Reportagem Levi Fernandes / Fotos Patrícia de Melo Moreira - AFP

Começaram como um meio de transporte pelas ruas estreitas e íngremes do centro de Lisboa, e hoje são uma das atrações turísticas da cidade. Os visitantes viajam no tempo ao admirar o piso de madeira e a aparência antiga das carruagens dos elétricos, enquanto contemplam as vistas de Lisboa pelas janelas.

Contudo, à medida que a capital recebe cada vez mais turistas (quase nove milhões em 2023), os habitantes locais já sentem na pele os efeitos do turismo de massa.

"O elétrico? Não é mais para nós, é reservado para turistas!", disse à AFP Luísa Costa, residente da Mouraria. A lisboeta viu-se obrigada a trocar o elétrico pelo serviço de autocarros da Carris que faz o mesmo trajeto.

Na praça do Martim Moniz, os passageiros fazem fila por mais de uma hora numa paragem de elétrico da linha 28, a rota mais popular por passar pelos pontos mais fotogénicos.

Os elétricos vermelhos criados a pensar nos turistas são menos populares devido aos custos mais elevados.

Outras linhas de elétrico voltaram a operar, depois de terem sido desativadas durante o século XX com o desenvolvimento da rede de autocarros urbanos.

Apesar das medidas, "a situação continua a piorar", afirmou Fátima Valente, reformada de 82 anos.

Os elétricos tornaram-se "um brinquedo" para os turistas publicarem nas histórias do Instagram às custas dos locais que realmente precisam deles, escreveu a jornalista Fernanda Câncio no jornal Diário de Notícias no início deste mês.

As associações locais exigem há anos um sistema de transporte público melhor para residentes e turistas.

A secretária-geral da Carris, Ema Favila Vieira, admitiu que conciliar as necessidades dos turistas e residentes "pode ser difícil", uma vez que os elétricos são um "equipamento cultural muito procurado".

Cinco rotas históricas de elétrico ligam Lisboa, com uma sexta linha equipada com carruagens mais longas e modernas que circulam ao longo do rio.