Reportagem Caroline Gardin / AFP
O local mais famoso do Japão pode ser visto a quilómetros de distância, mas os moradores de Fujikawaguchiko estão fartos do fluxo interminável de visitantes, principalmente estrangeiros, que atiram lixo para o chão, invadem propriedades e infringem as regras de trânsito em busca de uma foto para partilhar nas redes sociais.
Depois de estacionar de maneira ilegal e ignorar a proibição de fumar, os visitantes costumavam lotar a calçada para fotografar a montanha coberta de neve, que se ergue majestosa no céu por trás da loja, criando um contraste fotogénico.
Trabalhadores começaram a fixar uma rede preta com cerca de 2,5 por 20 metros em postes de metal e completaram o trabalho no final da manhã, constatou um repórter da AFP no local.
"Eu considero dececionante que estejam a colocar isso. É obviamente uma foto icónica", disse Christina Roys, 36 anos, turista da Nova Zelândia. "Mas é completamente compreensível. Nós viemos ontem à noite, para conseguir a última foto antes da instalação do muro, e havia muitas pessoas", completou.
"É muito perigoso por causa do trânsito. Existem outros pontos de onde você pode tirar uma foto da montanha".
Funcionários locais e residentes disseram que a cidade recebe bem os turistas, mas reclamam que aqueles que cruzam a rua sem parar, ignoram os semáforos, estacionam ilegalmente e fumam fora das áreas designadas têm sido um incómodo.
"É lamentável termos de fazer isso por causa de alguns turistas que não conseguem respeitar as regras", disse um funcionário da cidade à AFP em abril, afirmando que os sinais de trânsito e os avisos dos seguranças não conseguiram melhorar a situação.
A medida também visa ajudar uma clínica odontológica próxima, onde turistas às vezes estacionam sem permissão e até foram vistos a subir no telhado para tirar fotos.
Reservas online
Um número recorde de turistas estrangeiros está a visitar o Japão, onde o número mensal de visitantes ultrapassou três milhões pela primeira vez em março e novamente em abril.
Mas, como em outros pontos turísticos, como Veneza — que recentemente introduziu tarifas de entrada para visitantes de um dia —, o fluxo não foi universalmente bem recebido.
Na antiga capital japonesa, Quioto, os moradores reclamam que os turistas assediam as famosas gueixas da cidade.
E os aventureiros que usam a rota mais popular para subir o Monte Fuji neste verão terão de pagar 2.000 ienes (cerca de 12 euros), com entradas limitadas a 4 mil pessoas para aliviar o congestionamento de pessoas.
Um novo sistema de reservas online para o trilho Yoshida da montanha foi aberto na segunda-feira para garantir a entrada dos visitantes através de um novo portão, embora mil vagas por dia sejam reservadas para entradas compradas no dia.
O Monte Fuji está coberto de neve na maior parte do ano, mas durante a temporada de escalada de julho a setembro, mais de 220 mil visitantes sobem as suas encostas íngremes e rochosas.
Muitos sobem durante a noite para ver o nascer do sol, e alguns tentam alcançar o cume de 3.776 metros sem pausas e acabam por passar mal ou magoarem-se.
Autoridades regionais levantaram preocupações de segurança e ambientais ligadas à superlotação no vulcão ativo, um símbolo do Japão e outrora um local de peregrinação pacífico.
Moradores próximos a outros pontos populares para fotos na região, incluindo a chamada Ponte do Sonho de Fuji, também relataram queixas sobre o turismo excessivo nas últimas semanas.
Uma agência de turismo que oferece excursões de um dia de Tóquio para a área do Monte Fuji disse à AFP que está a levar os visitantes para outra loja de conveniência nas proximidades, onde uma vista semelhante pode ser observada, mas há menos moradores por perto.
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