Este museu, o mais antigo em Portugal dedicado unicamente a um artista - Rafael Bordalo Pinheiro -, celebra o centenário em agosto, mas os festejos, com várias iniciativas, entre as quais uma exposição que coloca em diálogo as suas obras com as de Paula Rego, começam a 18 de maio, Dia Internacional dos Museus.
Numa entrevista à agência Lusa, o coordenador do museu, João Alpoim Botelho, sublinhou a atualidade da obra gráfica e cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), e da criação da figura do Zé Povinho, que se mantém um símbolo da personalidade do povo português.
Quem foi Rafael Bordalo Pinheiro? Um artista versátil, transbordante de humor e de criatividade em várias áreas, desde o desenho, à pintura, ao cartoon, à publicidade e à cerâmica, como sublinha o responsável.
“Talentoso, criativo, era muito divertido, gostava de comer e de beber, ia bastante ao teatro e dava-se com todo o tipo de pessoas", descreve João Alpoim Botelho, recordando o grande talento para a caricatura que levou à criação do Zé Povinho.
A figura nasceu na véspera do dia de Santo António, 12 de junho de 1875, num cartoon que saiu no jornal "A Lanterna Mágica".
"Logo nesse primeiro desenho parece que contou a história do povo português até aos nossos dias: era um miúdo a pedir ao Zé Povinho um tostãozinho para o Santo António", em figuras que retratavam o ministro da Finanças, o primeiro ministro da época, e o Governo.
Para João Alpoim Botelho, aquele primeiro desenho do Zé Povinho personificaria uma certa maneira de ser portuguesa: "Uma certa passividade, mas até falsa, porque os manguitos revelam os gestos de revolta em relação às injustiças".
Apesar de ter vivido durante a monarquia, Bordalo Pinheiro "era republicano e a sua atividade política muito crítica da monarquia, sendo uma figura bastante importante para perceber como a monarquia foi caindo, e como se foi construindo a ideia de uma República que viria salvar o país", disse à Lusa João Alpoim Botelho.
O Museu Bordalo Pinheiro foi inaugurado em 1916, por iniciativa particular do poeta e panfletário republicano Ernesto Cruz Magalhães, que, por ser um grande apaixonado da obra do artista, resolveu criar, na sua moradia, no Campo Grande, três salas dedicadas unicamente a expor a sua coleção.
O museu "ficou com um espólio muito importante de Bordalo Pinheiro, de caráter pessoal e de enorme riqueza sobre a vida e obra", reunindo correspondência, objetos pessoais, muitos desenhos originais, algumas pinturas, obra gráfica - 3.500 exemplares de gravura e 3.000 originais - e cerâmica (1.200 peças).
Foi em 1884 que Bordalo Pinheiro decidiu fundar a Fábrica das Caldas da Rainha e o museu reúne peças que serviram de modelos e que hoje continuam a ser comercializadas.
O fundador acabou por legar o Museu Bordalo Pinheiro à Câmara Municipal de Lisboa, tendo passado por alguns períodos de obras de remodelação e ampliação, e sido alvo de incorporações por aquisições e de doações de peças, até então na posse de familiares e de colecionadores particulares.
"O espólio está sempre disponível e há sempre alguém a estudar a obra desta figura espantosa da nossa História", adiantou o coordenador à Lusa.
As celebrações do centenário começam simbolicamente a 18 de maio, Dia Internacional dos Museus, com um encontro entre Maria de Lourdes Modesto, João Paulo Martins e Hugo Nascimento, no âmbito da exposição de desenho "Bordalo à Mesa".
A 26 de maio, abre a exposição "Diálogos Imaginados", com um diálogo entre obras de Bordalo e de Paula Rego - que se assume como admiradora do artista - e as celebrações estendem-se depois de junho de 2016 a agosto de 2017, com, entre outras iniciativas, uma grande exposição de cerâmica, dedicada ao autor.
O museu recebe perto de 20.000 visitas anuais.
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