Por Guillaume Gerard

Escavadoras nivelam montes de areia branca para restaurar uma praia ameaçada em Hammamet, um dos principais destinos turísticos da Tunísia, onde a erosão avança rapidamente devido à urbanização desordenada e às alterações climáticas.

"Esta praia é o cartão postal de Hammamet", diz o ambientalista Chiheb Ben Fredj, da Associação para a Educação Ambiental (AERE), enquanto olha melancolicamente para a icónica praia de Yasmine.

Assim como muitas outras zonas costeiras do norte de África, a forte erosão fez com que muitas das praias arenosas de Hammamet desaparecessem nos últimos anos, afetando a imagem deste destino turístico localizado a 65 km a leste de Tunes, a capital.

As costas de todo o mundo estão em constante fluxo natural à medida que os mares arrastam e depositam sedimentos.

No entanto, a atividade humana, incluindo o desenvolvimento de propriedades costeiras, e a extração de areia aceleram fortemente a erosão das praias.

A construção e as barreiras costeiras numa área podem impedir que os sedimentos se movam ao longo da costa, deixando outras praias desprovidas de material novo.

Além disso, estudos revelam que os impactos das alterações climáticas, como o aumento das temperaturas e do nível do mar, agravam este fenómeno.

Atração turística

Os litorais estão a mudar rapidamente no Mediterrâneo, onde o Centro Oceanográfico Nacional Britânico afirma que os níveis do mar aumentaram mais nos últimos 20 anos do que em todo o século XX.

O mar também está a aquecer 20% mais rápido do que o resto do mundo, segundo a ONU.

A costa da Tunísia tem sido uma fonte de rendimentos para o país, que enfrenta dificuldades económicas e que espera receber cerca de 10 milhões de turistas este ano.

O turismo representa cerca de 14% do PIB tunisiano e gera dezenas de milhares de empregos, num país onde a taxa de desemprego ultrapassa os 16% e chega aos 40% entre os jovens.

A Tunísia perdeu mais de 90 quilómetros de praias devido à erosão, segundo dados oficiais do ano passado.

Dos 570 km de praias onde é possível nadar no país, 190 km correm o risco de desaparecer, segundo estudos locais.

Não sustentável

Para salvar as praias de Hammamet, uma das mais afetadas na Tunísia segundo o Banco Mundial, as autoridades começaram, em junho, a trazer cerca de 750 camiões carregados de areia da província desértica de Kairouan, a cerca de 110 km de distância.

A APAL, ligada ao Ministério do Meio Ambiente, corre contra o tempo para encher as praias antes da época turística.

No entanto, o ambientalista Ben Fredj alerta que o enchimento das praias é uma solução rápida, mas “não é uma solução sustentável”.

Além disso, a areia “Pode ser devorada em poucos dias em caso de tempestade”, indicou, tal como aconteceu no verão de 2023.

As autoridades costeiras estimam o custo da restauração da areia em três praias em Hammamet, Monastir e Sfax em 3,9 milhões de dinares tunisinos (1,1 milhões de euros na cotação atual).

Ainda assim, os residentes locais consideram que vale a pena restaurar a sua costa.

Yasmine Beach “é uma vitrine para Hammamet”, diz Narjess Bouasker, diretora da federação regional de hotéis.

“Temos que recuperar a praia que o mar engoliu”, declarou, apelando a um equilíbrio entre a proteção da paisagem, celebrada pelos visitantes locais e estrangeiros, e o combate à erosão costeira.