A Via Navegável do Douro (VND) foi inaugurada em toda a sua extensão em 1990 e tornou-se numa das principais vias de acesso dos turistas à região, muitos dos quais desembarcam no cais de Peso da Régua.
É um rio e um território que serviu de inspiração a Miguel Torga que, nos seus poemas, descreveu um “Doiro sublimado” que é um “excesso da natureza” e a “beleza absoluta”.
Um Douro que é rio e que é também vinha. “Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir”, como sublinhou Torga.
Em 1990, com a inauguração dos 210 quilómetros da VND, abriu-se uma porta ao turismo que foi, depois, consolidada em 2001 com a classificação do Douro como Património Mundial da UNESCO.
Este rio tornou-se também numa “oportunidade de negócio” para grandes e pequenos operadores.
A Tomaz do Douro nasceu há 20 anos. “Na altura tínhamos uma embarcação e, neste momento, estamos já com oito”, afirma Telmo Leite, mestre e coordenador da empresa.
Além dos barcos que sobem o rio desde o Porto, este operador possui uma lancha que está ancorada na Régua, com capacidade para 50 passageiros e saídas a todas as horas, e que faz pequenas viagens para os muitos visitantes que se deslocam a esta cidade.
Pedro Teixeira lançou o Projeto “Da_Vide” que aproveita as vides, resíduos resultantes da limpeza das videiras após as vindimas para, numa pequena banca instalada no cais fluvial da Régua, expor os produtos que já desenvolveu, como canetas, colheres, imanes, porta-chaves, até máscaras e chapéus, estes últimos feitos com papel de vide.
“A VND é, neste momento, o principal suporte do nosso projeto, na medida em que quem compra são os turistas e o nosso principal mercado são os turistas que aqui chegam nos barcos hotéis”, frisa o empresário.
Também à espera de quem ali desembarca e embarca está Cátia Araújo, uma das rebuçadeiras da Régua, que procura vender, entre os turistas, os tradicionais doces feitos de açúcar, água e limão.
A jovem “herdou” o lugar de venda da avó, Rosa Mesquita, de 82 anos, que é ainda quem faz os rebuçados em casa.
“O negócio tem dias, nuns vende-se mais, noutros menos. Já aprendi a falar algumas palavras em francês e inglês para conseguir comunicar com os turistas que aqui chegam”, salienta a rebuçadeira.
Em 2015, viajaram pela VND mais de 760 mil passageiros em pequenas embarcações, cruzeiros de um dia ou barcos hotéis, número que bateu os recordes de anos anteriores e que demonstra que o crescimento do turismo fluvial é sustentável.
Segundo a gestora da via, a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL), em 2016 operam no Douro mais de 100 embarcações turísticas e 40 operadores.
A administradora da APDL, Raquel Maia, acredita que o Douro pode crescer mais, tanto no setor do turismo, como no transporte de mercadorias, que atualmente está reduzido ao granito.
Para o efeito, está a ser desenvolvido o projeto “Douro’s Inland Waterway 2020” que visa a modernização da via navegável, tornando o Douro num rio mais seguro, navegável 24 horas por dia e mais atrativo para o transporte de mais e mais diversificadas mercadorias.
O vice-presidente da Câmara de Peso da Régua, José Manuel Gonçalves, lembra que o rio Douro foi a primeira “autoestrada do país” que, há cerca de 200 anos, levava os barcos rabelos carregados de vinho de Porto para o litoral.
A vitivinicultura é ainda a principal atividade económica da Região Demarcada e é, ela também, fator de atração. O enoturismo tem crescido exponencialmente e alavancado investimentos ligados à hotelaria e restauração.
O autarca sublinha a “relação direta da Régua com o rio” e diz que hoje a VND é um “fator de promoção do Douro”.
No entanto, ressalva ser necessário que o turismo fluvial deixe mais-valias na região e afirma que, "em terra", se estão a consolidar projetos com vista à diversificação da oferta, que levem os turistas a permanecerem mais dias neste território e se combata sazonalidade que ainda afeta o Douro.
Exemplo disso é, segundo José Manuel Gonçalves, o Museu do Douro ou a estação arqueológica da Fonte do Milho.
Muitos dos visitantes do Museu do Douro, o primeiro museu de território do país, que foi criado na sequência de uma lei aprovada por unanimidade na Assembleia da República, chegam precisamente de barco.
“O Douro não é um sítio descoberto por muita gente há muitos anos. Só somos verdadeiramente o ‘Douro sublimado’ ou a ‘beleza absoluta’ se o conseguimos mostrar a quem nos visita”, afirma o diretor da unidade museológica, Fernando Seara.
Comentários