O Rio Douro está intimamente ligado à fundação do Porto e até de Portugal. Na sua foz, os Romanos fundaram os povoados de Portus e Cale, respectivamente nas margens norte e sul do rio, que mais tarde conjugados designavam a região entre Douro e Minho, Portucale. É também ele responsável pela criação que pôs o Porto nas bocas de todo o mundo: o Vinho do Porto.
O vinho que envelhece em garrafas ou cascos nas Caves de Gaia, e que atrai a atenção ávida dos turistas, tem a sua origem mais a montante, onde o Douro cortou vertentes nos terrenos de xisto e granito, dando origem a um vale mais encaixado na zona do Douro Internacional, onde o rio define a fronteira entre Portugal e Espanha, e a um vale mais aberto, na zona que viria a ser a de criação do Vinho do Porto, sendo as regiões da Régua, Pinhão e Tua as principais produtoras, com as suas encostas povoadas de socalcos e vinhedos. Isto porque, no passado, houve quem tivesse sonhado uma região em Portugal onde a natureza agreste pudesse ser domada para obedecer às necessidades do Homem, e ser dedicada ao fabrico do néctar do deus Baco, unindo-se os esforços e visões de personalidades nacionais e estrangeiras. A região vinícola demarcada mais antiga do mundo, a Região Demarcada do Douro, criada em 1756 pelo Marquês de Pombal, tem uma beleza que é fruto em iguais porções da generosidade divina e do suor humano, resultante do trabalho árduo e continuado com base numa paisagem natural, bela por natureza, mas que se tornou única no mundo pela mão do Homem. O ano agrícola atinge o seu auge no mês de Setembro, mês das vindimas, e quando se pode apreciar o trabalho árduo de recolher as uvas em vertentes inclinadas e o pisar das uvas nos lagares. Mas é no Outono que as vinhas do Douro exibem as suas cores mais exuberantes, enchendo as encostas de tons vermelhos e laranjas.
O rio, por seu turno, percorre o seu caminho em direcção ao mar dando vida a um conjunto de povoações ribeirinhas, destinos apelativos, ricos em património natural, histórico, gastronómico e cultural. Mais a norte, os primeiros reis haviam dotado esta vasta região remota de unidades administrativas, denominadas Terras, tuteladas por castelos românicos, que tinham por missão vincar a autoridade régia numa zona do reino que era notoriamente periférica. Muitas lutas foram travadas contra o reino de Leão, e a região tinha vocação para defesa natural durante a Reconquista Cristã. Acrescendo o clima agreste, os transmontanos tiveram de aprender a adaptar-se a uma realidade dura de vida. Tudo o que pudesse ser aproveitado, tinha de o ser. E assim nasceram as iguarias da gastronomia nortenha: os enchidos, o Cozido à Portuguesa, o Caldo Verde, o mel, o presunto, os queijos, mas também a truta e a lampreia. A Terra Fria Transmontana é hoje facilmente acessível para quem vem do litoral, pela auto-estrada A4, para quem vem do Porto, que segue até Bragança ou pela A3 e A7, para quem vem de Braga ou Guimarães, que segue até Chaves. O IC5, que faz a ligação da A4 a Miranda do Douro, permite o acesso ao Douro Internacional. Mas para aqueles que querem seguir o percurso do rio, e são enamorados pelos comboios e pela degustação mais lenta da paisagem, nada bate a Linha do Douro, que liga a cidade do Porto ao Pocinho, uma das linhas ferroviárias mais bonitas do mundo. Unindo-se ao rio na zona de Cinfães, nunca mais se dele afasta, seguindo as suas margens numa simbiose perfeita entre a criação do Homem e da Natureza. As principais estações são a Régua, Pinhão, Tua e Pocinho, e são óptimos locais para se parar, e apreciar esta região e as suas gentes, e prosseguir noutro dia.
Para quem visita o Porto, e quer conhecer a alma da cidade e do Norte de Portugal, esta é uma viagem a não perder.
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