Há uma rota gastronómica que tem de conhecer para fazer uma viagem desde a mística Argentina até ao topo do continente americano: Alasca. Pode fazer esta viagem durante uma refeição e uma visita ao espaço que fica numa esquina lindíssima de Lisboa, na Avenida da Índia, chamado La Panamericana.

No menu do La Panamericana by Chakall encontramos uma série de opções que integram a rota desenhada pelo conceito deste restaurante como “uma veia do corpo” sobretudo através do oeste de todo o continente americano, assim nos conta o diretor-geral Patrício da Rocha (Argentino de gema).

A minha visita e entrevista no espaço começou logo bem com esta ideia inclusiva de todas as Américas num só restaurante de amplas dimensões. Conta ainda com um jardim que serena a música que se ouve a ‘crepitar’ dentro do restaurante. Nesta rota ou ‘veia’ encontramos deliciosos pratos de tantos países que parecem o carimbo depois de um check-in, quando saudamos uma nova bandeira. Sem vistos, sem fronteiras complicadas.

La Panamericana
La Panamericana La Panamericana créditos: Divulgação

A surpresa recente do chef Chakall que vem cheia de recomendações é “o hambúrguer Waygu”. É quase indescritível este novilho tenro com ingredientes secretos (ou não tanto assim, mas que não são fáceis de ‘imitar’). Tive mesmo de fazer uma pausa na minha degustação de pratos quando apreciava o Waygu. Os pratos de países da América Latina (como Argentina, Uruguai, México) foram os que mais me impressionaram, mas eu não tive tempo de conhecer todos numa só visita. Fica a viagem a ser continuada para a próxima.

E algo que talvez não saibam: os ingredientes, e claro o peixe e as carnes suculentas, não são importados. Temos tudo em Portugal, mas a ser ‘marinado’ com a supervisão das receitas de Chakall, as quais se inspiram na cultura dos muitos países que dançam juntos “numa só casa onde o espanhol se fala”, conta o diretor-geral.

La Panamericana
La Panamericana La Panamericana créditos: Divulgação

Fiquei a saber algo mais sobre o significado do turbante que o chef enverga em diferentes cores. Todos conhecem a origem breve da história: a vivência em África (dois anos) de Chakall levou-o a utilizar o pano enrolado sob forma de turbante como um chapéu de chef (a sua idiossincrática assinatura) para garantir a higiene incólume durante a confeção dos pratos. Todavia, talvez não saiba que também o usou por uma questão de sobrevivência, digamos. Enquanto em África, com as altas temperaturas e escassez de comida em alguns lugares, Chakall parava para cozinhar para crianças e saciavam-se, juntos, com alguns aperitivos que ele inventava na hora. E o turbante ajudava-o a lidar com as altíssimas temperaturas subsarianas. E, assim ficou, como uma raiz que nunca se perde.

Eu costumo recorrer à expressão do Latim “mutatis mutandis” para estes casos, pois é fazendo que se aprende a fazer e a inovar. Neste seio de mudança, Chakall nunca deixou de inovar entre caminhos e culturas. O La Panamericana é um bom exemplo de uma casa onde se festejam culturas de uma forma amigável e deliciosa. E, ao longo da zona das mesas e de outros espaços decorativos, incluindo o bar do La Panamericana, encontramos paredes diferenciadas por cores e imagens autênticas que Chakall trouxe da sua aventura exploratória, de mota, da Argentina à Colômbia. Fotografou e ‘imprimiu’ muitos dos registos nas paredes e janelas do La Panamericana. Não são recriações, são imagens originais que ali vê.

Outra consequência para os meus sentidos enquanto ali estive, entre pratos e entrevistas descontraídas: revisitei quase toda a América que já conheço, com encanto maior na lembrança do Panamá, México, Brasil, Miami e Nova Iorque. E, de repente a memória estende-se, matreira, por mais países que reaparecem na minha experiência de léguas e mais léguas. Curiosamente, estou para embarcar para a Colômbia e Aruba, sendo que já parece que levo um cartão de visita, iniciado na experiência gastronómica e viajante do La Panamericana.