Ibérica e o terceiro nas regiões montanhosas dos Alpes e dos Pirenéus", explica o relatório.

A França sofreu a pior seca já registada desde 1976 entre janeiro e setembro, e o Reino Unido teve o período mais seco entre janeiro e agosto.

Os glaciares alpinos sofreram "uma perda de massa recorde em um ano, devido à pouca neve durante o inverno, a um verão muito quente e à chegada da poeira do Saara".

Desde 1997, os glaciares europeus perderam cerca de 880 quilómetros cúbicos de gelo.

A temperatura média da superfície do mar no Atlântico Norte foi a mais quente já registada.

O ano de 2022 "infelizmente não é um caso único ou uma anomalia climática", comentou Carlo Buontempo, diretor do Observatório da Mudança Climática Copernicus (C3S) da União Europeia (UE).

O ano "fez parte de uma tendência que tornará os episódios extremos de estresse térmico mais frequentes e intensos", acrescenta o texto.

Em 2021, o ano mais recente com uma série completa de dados, a concentração dos três principais gases do efeito estufa (carbono, metano e óxido de nitrogénio) atingiu níveis recordes. Essas emissões continuaram a aumentar em 2022, de acordo com dados parciais.

Os únicos dados promissores neste relatório sombrio dizem respeito às energias solar e eólica, que juntas, pela primeira vez, produziram mais eletricidade (22,3%) do que o gás de origem fóssil (20%) e o carvão (16%).