Como surgiu a ideia de criar a Timeless e trazer os escape rooms para o ar livre?

A Timeless nasceu da nossa paixão por jogos e do desejo de tornar as experiências turísticas mais interativas. Sempre adorámos jogos de tabuleiro, quizzes e, claro, escape rooms. No que diz respeito ao turismo, sentimos que as visitas turísticas tradicionais deixam algo a desejar por serem demasiado passivas e as pessoas são apenas observadoras dos lugares que visitam. Decidimos então criar um conceito que envolva os participantes de forma mais ativa, transformando a cidade num tabuleiro de jogo. Queremos desafiar tanto os escape rooms clássicos, como a forma como as pessoas exploram novos destinos. Assim nasceu a Timeless, unindo entretenimento e turismo pela cidade de Lisboa.

O que diferencia a experiência da Timeless dos escape rooms tradicionais?

Enquanto os escape rooms tradicionais acontecem dentro de quatro paredes, nós optámos por fazer o oposto: eliminámos as paredes para permitir que os jogadores explorem a cidade - as suas ruas, praças e monumentos -, ao mesmo tempo que resolvem enigmas. No meio disto tudo, lançamos desafios para dar a conhecer o património lisboeta de forma menos convencional, tornando a cidade numa parte integrante da narrativa. Além disso, contamos com uma componente tecnológica, totalmente desenvolvida por nós, que guia os participantes e nos permite acompanhar o seu progresso em tempo real.

É fácil trabalhar Lisboa nesta perspetiva de criar jogos/"de a tornar tabuleiro"? Quais são as vantagens e desvantagens que oferece?

Transformar Lisboa num tabuleiro de jogo é, simultaneamente, um desafio e uma oportunidade. A cidade tem um património forte e pitoresco, cheio de histórias, cultura, becos escondidos e monumentos, que ajudam imenso na criação de enredos que cativam os jogadores. A acrescentar, a dinâmica inevitável das ruas, os sons e o movimento constante tornam a experiência ainda mais imersiva. Ainda assim, nem tudo está sob o nosso controlo - o clima é um fator imprevisível, e a movimentação da cidade pode, por vezes, alterar a fluidez do jogo. Quando o tempo não colabora, garantimos o reembolso total e tentamos agendar uma nova data.

Jéssica Bronze, co-fundadora e Game Master da Timeless Experiences
Jéssica Bronze, co-fundadora e Game Master da Timeless Experiences Jéssica Bronze, co-fundadora e Game Master da Timeless Experiences créditos: Divulgação

Atualmente, a Timeless oferece duas experiências: "O Colecionador" e "O Mistério de Rosa Cruz". Pode falar-nos um pouco sobre cada uma delas?

Ambas as experiências são ao ar livre, mas cada uma com um ADN muito próprio. O Colecionador leva os jogadores numa missão para solucionar o misterioso roubo da obra clássica "Lusíadas" na zona histórica de Lisboa, interagindo com a capital enquanto resolvem o enigma. Por sua vez, o Mistério de Rosa Cruz acontece no Jardim do Príncipe Real e os participantes interagem com uma escape box orientada para os segredos maçónicos, conceito pensado e desenvolvido também por nós. Quero com isto dizer que cada jogo tem a sua própria atmosfera, mas ambos garantem tanto uma experiência imersiva e aventura.

Além destas duas experiências ao ar livre, lançámos recentemente uma terceira, o Game Show. Tem várias peculiaridades que o tornam único: desta vez é feito indoors, não é um escape room e é inspirado no programa americano Family Feud.

Que tipo de público costuma procurar estas experiências?

O público é bastante diverso, mas o propósito é sempre o mesmo: uma experiência que marque pela diferença e pela diversão. Fazemos muitos eventos de team building para empresas, mas também somos muito procurados por turistas que querem explorar Lisboa de uma forma interativa, assim como por grupos de amigos e famílias. Depois, há algumas exceções que acabam por virar o jogo e nos surpreender a nós. Já tivemos um casal a fazer um dos nossos jogos num primeiro encontro, fazendo-nos ver que os quebra-cabeças podem também quebrar o gelo.

Olhando para trás, como tem sido a jornada de empreender neste setor? Até agora, quais foram os maiores desafios?

Empreender no setor do entretenimento tem sido uma aventura quase tão imersiva e imprevisível como as da Timeless. Um dos maiores desafios foi, sem dúvida, a pandemia. Criámos o projeto em 2019 e rapidamente tivemos de nos ajustar ao novo contexto, enquanto encontrámos uma forma de encorajar as pessoas a cumprir o confinamento. A solução foi criar enigmas e jogos online, que foram completamente desenvolvidos e implementados por nós, à semelhança do que acontece nas atividades que dinamizamos agora. No regresso à normalidade, notámos uma grande vontade das pessoas em recuperar o tempo perdido e experimentar coisas novas, o que nos ajudou a crescer e a consolidar o nosso conceito.

O que a inspira na criação das narrativas e dos puzzles das experiências?

 A inspiração vem de várias fontes, como a própria história da cidade e do país, de lendas, de filmes e livros, de jogos de tabuleiro e de outros jogos, sempre com o propósito de tornar cada atividade numa história onde os jogadores sintam que são protagonistas.

Como vê o futuro dos escape games ao ar livre? Acredita que este conceito tem potencial para crescer noutras cidades?

Este conceito já existe noutros países, mas ainda é um formato pouco explorado em Portugal. Acreditamos que, à medida que os escape games se forem popularizando, cada vez mais pessoas vão aderir, principalmente os que são mais adeptos deste tipo de experiências. Quem gosta deste tipo de jogos está sempre à procura de algo inovador, e os escape games ao ar livre encaixam perfeitamente nessa necessidade. Além disso, é um formato facilmente replicável noutras cidades.

Já tiveram algum momento ou reação especial dos participantes que a tenha marcado? Qual?

Nas nossas experiências, recorremos frequentemente a atores que assumem vários papéis ao longo do jogo, ajudando a criar uma atmosfera aliciante. Numa das atividades – que, devido a um incidente inesperado, tivemos de adaptar – uma das personagens era um ladrão que entrava em cena para surpreender os participantes. Num desses momentos, uma jogadora, apanhada de surpresa, reagiu instintivamente e acabou por agredir (muito levemente) o ator. Felizmente, ninguém se magoou e hoje rimo-nos bastante desse episódio. Aprendemos com cada experiência e ajustamos continuamente as nossas atividades para as tornar ainda mais entusiasmantes e, claro, seguras.

Há planos para novas experiências ou desafios em Lisboa ou noutras cidades?

Estamos sempre a pensar em novas formas de inovar. Como mencionei acima, lançámos recentemente uma nova atividade dentro de portas, que não é um escape room e que tem lugar no Parque das Nações. Esta nova experiência tem duas vertentes: o Buddy Battles, para grupos, e o Corporate Clash, feito especialmente para empresas e team buildings. Temos ainda mais ideias na calha para novas experiências, dentro e fora das quatro paredes. Quem sabe, talvez no futuro levemos a Timeless para outras cidades do país.