Foto: Evan Krause @ Unsplash
Num dos meus mais recentes posts pergunto diretamente: “Se pudessem viajar hoje mesmo, qual país “cheio de natureza” escolheriam? Ou preferes outro tipo de destino?” E foram imensas as respostas, mas a Tailândia apareceu muito frequentemente entre os desejos dos mais jovens. Depois Bali, Brasil e Grécia. Os mais ‘maduros’ veem em Portugal o seu melhor destino (indicaram, algures, o Alentejo!) que é refúgio ao mesmo tempo. Que diversidade viajante, tão bom saber que no Planeta cabem todos os caminhos. Que o tempo dos ponteiros do relógio de cada um… aguarda por um check-in ansioso. Um voo para o Mundo, um sopro novo. Aqui o tempo é mesmo a palavra-chave: esperar um pouco até podermos, de forma desabrida, correr entre natureza, praia, culturas e templos dos quatro continentes. E amando o ponto de partida: Portugal. É Hora! Decidi, então, ir pela tendência que mais observei nas respostas: Tailândia! Como me revi em muitos dos desejos dos meus colegas, vou partilhar sobre um dos momentos entre as minhas passagens pela Tailândia.
Confesso que a Tailândia não era o destino que esperava ver tão votado no referido post. Considerava que já era um país tão explorado que quase me atrevo (e atrevendo de imediato) a dizer que tanto esmagámos como amámos a terra dos budas gigantes e dos mercados flutuantes. Nos últimos sete anos tem sido muito comum ter o postal tailandês nos frigoríficos de pessoas de várias idades. Aliás um dos destinos de lua de mel, em que o amor se casa numa praia singela e com a vontade magnânima da lua de Outubro: casamento e amor económico, mas com um exotismo vibrante. Se está a preparar a viagem para a Tailândia, saiba que é destino de todo o Mundo. Seguro para famílias e para um desejo mais individual. Eu fui sozinha vários dias, sendo que lá voltei, após quatro anos, uma segunda vez. Mas foi uma paragem breve … de horas. Permitam-me a comparação: sabem aquela paragem cardíaca que tem tudo para ser mortal … mas graças a ela é que revive como uma fénix? Pronto, a minha segunda vez, na Tailândia, foi assim.
O itinerário mais comum e económico é com paragem "alongada" no Dubai. Depois entra nas maravilhas douradas e na sonora (por vezes confusa) alma tailandesa, primeiro Bangkok. E quando penso em "confusão tailandesa" recordo-me da Rua da Rosa. Famosíssima, em que todos têm de lá passar: vê-se de tudo. Prepare os olhos! Eu aconselho vivamente a alongarem a paragem (esta não é a metáfora da reanimação ‘cardíaca’) no Dubai e explorarem, mesmo, todo esse Emirado. Das duas vezes no Dubai, não me deixo de sentir fascinada com a memória da elegância dos edifícios e com o brilho dos seus exteriores. A praia escalda, a roupa não se pode tirar para mirar o mar com alma e corpo. Claro que tem praias privadas, em hotéis, diria, miraculosos. Aqueles que lavam a alma e nos educam sobre "desenvolvimento". Só senti isto, sem praia, em Singapura. Os ‘souks’ de ouro ou especiarias… as zonas tão estratificadas no Dubai.
Aquela corrida estilo "safari" nas dunas do deserto em que quase tive convulsões dos músculos do corpo. Eu, dentro de um carro, com um motorista tão impávido que me fazia confusão ele nem piscar os olhos de cada vez que eu gritava porque achava que ia morrer em cada curva. E eram só saltos e curvas até chegar a uma tenda no meio do deserto com camelos todos bem adornados, um baloiço sob o pôr-do-sol, um espetáculo variado e muita comida. Eu estava com tanto sono naquele final de dia, mas aguentei-me, entre o vento quente do Médio Oriente, pois queria chegar à Tailândia. Mais, subi a um ponto alto do deserto e retirei o lenço da cabeça. Acenei ao céu, ajudada pelo vento e pela areia que se levanta ali devagarinho. Foi como uma oração em que Deus é de facto o mesmo para todos, até para os não crentes. O meu lenço no ar era uma bandeira de conquista sentida.
E de lá fui, sim, para a Tailândia. Dicas: quem não conseguir usufruir algumas noites no Dubai e fizer um raide de 48 horas, fique a saber que pode tomar um duche descansado nas toilets do aeroporto colossal do Dubai. Naquele silêncio quase hoteleiro. Não é o banho divinal (claro que não!), mas as instalações são completamente imaculadas, limpas. Um duche que serve bem para a próxima travessia de cerca de sete horas! Lembre-se que até aqui já contou outras sete horas. Não tem mal acrescentar horas à nossa vida quando é para viajar. E, já agora, nunca pensaram que cada vez que desafiamos o fuso horário estamos a compreender as leis da Física e vivemos mais do que os não viajantes de longo curso? Vivemos mais, mas mantemos a mesma idade. Contudo a pele envelhece um pouco mais, sim está comprovado. Dá que pensar. Dá vontade de desafiar as leis do tempo e da física. A teoria de tudo.
E perceberam agora porque me demorei a fazer o câmbio para uma corrida de táxi de 700 baht (valor justo! Regatear é ordem e é engraçado!) para entrar em território tailandês? É que têm mesmo de aproveitar o tempo de paragem no Dubai. Praia, deserto e luxo. Escolham, vivam! Tal como disse no início vou focar-me num dos aspetos que sorvi na Tailândia. Ma verdade acho que há duas Tailândias. A calma e serena como o ambiente que se encontra na cidade antiga Ayutthaya. E a alucinante e atarefada Tailândia com o seu centro de templos cheios de ouro, de respeito por Buda, de filas turtísticas (não agora por causa do vírus do Mundo) e de mercados flutuando. Sobre isso tudo conto, no próximo ‘voo’ por aqui!
Longe da capital, precisamente em Ayutthaya , eu vivi um momento tão bonito que vou tentar descrever. Depois de esperar um bocadinho e nervosa pelo que se avizinhava, entrei na caverna do tigre. Sempre ouvi falar deles e da Tailândia. Sim, eu sei que vão logo pensar que os homens drogam os animais e fazem-lhes mal. Mas, apesar de aquele tigre enormíssimo estar sereno quimicamente, foi-me dito que ele e os companheiros são amestrados para nos receberem. E ele estava bem acordado e rosnava! Eu pensei que se tinha percorrido estradas e mais estradas até ali, não ia agora ter medo. Inspecionei se ele estava bem tratado. Ele era luzidio das orelhinhas às patas. Muito bem alimentado e deitado como se fosse um rei Romano.
Sentei-me ao lado dele, com receio claro!, e comecei a tocar-lhe no dorso, depois na barriga. Ele abriu os olhos verdes na minha direção e eu abri os meus. Senti-me quase o Capuchinho Vermelho! Mas, depois ele continuou a aceitar as carícias e ia rosnando ou respondendo a cada toque. Tinha o pelo mais macio que já sentira. As riscas lindas dele, os dentes luminosos, as orelhas imparáveis enquanto me ouvia e me sentia. Seria instinto selvagem, o mesmo instinto que temos quando um estranho nos observa por sermos tão diferentes. Eu falei com ele (“Gosto de ti, obrigada por estar aqui contigo. Espero que te tratem bem.”) e ele ‘rosnou’, senti-me numa fábula ou quase nas crónicas de Nárnia. Não era um leão mas teria a força de um. Ele levantou a cabeça antes de eu me ir embora e eu não consigo completar esta sensação a não ser com a palavra ‘Gratidão’.
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