Ilulissat é o nome da terceira maior cidade da Gronelândia, mas que na década de 80 e 90 não passava de mais uma vila piscatória, que de Verão, quando os gelos polares derretiam, via a sua baía encher-se de gigantescos icebergs libertados por um dos glaciares mais profícuos do mundo. Os icebergs atraíram os primeiros exploradores e trekkers dos tempos modernos e a beleza da costa de Ilulissat invadiu o mundo.
Desde essa altura, muitos têm sido os turistas que chegam anualmente para conhecer a maravilhosa baía de Disko mas, estranhamente, a Gronelândia não faz ideia dos seus valores já que até ao momento não há qualquer estatística do turismo no território.
A sul de Ilulissat, no fiorde homónimo, desagua o Kujaleq Sermeq, também conhecido por glaciar de Ilulissat, um dos glaciares fora da Antárctida com maior perda de massa por calving (queda de icebergs). O calving do glaciar é tão intenso que os glaciólogos estimam que ele perca 35 km3 de gelo por ano, o equivalente a 20 mil toneladas por dia.
Um glaciar tão produtivo, a poucos quilómetros da costa, tem necessariamente que libertar estes gigantescos icebergs para o mar. Mas, na parte final do Ilulissat, no chamado Ilulissat Kangerlua, existe uma moreia submarina que reduz a profundidade do fiorde de 1500 m para cerca de 250 m, o que concede características ímpares para a preservação dos icebergs dentro do fiorde.
Como os icebergs que são libertados pelo glaciar são gigantescos, eles vão flutuando no fiorde até alcançar a moreia submarina. Nessa altura, porque 9/10 do iceberg está submerso, só os icebergs com menos de 250 m de massa emersa conseguem passar a moreia e entrar no mar. Os maiores icebergs concentram-se junto à moreia submarina, que funciona assim como uma barreira. Os gigantescos icebergs concentram-se durante semanas, meses e às vezes anos no fiorde gelado, esperando que se derretam e que atinjam uma dimensão que lhes permita avançar para o mar. O resultado?
Bem, o resultado destas características geomorfológicas do terreno é o Ilulissat Kangerlua, ou seja, o fiorde gelado de Ilulissat, um fiorde completamente preenchido por icebergs de dimensões monstruosas e que para os mais desatentos se confunde com o glaciar.
Para chegar a Ilulissat, vindos de Qasigiannguit, a cerca de 50 km a sul, tivemos de atravessar o fiorde, contornando os icebergs que bloqueavam a passagem. Mas, nesse dia, fomos duplamente abençoados: tínhamos sol e tínhamos o fiorde e o mar gelado devido a um enorme calving num dos icebergs aprisionados na barreira. Durante mais de uma hora, o nosso pequeno barco cruzou o fiorde completamente preenchido por icebergs e gelos partidos em suspensão nas águas. O barco, de pequenas dimensões, tinha que criar os seu próprio percurso, empurrando icebergs e placas de gelo. O sol e o céu azul exibiam todo o esplendor da paisagem, algo que não voltaríamos a ter nos dias que passamos na baía de Disko.
Apesar do sol e da lenta progressão do barco, o vento e o frio eram cortantes. Porém, não resisti e passei o tempo todo no exterior do barco, tentando eternizar aquela beleza através das fotografias e de pequenos vídeos. Nunca estas fotos ou vídeos poderão mostrar aquilo que vi ou senti mas, como sempre, as fotografias têm a vantagem de nos fazer viajar anos depois para os nossos antigos sentimentos e memórias.
Chegados a Ilulissat, instalámo-nos e aproveitamos para conhecer a cidade e assistir ao pôr-do-sol na igreja de Zion. Nos dias seguintes, exploramos o fiorde gelado de Ilulissat fazendo treks, nomeadamente o trilho amarelo, que consideramos o mais bonito, o azul e o vermelho. De todos eles há bonitas panorâmicas sobre o fiorde gelado e preenchido por icebergs, mas nenhuma que consiga competir com aquele dia em que atravessamos o mar e o fiorde completamente preenchido pelo gelo.
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