O projeto, cuja inauguração está prevista para o segundo semestre, visa diversificar a oferta turística neste local que já recebe 1,6 milhões de visitantes por ano.

Deste modo, A atração convidará os visitantes a descerem por quatro linhas de tirolesa que ligarão o morro do Pão de Açúcar, a 396 metros sobre o nível do mar, e o vizinho Morro da Urca, com 220 metros.

Para os aventureiros, é uma travessia de 755 metros, a uma velocidade de até 100 km/h. “Uma experiência única e amiga do ambiente”, afirma a empresa responsável pelo projeto, a Parque Bondinho.

Não o suficiente para convencer as dezenas de manifestantes reunidos domingo ao pé do Pão de Açúcar para protestar contra este projeto que consideram prejudicial ao meio ambiente e à imagem da "Cidade Maravilhosa". “Só vai prejudicar a nossa cidade”, disse à AFP a psicóloga Gricel Osorio Hor-Meyll, membro da ONG Grupo de Ação Ecológica e do movimento Pão de Açúcar sem tirolesa.

"Não está correto e prejudica a cidade", disse Gricel à AFP, "porque vai descaracterizar" esta paisagem de montanha e mar declarada Património Mundial pela UNESCO, junto a outros símbolos cariocas como o Cristo Redentor, no morro do Corcovado.

Rio de Janeiro tornou-se na primeira paisagem urbana classificada como Património Mundial da Unesco
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Os manifestantes reclamam que os novos cabos afetarão a paisagem do cartão postal carioca e indicam possíveis efeitos na flora e fauna local, já afetados, dizem, por sobrevoos de helicópteros turísticos e festas noturnas.

Também lamentam as perfurações - feitas para sustentar os cabos - nas rochas destes monumentos nacionais protegidos pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

"Não e só pedra, tem vida", afirma Gricel, que deixou o montanhismo há quinze anos.

A Parque Bondinho administra há mais de um século o "bondinho" que une os dois morros, uma das mais belas paisagens do Rio de Janeiro.

Segundo a empresa, o impacto visual será limitado porque os cabos das tirolesas têm uma espessura menor que a do teleférico e vibram menos. A Bondino ainda afirmou que obteve todas as permissões necessárias após realizar consultas com associações civis e atender aos requisitos das autoridades.

Descer de tirolesa do Pão de Açúcar, uma aventura vertiginosa e polémica
créditos: AFP or licensors

Discoteca na montanha

Reunidos na base do morro, manifestantes exibiram cartazes que diziam "SOS UNESCO" e "Fora tirolesas". Uma petição na internet para parar as obras e que já conta com mais de 11.000 assinaturas.

Os manifestantes denunciaram a ausência de uma discussão ampla. Porém, afirmaram que "as tirolesas são a ponta de um gigantesco iceberg", segundo um comunicado do grupo.

Os ativistas também falaram sobre um projeto ainda maior, em avaliação pelas autoridades, que inclui outras atrações, lojas, sala de espetáculos e uma discoteca no topo das duas montanhas, que recebem 1,6 milhão de visitantes ao ano.

"É uma coisa horrorosa e medonha. Acaba com o topo da montanha", disse Regina Costa de Paula, artista plástica de 67 anos.

Para Hans Rauschmayer, um empresário alemão de 57 anos que vive na cidade, a empresa "usa o Pão de Açúcar como se fosse sua propriedade".

"Mas, na verdade, é um património do Rio, do Brasil e do mundo", afirmou à AFP.