No parque desta região montanhosa com múltiplas fontes de água quente, o coaxar das rãs e o grasnar de um cisne solitário quebram o silêncio.
Embora as autoridades locais afirmem que Jermuk está pronta para receber visitantes, os moradores consideram o trauma dos ataques de artilharia do Azerbaijão muito recente para a retoma do turismo.
Os dois países vizinhos do Cáucaso enfrentam-se regularmente, em conflito desde a queda da União Soviética.
"As cicatrizes da guerra já não são visíveis nas ruas, mas estão na alma das pessoas", resumiu Ovsanna Stepanian, dona de um restaurante nesta cidade termal.
"Os hotéis e os restaurantes estão quase vazios, trabalham no prejuízo", lamenta Stepanian, de 42 anos.
Stepanian dá como exemplo o seu próprio estabelecimento: antes, o local era tão procurado que era necessário reservar com vários dias de antecedência. Agora, recebe poucos clientes por dia e metade da equipa foi despedida.
Vazguen Galstian, um guia turístico de 33 anos, resume a situação: "sabemos que o risco de uma nova guerra continua".
"Filme de terror"
Por mais de três décadas, Baku e Erevan lutaram pelo controlo de Nagorno-Karabakh, um território montanhoso habitado principalmente por arménios, mas reconhecido internacionalmente como parte do Azerbaijão.
Uma primeira guerra entre 1988 e 1994 favoreceu a Arménia. No outono de 2020, um novo conflito eclodiu.
Com um armamento melhor, o Exército do Azerbaijão recuperou em cinco semanas o controlo de parte de Nagorno-Karabakh e de regiões vizinhas.
Apesar de um cessar-fogo mediado por Moscovo, os confrontos na fronteira ainda são quase diários.
Em setembro de 2022, muitos acreditavam que a guerra teria estourado de novo quando o Azerbaijão bombardeou brutalmente, com artilharia e drones, as cidades fronteiriças Jermuk, Sotk e Verin Shorzha.
Ovsanna Stepanian acha difícil esquecer. Como a maioria dos habitantes, refugiou-se na cave com o filho e com a mãe quando os bombardeios começaram.
"Mulheres e crianças fugiram de Jermuk para Erevan em camiões", descreveu, ao contar que "foram horas cheias de medo, como num filme de terror".
"A estrada estava cheia de veículos que transportavam pessoas em fuga, as florestas e os campos nos arredores da cidade estavam em chamas. Ainda tremo", lembrou.
Potencial turístico "enorme"
"O bombardeamento de Jermuk começou à meia-noite", disse o vice-presidente da cidade, Vardan Sargsian. "Os azerbaijanos atacaram estradas e florestas. Danificaram prédios residenciais, infraestruturas vitais e o cemitério", explica.
De acordo com Sargsian, os vestígios dos bombardeamentos foram apagados e as infraestruturas reparadas dez meses após os dois dias de combates.
"Jermuk está pronta para receber turistas novamente", garantiu.
Tigran Sargsian, de 20 anos, voltou para Jermuk há quatro meses, após concluir o serviço militar.
Agora é responsável por uma tenda com jogos de tiro num parque de diversões nesta cidade termal. Os alvos são bandeiras do Azerbaijão e retratos do presidente, Ilham Aliev.
"O inimigo está muito perto", destaca, perante os quatro quilómetros que o separa das tropas de Baku.
"Se a situação não mudar, haverá um conflito e terei que ir para a guerra", diz o jovem.
Comentários