A homenagem única, que coincide com os 40 anos da entrega do prémio ao escritor, é composta por dez mil garrafas de água, destilados ou refrigerantes.

A instalação está exposta desde a passada sexta-feira, dia 02 de setembro,  na sede do governo de Bolívar, nos arredores da cidade de Cartagena.

Do alto é possível apreciar a imagem de García Márquez, com os óculos grossos e sorriso aberto.

Algumas das garrafas foram doadas por restaurantes de Cartagena, terra natal de "Gabo" durante muitos anos, enquanto que outras foram recolhidas por habitantes de Henequén.

Entretanto, o artista Butrón, de 58 anos, valoriza as que foram recuperadas dos manguezais, rios e praias contaminadas. Foi necessário um mês para a recolha do material e três de instalação.

Butrón espera também enviar uma mensagem ambientalista. "Juntos podemos começar a trabalhar para manter os nossos ambientes saudáveis, os nossos rios e mares limpos", disse o artista à AFP, rodeado de garrafas.

Para ampliar a causa, escolheu a imagem do escritor colombiano mais famoso e amigo das paisagens caribenhas.

O autor de "Cem anos de solidão" morreu em 2014 e deixou um legado de romances e histórias que contam, além de outros temas, a riqueza de um dos países mais biodiversos do mundo.

"Não há nada mais colombiano, mais caribenho, mais folclórico e que melhor nos represente" do que García Márquez, destaca Butrón.

"Inacreditável"

Também caribenho, o artista recolhe lixo há 35 anos para transformar em arte "com caráter ambiental".

Grande parte do vidro vem do rio Magdalena, o maior do país com quase 1.600 quilómetros. Em obras de Márquez como "O amor em tempos do cólera", ou o autobiográfico "Viver para contar", o Magdalena é protagonista.

Segundo Butrón, o escritor "narra aquelas viagens ao longo do rio, aquelas imensas praias onde conseguia ver garças, patos selvagens, jacarés". Um "passado glorioso de flora e fauna".

Hoje o panorama é diferente. Segundo investigações académicas, mais de 70% do rio corre risco de erosão devido a poluição.

"Não temos contaminação apenas com resíduos sólidos", acrescenta o artista. Mas também com as "águas residuais, a pesca ilegal e a mineração que deixa muito mercúrio nas águas" e envenena os animais.

O desfecho do Magdalena, em palavras do artista, teria uma página exclusiva no mundo narrativo de García Márquez,  que transforma a tragédia em lugares mágicos.

É "tão absurdo", "coisas inacreditáveis acontecem (...) tal como aquele lixo que estamos a ver neste momento", observa Butrón.