Com um enredo de exaltação à força da mulher negra, a escola de samba Unidos do Viradouro foi consagrada, esta quarta-feira, campeã do Carnaval do Rio de Janeiro, após dois dias de desfiles imponentes no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.

É o terceiro título que a agremiação nascida em 1946 na cidade de Niterói vence. Os anteriores foram conquistados em 1997 e 2020. No ano passado, a escola niteroiense ficou em segundo lugar.

Os resultados foram anunciados pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) após uma apuração que durou quase duas horas, transmitida ao vivo pela televisão e acompanhada com muita atenção em todo o país.

O anúncio provocou uma explosão de gritos e aplausos entre os representantes da Unidos do Viradouro e os seus admiradores presentes na apuração.

Viradouro
Uma dançarina da escola de samba Unidos do Viradouro a atuar na última noite do desfile de carnaval do Rio de Janeiro créditos: AFP/Pablo Porciuncula

Com o forte e contagiante samba-enredo "Arroboboi, Dangbé", a Viradouro retratou a história de sacerdotisas e o seu culto à serpente sagrada do Benin, na África Ocidental, de onde foram levadas para o Brasil.

A campeã causou impacto desde o primeiro minuto, ao fazer surgir uma serpente mecânica com cores fortes de um de seus carros alegóricos, que deslizou entre os dançarinos.

O enredo aproveitou a história das sacerdotisas e as lutas das guerreiras do reino de Daomé, no Benin, para homenagear as mulheres negras do Brasil, onde perdura um forte racismo estrutural apesar de quase 56% da população se declarar negra ou não branca.

As 12 escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro desfilaram nas noites de domingo e segunda para 70 mil espectadores presentes e outros milhões em todo o mundo que acompanharam o evento.

Nos seus desfiles, retrataram histórias sobre a destruição da Amazónia, o racismo e o sincretismo religioso. Também houve homenagens a símbolos da luta contra a escravidão, lendas da música brasileira como Martinho da Vila e Alcione, e até ao caju, uma das frutas-símbolo do país.

Cada escola teve entre 60 e 70 minutos para seduzir os jurados com os seus desfiles, alegorias e fantasias, e tentar a todo o custo não cometer erros que provocam perda de pontos. Aspectos criativos, musicais e técnicos são avaliados meticulosamente.

No segundo lugar ficou a Imperatriz Leopoldinense, campeã do ano passado, que retratou na sua apresentação o universo da sorte e da fortuna através da história de um testamento deixado por uma cigana.